Passo a explicar: a minha filha, cinco anos acabados de fazer, anda em ânsias para que lhe caiam os dentes de leite. Uma coleguinha da escola, a quem já caíram dois, resolveu contar que tinha sido visitada pela fada dos dentes, que levou os ditos e deixou moedas de presente. Ora a minha filha linda, que de parva não tem nada, já percebeu que a queda dos dentes de leite vai significar uma entrada significativa de dinheiro no seu mealheiro. E está que não se aguenta. Chegou ao ponto de andar constantemente a mexer nos dentes (a forçá-los, na verdade), para ver se eles começam a abanar.

Já fiz saber que a nossa casa é terreno proibido para fadas, gnomos, elfos, unicórnios e afins. Tudo o que sejam criaturas fantásticas não entram. Expliquei que não abro a porta a fadas que não conheço de lado nenhum. E diz-me ela, toda espevitada: ó mãe, a fada é tão minúscula que entra pelo buraco da fechadura. (Toda a gente sabe que os miúdos têm uma capacidade gigantesca de nos puxar pela imaginação e pelas alternativas inteligentes). Argumentei com o facto de deixarmos todas as noites a porta trancada com a chave posta - desta forma a fada já não cabe. E a minha miúda, claro, rapidamente engendrou alternativa: se o Pai Natal cabe na chaminé, a fada, que ainda por cima é minúscula, também cabe. Ora bolas... lá se vai o meu argumento.

E isto tudo para dizer que tornámos os nossos filhos em miúdos com elevadíssima capacidade de negociação. Chantagistas, alguns (porque os “compramos” com acções deles - “se fizeres os trabalhos de casa deixo-te jogar na Playstation”, “se me deres um beijinho dou-te uma goma”, e por aí adiante). Não me chateava nada que os meus filhos não acreditassem em fadas, duendes, elfos, unicórnios, Pai Natal, rena Rudolfo e quejandos. E não me chateava mesmo nada que os dentes da minha filha caíssem a seu tempo, sem “ajudinhas” dela, que está ansiosa por uma fada que é uma fantasia que não sei mesmo se vou alimentar...

 

Lénia Rufino

Veja mais crónicas AQUI