Sempre fui uma pessoa de datas. Gosto de qualquer motivo que sirva para simplesmente comemorar a vida. Aniversários, Natais, Passagens-de-Ano, Carnavais, Halloween’s, Dias da Árvore, Dias da Mãe e afins. Se eu pudesse, todos os dias serviriam para celebrar, com grande pompa e circunstância, os mais ínfimos detalhes da nossa (curtíssima) passagem por este planeta.

Acontece que há alturas em que a vida nos troca as voltas. E os planos de comemorações e diversão são totalmente deitados por terra. O fim-de-semana passado foi exemplo disso.

Celebrar a vida dos meus filhos e a grandeza das crianças não é, obviamente, coisa para ser recordada apenas uma vez por ano. Mas desde que sou mãe que o Dia da Criança tem um sabor especial. Então, e como habitual, tinha programado para este dia 1 de Junho um itinerário de atividades e diversões que garantidamente iriam fazer as delícias dos meus filhos.

Até que tudo mudou quando madruguei com a minha filha mais velha, de cabeça enfiada na sanita, a vomitar tudo aquilo que já não tinha no estômago. Um cenário que se repetiu ritmadamente pela manhã fora, deixando-a febril, prostrada e suplicando-me pelo conforto da cama, de onde não queria sair.

Numa casa com quatro filhos, e em que os apoios são mais escassos do que o desejado, é quase impossível não condicionar a vida de todos quando apenas um adoece. Valeu-me a enorme bênção de, talvez pela noção de sermos um núcleo “inseparável”, nenhum dos mais novos ter ficado especialmente desiludido com o facto de as tão prometidas surpresas terem ficado canceladas. “Coitadinha da mana…”.

Mas eu fiquei incomodada com a situação. Este Dia da Criança parecia não querer ser um dia especial. Estava simplesmente a ser um dia semelhante a todos os outros. Os mais novos a brincar na rua com os vizinhos, a do meio a saltitar da televisão para o embalo dos meus braços, a mais velha a alternar entre o sofá e a malfadada casa de banho. E eu a imaginar-nos no meio da natureza, dos insufláveis e do teatro que previa fazerem parte deste nosso dia.

Até que nos aninhámos os cinco no sofá, ajeitados uns nos outros com aquele conforto que só a grande intimidade nos oferece, e nos permitimos ali ficar, simplesmente em nós, a ver um daqueles filmes de que os miúdos tanto gostam. As respirações sintonizadas, os braços entrelaçados, as cabeças encostadas num total desapego de tudo o que se passava lá fora. Eu e eles, sem que mais nada nem mais ninguém interferisse neste amor apaziguador e impossível de roubar. E foi aí, nesta normalidade absoluta, que me apercebi do quão especial estava a ser o nosso Dia da Criança. Eu, eles e aquela união inabalável.

No fim do dia, a fotografia da praxe, para mais tarde recordar a memória de um dia em que, tendo tudo para ser igual aos demais, me permitiu perceber que os dias especiais são conseguidos com muito pouco. Apenas com amor. Nada mais.

Alda Benamor