O meu filho acaba de fazer dois anos. Olho para ele e vejo um doce em forma de gente. Lembro-me muitas vezes de como passei toda a minha vida convencida de que só ia ter meninas - venho de uma família onde as mulheres imperam e sempre estive habituada a conviver com muitas mulheres.

Quando fiz a ecografia do primeiro trimestre fiquei em choque. Não estava preparada para ouvir o médico dizer que não garantia, mas que achava que era um rapaz. Idiotice minha, obviamente! Ninguém no seu perfeito juízo se esquece de que uma gravidez é uma espécie de lotaria com 50% de hipóteses para cada lado... Passei o resto da gravidez a habituar-me à ideia. Já havia uma menina, eu já estava naquele registo cor de rosa e achei que ia demorar muito a incorporar aquele novo papel de mãe de um rapaz.

Nunca tive medo de não vir a gostar dele da mesma forma que gostava da irmã. Sei que é uma dúvida comum, um medo recorrente, mas já tinha falado com muita gente que tinha mais do que um filho e todos me diziam a mesma coisa: o amor não se divide, multiplica-se. O meu medo tinha somente a ver comigo: seria eu capaz de educar um rapaz, estando tão habituada e formatada para o universo feminino?

A resposta foi chegando com os dias. Em bebés, não há diferença rigorosamente nenhuma (além da diferença física óbvia!) entre rapazes e raparigas. Cuidar de um recém-nascido rapaz é igual a cuidar de uma menina. Depois, à medida que ele foi crescendo, fui percebendo que ele próprio nos foi guiando. Não separamos o rosa do azul cá por casa: ele brinca com bonecas, ela joga à bola. E o contrário também acontece. Apostamos na partilha: tudo é dos dois, cada um brinca com o que lhe apetece. Depois ele tem reacções tipicamente masculinas - dá uns urros guturais de vez em quando, à homem das cavernas - e ela é uma princesa em ponto pequeno.

Já não me imagino sem ser mãe de um rapaz. Ter este homenzinho pequeno na minha vida e no meu coração tem sido, mais que uma felicidade, uma verdadeira bênção.