Este papel é o maior desafio da sua vida?
Sem dúvida. Profissionalmente nunca tive nada que chegasse perto.

Como é que surge este convite?
Estava a fazer ‘O Melhor de La Féria’, no Casino Estoril, e ele desafiou-me para esta personagem. Já tinha trabalhado com o Filipe em ‘Sábado à Noite’, depois estivemos uma série de anos sem trabalhar, mas estava sempre na televisão ou a fazer teatro com outras pessoas...

Já tinha experiência de teatro, afinal?
Fiz várias coisas, fui protagonista do ‘Fame’ e estive dois anos no Parque Mayer como segunda figura.

Mas as pessoas conhecem-na e identificam-na como cantora…
Mas o meu curso é de Teatro. Fiz a minha formação na Escola de Teatro de Cascais.

Quando o Filipe La Féria a desafiou para este espetáculo teve medo ou veio de braços abertos?
Vim de braços abertos porque se ele me estava tirar do Casino, onde me sentia tão bem e a fazer um trabalho tão bom, é porque confiava. E, como ele confiava, fez-me confiar também.

Gostou do guião de “Judy Garland”?
Apaixonei-me pelo guião quando o li a primeira vez, mas fiquei em pânico. Falei com o Filipe e disse-lhe que não era capaz, mas ele garantiu-me que sim, que eu era capaz. E aí atirei-me de cabeça.

O Filipe continua com mau feitio nos ensaios?
É mentira. Ando a dizer a toda a gente que estou aqui só para acabar com essa reputação. Foi muito tranquilo e amoroso comigo e até me deu algumas benesses...

Qual tem sido o ‘feed back’ deste trabalho?
Tem sido muito positivo. Até estou assustada: ninguém diz mal! (risos). Tem sido uma boa recompensa para mim e para os meus colegas porque nós trabalhámos mesmo muito para pôr o espetáculo em cena.

O trio, Vanessa, Hugo Rendas e Carlos Quintas, funciona na perfeição?
É um trio perfeito. Sou tão abençoada por ter estes colegas, que ninguém imagina...

Depois de dar vida a Judy Garland quer continuar a fazer teatro?
Nunca mais quero parar. Passei os últimos seis anos da minha vida a fazer teatro musical e adoro. Como costumo dizer, nasci para trabalhar e é assim que sou feliz.

Quando não está no teatro, de segunda a quarta, faz o quê?
Descanso e faço outras coisas. Gosto sempre de fazer outros projetos ao mesmo tempo para não ficar aborrecida com nenhum.

E não se diverte?
Claro que sim. Aproveito para estar com os meus amigos e com a minha família (e chama a atenção para uma parede forrada de fotografias no camarim do teatro). Para mim os meus amigos são a minha família e, graças a Deus, são muitos! (E mostra derretida a fotografia dos dois sobrinhos, duas crianças lourinhas, filhos da irmã mais velha.)

Quantos irmãos tem?
Do meu pai e da minha mãe são três meninas, e do meu pai e da minha madrasta, mais dois.

Na sua família há outros artistas?
O irmão do meu pai é fadista e a minha avó também cantava. Devo ter herdado algum talento deles.

A sua família já veio vê-la ao teatro?
O meu pai ainda não conseguiu vir, mas a minha mãe, as minhas irmãs e as minha tias já vieram e adoraram.

Continua casada?
Já não. Mas tenho um namorado com quem estou muito bem.

Ainda não teve filhos. Gostaria de ter?
Não, porque vivo para trabalhar. E se há coisa que eu amo é crianças, os meus sobrinhos são a minha vida, mas respeito tanto esse amor que não quero ter filhos para a minha mãe criar. Só terei um filho no dia em que puder parar a minha carreira para o criar.

Porque tem tantas tatuagens?
Porque gosto e faço-as em fases que representem alguma coisa. Gosto muito mais de ver o meu corpo assim pintadinho do que sem nada.

E se um dia se arrepende, não tem medo disso?
Não vou viver assim tanto para ter tempo de me arrepender. Acho que não me vou arrepender e não tenho mais porque a minha profissão não deixa.

O que lhe dá mesmo prazer na vida?
A minha família. É tudo o que eu mais amo. E quando digo família também incluo os meus amigos.

Qual é o seu maior sonho?
É poder fazer isto sempre até ao fim e ver o reconhecimento do meu trabalho.

Essa voz grossa é a sua ou é uma voz trabalhada?
É uma voz trabalhada. Está assim porque trabalhei-a estes três meses para que ficasse assim, ou seja trabalhei o músculo para a voz ficar mais grave, e agora é assim que fica enquanto estiver a fazer este papel.

Tem bom feitio?
Acho que sim, embora seja muito direta. Sabe o que é que eu acho? Como tenho a boca muito grande, não levo desaforo para casa. Respeito a opinião dos outros como gosto que respeitem a minha, mas faltas de respeito, sobretudo no trabalho, não aturo!

O seu meio profissional é muito competitivo?
É, mas eu só sou competitiva comigo própria. É por isso que há coisas que me fazem muita confusão.

O que aprecia mais nas pessoas?
Honestidade. Não peço mais nada.

E o que odeia?
Hipocrisia.

O que gosta mais em si?
A frontalidade.

Um sonho de consumo?
Uma casa muito grande para ter muitos cães e muitos gatos.

Tem animais em casa?
Tenho dois gatos e um cão mas, se pudesse, tinha 40 ou 50. Gosto mesmo muito de animais!

Gasta o seu dinheiro em quê?
A comer e a viajar. Cheguei esta semana da Disney.

Já sabe onde vai passar férias este ano?
Estive 13 anos sem férias. Só faço escapadinhas de dois ou três dias, mas este ano, se tudo correr bem, vou parar um mês e vou com o meu namorado fazer a ‘route 66’ nos Estados Unidos, a estrada que atravessa a América de costa a costa.

Está numa boa fase da sua vida?
Estou em paz!

(Texto: Palmira Correia)