Sou ainda menos fã de que as pessoas se auto-nomeiem “tias” dos filhos alheios. Acho que se abusa do estatuto e que se perde um bocadinho o significado da relação.

Acontece que, por azar e com muita pena minha, não tenho irmãos. Não foi por falta de insistência da minha parte! Desde muito pequena que me lembro de pedir aos meus pais um irmão. Mas como já nessa altura era esquisitinha (para não dizer caprichosa!), pedia um irmão mas especificava: rapaz e mais velho que eu. Difícil, não é?

Bom, não tenho irmãos mas tenho um Melhor Amigo (assim mesmo, com maiúsculas!). É aquele amigo que veio a reboque de um namoro que correu mal (era amigo do tal ex-namorado e foi assim que nos conhecemos) e que, de conhecido de café passou a amigo, de amigo a confidente, de confidente a afilhado de casamento e daí a padrinho de casamento e a padrinho da minha filha. É a pessoa que, para mim, é um irmão. Não tenho termo de comparação porque não sei o que é o amor fraterno, mas calculo que seja isto: quero o melhor para ele, sorrio e choro com ele, sou ombro e aproveito o ombro dele, estamos sempre “lá” um para o outro, mesmo que passem meses sem nos vermos.

E ele, este irmão-por-empréstimo, foi pai aqui há dias. Ainda antes de nascer a miúda confessei que me sentia um bocadinho tia dela (sendo que ela tem dois tios verdadeiros, um de cada lado). E ele disse que, quando me apresentou à mulher, lhe disse que eu era como se fosse irmã. Assumiu-se o tratamento por tia/sobrinha e é isso mesmo que sinto. Gosto desta boneca como se fosse mesmo minha sobrinha. Andei ansiosa à espera que nascesse. Assim que pude pus os pés ao caminho e fui conhecê-la. E inundei-me. Hei-de mimá-la e cuidar dela como se fôssemos família. Porque, na verdade, somos. Só não temos sangue comum.

 

Lénia Rufino