Qual a maior diferença entre nós e o povo brasileiro?
A
educação das pessoas. Nós, brasileiros, somos muito mal-educados e a
Imprensa não respeita a vida pessoal dos artistas. Aqui não são tão
indelicados.
Onde gostava de ir, durante a sua estada em Portugal?
Meu Deus, a tanto sítio! Gostava imenso de ir a Sintra, ao Algarve, a Tomar. E quero ir ao Santuário de Fátima.
Tem algum pedido especial para fazer a Nossa Senhora?
Só vou agradecer, porque só tenho coisas boas na minha vida. As coisas más vêm e vão e desintegram-se no espaço.
Como é que consegue manter-se tão bonita? Qual é o seu segredo de beleza?
No dia em que eu descobrir, vou dizer a todos qual é o segredo e vou
colocar num frasco. Depois vendo como "as pílulas Susana Vieira"
(risos). Não tenho segredo nenhum. A minha vida é um livro aberto, mas
há uma coisa que eu não faço, que é comer açúcar. Não como açúcar de
maneira nenhuma. Nem glicose, nem sacarose, nem frutose. Mas ainda
assim eu não acredito que seja só isso. Acredito que seja também
genético. O meu pai tem 93 anos e as minhas avós morreram todas com
quase 100 anos. Como de tudo e não entro naquelas dietas de alface,
porque não sou nenhum coelho. Vou ao ginásio duas vezes por semana.
Quando eu era mais nova, isso não existia, mas agora não há ninguém que
não frequente. É o que se chama a ditadura da magreza. Eu costumo dizer
que, no Brasil, as pessoas têm que ter obrigatoriamente toda a vida 38
anos e vestir o número 38. Isso é verdadeiramente impossível, mas
fazemos o melhor para chegar ao meio-termo.  
Veio com o seu namorado, Sandro Pedroso. Onde vai levá-lo a passear?
Bem, nós não viemos propriamente fazer turismo. Ele está aqui comigo
para receber as homenagens, o respeito e o amor do público. Queria que
alguém da minha família participasse disso. É importante ele estar aqui
comigo a partilhar. Estou feliz quando tenho alguém ao meu lado com
quem possa dividir esta felicidade.
A Imprensa brasileira revelou que ele está a fazer testes para entrar numa novela. É verdade?
Ele é um actor que está a começar a carreira. Acabou de se formar na
escola de São Paulo e é um actor à espera de uma oportunidade. Os
testes são um processo normal para qualquer actor que esteja a iniciar
uma carreira. Ele tem 25 anos, por isso tem a vida toda pela frente.
Como é que lida com essa diferença de idades?
Nenhum de nós se importa com isso. Eu acho que quem não lida com isso é
a sociedade preconceituosa. Quando conhecemos uma pessoa, a primeira
pergunta que fazemos não é "que idade tens?". Os preconceitos existem
na cabeça das pessoas. Se eu tivesse algum preconceito de idade, não
iria namorar com uma pessoa de 25 anos. Não tenho nenhum problema com
nada na vida, a não ser com a desonestidade, a infidelidade e com tudo
o que é negativo e que está errado. Para mim, a vida é carinho, amor e
respeito.
A Imprensa brasileira não lhe dá descanso?
A Imprensa brasileira devassa a nossa vida. Deixa-nos "peladas". Mas eu
não tenho nada a esconder. Lido com a Imprensa com a maior franqueza.
Se alguém falou alguma coisa de que eu não gostei, reajo. Se sair
alguma coisa de que eu gostei, então estou disponível o tempo todo. Não
preciso que a Imprensa me adore para ser alguém. Tenho 47 anos de
carreira, por isso não tenho medo da Imprensa. Tenho que ter medo do
imposto de renda, se de repente aumentar (risos). Não me escondo de
nada nem ninguém.
Como é que consegue superar as coisas más tão rapidamente?
Não tenho tendência para ser uma mulher infeliz e deprimida. Detesto
pessoas deprimidas e que se queixam da vida. Adoro rir e brincar.
Supero tudo porque sei que a vida é feita também de coisas
desagradáveis. E como comigo acontecem poucas vezes, as que acontecem
tenho de aceitar. Tenho uma vida muito tranquila e cheia de vitórias.
Sempre foi assim?
Sempre. Acha que depois de velhas é que as pessoas vão mudar? (risos)
Sempre tive alegria de viver. Adoro o que faço e trabalho com muito
prazer. Adoro televisão e adoro fazer novelas, mas ao mesmo tempo adoro
ir à praia, ao cinema. Sou uma actriz muito respeitada e valorizada no
meu país, mas tenho gostos comuns a toda a gente e a minha felicidade é
muito banal.
Será por isso que o público se identifica muito consigo?
Claro que sim! Não há dúvida. Até porque eu saio à rua e falo com toda
a gente, inclusive com os cães. Não me distancio de ninguém. Nem de
mendigos nem de presidentes da República. Outro dia estive em Brasília
a fazer o lançamento de uma campanha contra a Sida na terceira idade e
estava nervosa porque ia conhecer o Presidente Lula. Estava numa sala à
espera. Ele entrou e disse: "Minha actriz preferida, levei 30 anos para
te conhecer!". E eu respondi: "Pois eu levei trinta anos a votar no
senhor e ainda bem que chegou lá!". Enfim, não fico constrangida com
ninguém nem com nada.
Sabemos que vai editar um livro. Pode adiantar alguma coisa?
