Vou usar o meu caso prático que, a bem da verdade, é o que conheço melhor. Tenho uma cria com quase cinco anos ("ó mãe, falta quanto para eu fazer anos??") que entrou este ano para o pré-escolar. O horário é das nove às quinze.

Durante estas seis horas há atividades, brincadeira e almoço. Ou seja, durante estas seis horas, há um esquema que é cumprido: fazem os trabalhos que a educadora programa, aprendem a estar em grupo, a estar sentados a trabalhar. Depois brincam, jogam, vêem livros. Vão ao recreio onde pulam e correm como todos os miúdos.

Às três da tarde a minha filha já tem um período de seis horas em que as regras foram rainhas. Quando chega a casa... brinca. Faz plasticinas, faz jogos, desenha, pinta com aguarelas. Às vezes jogamos dominó ou fazemos um bolo a meias. Brinca com o irmão ou vamos passear. A única actividade extra-curricular que tem é a natação, onde vai duas vezes por semana. Quis que ela fizesse um desporto e este foi o eleito. Ela adora a piscina, adora o professor, adora o que já sabe fazer. De resto, o tempo é livre de obrigações. Claro que há regras: a televisão é doseada, por exemplo. Mas quero que ela tenha tempo para brincar, para ser simplesmente uma miúda de quase cinco anos. Tem tempo para andar atolada em coisas para fazer, para estudar, em sítios para ir. Tem tempo para ser mais velha quando... for mais velha.

Acho que se aprende muito a brincar, quer a solo quer com companhia. Há brincadeiras que são verdadeiros laboratórios sociais e que ensinam aos miúdos algumas noções que são a base da convivência sã em sociedade. Se tiver que escolher, prefiro ter crianças pouco stressadas. A pressão das actividades, dos horários, dos objectivos a cumprir pode ser positiva, no sentido em que pode fazer deles miúdos competitivos e empenhados, mas também tem um lado negro: exigir demais de crianças que são apenas isso - crianças.

Portanto, lá em casa somos pela brincadeira: rebolamos pelo chão com os miúdos, imitamos personagens, contamos histórias. Usamos a brincadeira para ir incutindo regras e é bom ver que eles são felizes assim, a serem crianças na idade certa para isso.

 

Lénia Rufino

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