Sim, é verdade. Fui convidada a escrever um livro de crónicas, mas
ainda não comecei. Não é a minha biografia. São crónicas como as de
Miguel Falabella e de outros tantos actores. São opiniões nossas sobre
o dia-a-dia, os absurdos, as injustiças, os dramas ou as comédias. Não
será um livro da minha vida, porque a minha vida já está contada em
todas as revistas de "fofocas" do Brasil. Ainda não consegui parar para
escrever esse livro. Talvez quando for bem velhinha. No entanto, tenho
a impressão que esse dia nunca vai chegar porque eu vou sair da pista
de dança directamente para o cemitério!
Identifica-se especialmente com alguma personagem que tenha interpretado?
Todas têm um bocadinho de mim. Todas as mulheres bravas e
temperamentais são a minha cara. As calmas, boazinhas e pacatas - isso 
não sou eu!
Qual vai ser o seu próximo trabalho?
Tenho um contrato com a Globo e o que vem só pode ser coisa boa. Gosto
de fazer novelas e séries, porque adoro trabalhar durante horas a fio.
Trabalho durante toda a semana, menos ao sábado e ao domingo. Eu aceito
tudo o que vem da Globo com o maior prazer. O meu próximo trabalho,
quando voltar ao Brasil, é gravar "Os Trapalhões" com Renato Aragão.
Fazer novelas é a sua vida?
Sim, e detesto ficar sem trabalhar. A Globo é o meu "colégio", como eu
digo. É lá que sou feliz e é onde estão os meus colegas. Levo a
lancheira e o meu melhor colega é o José Wilker. Para estar tudo
completo, falta-me ter lá a minha vida pessoal. Assim seria
completamente feliz. Não trabalho motivada pelos bens materiais, porque
vivo bem só com um quartinho, com o meu amor do outro lado da cama.
Quando não está a gravar, tem mais tempo para namorar?
Pois, essa é a única vantagem (risos). Mas se estou a gravar fico mais
ansiosa quando falo com o Sandro ao telefone. E quando não estou a
trabalhar passo o tempo todo a pensar "onde estará o Sandro?" (risos).
Finalmente, aprendi que a vida não é só trabalho.
Nunca pensou trabalhar em Portugal?
Nunca me convidaram, mas eu gostava imenso. Aliás, o ano passado quis
trazer um espectáculo para cá mas não falei com as pessoas certas. Era
um monólogo chamado "Água Viva", de Clarice Lispector, uma escritora
ucraniana que viveu muitos anos no Brasil. Acho que tinha os telefones
errados (risos) porque tenho visto vários actores brasileiros a fazer
teatro cá. Comigo não deu certo.
Tem algum projecto de teatro?
Começo em Julho a ensaiar "A Falsária", de Oscar Wilde, e pode ser que
consiga trazer a peça até aqui. É um espectáculo de alta produção, que
vai ter música e dança. Este era um projecto que o Sandro tinha com uma
escola de teatro de São Paulo. Quando começámos a namorar, ele
perguntou se eu queria fazê-la. Gostei e aceitei. Convidámos também o
actor Dalton Vigh, o "Ferraço" da novela "Duas Caras", a Eva Wilma e a
Carolina Dieckmann.
E cinema? Não gosta da Sétima Arte?
Gostava, mas nunca me convidaram para nenhum filme e acho que já passou
o tempo de isso acontecer. O cinema no Brasil é um ‘lobby' e não me vou
matar por causa disso. Gosto mais de teatro do que de cinema. No cinema
estamos constantemente na mão de um realizador. Perante isso, iria
bater em alguém com toda a certeza (risos). Porque não podemos mexer
nem um centímetro para os lados. Não sou mulher de centímetros, só sei
o que é um metro. Por isso é que me sinto bem a fazer novelas. Duzentos
capítulos, ali todos os dias a fazer a mesma coisa.
Como define esta fase da sua vida?
Acordo feliz e saio para a rua. À noite deito-me e durmo
tranquilamente. Há um samba no Brasil, do Zeca Pagodinho, que diz "Eu
deixo a vida me levar". Comigo funciona assim (risos).
Disse que o Sandro tem que ser corajoso para entrar no seu mundo...
Porque sou muito temperamental. Mas ele é muito doce e muito educado.
É muito apegada à família e aos seus dois netos?
Bem, eu sou uma vovó doida e não vivo com eles porque estão nos Estados
Unidos. Nunca lhes troquei uma fralda, nem nunca vi um cocózinho deles.
Nem quando eram bebés. E agora, que já cresceram, não vou ver nunca
mais (risos). Nunca fui uma avó para tomar conta de netos. As avós do
antigamente perderam metade da vida e eu vou aproveitar a vida até ao
fim. Sou companheira deles para o que der e vier e gasto tudo o que
tenho com a minha família. Não guardo nada. Viajo em 1ª classe e
ficamos em hotéis de 5 estrelas e isso é o que os meus netos, Bruno e
Rafael, mais gostam (risos).
Como se imagina daqui a 10 anos?
Acho que igualzinha ao que estou agora, fisicamente e mentalmente.
Em 12 de Junho comemora-se o dia dos namorados no Brasil. Como tornaria esse dia inesquecível?
Ficava em casa, quieta no meu canto, com o Sandro, a ver um filme. Nós e os meus quatro cães ao lado e um balde de pipocas.
Casamento está nos seus planos?
Não faço ideia, porque essa palavra só me passou uma vez pela cabeça.
Hoje em dia, vivermos juntos é casamento. Mas eu e o Sandro ainda não
estamos a viver essa fase. Cada um mora na sua casa e nós namoramos há
quatro meses, mas parece que eu já o conheço há 40 anos.
Veio a Portugal para entregar um globo de ouro na gala da SIC do próximo domingo. A quem daria este prémio no Brasil?
Talvez ao Presidente Lula, porque consegue resistir à desonestidade
daquele Governo e ao Congresso podre que nós temos. No que toca a
política, estamos na pior das fases!