Veio assistir ao lançamento do livro do seu amigo Cláudio Ramos “O Amor Não é Isto”. Neste momento, a Sónia Brazão tem algum amor?

Neste momento o amor na minha vida está estagnado. Tenho, sim, muito amor da minha família e dos amigos e muito carinho das pessoas na rua, que me têm dado muita força. Também tenho o carinho dos meus médicos, que continuam sempre a apoiar-me. Tenho levado as coisas devagarinho, um dia de cada vez.

E não tem havido espaço para o romance?

Pode ser que neste verão subam os calores… (risos). Não me apaixono facilmente. Para me apaixonar tenho de me encantar. Vou tendo as minhas paixonetas por coisas da minha vida e neste momento estou muito apaixonada pela minha família.

Como se sente nesta altura, três anos depois da explosão no seu apartamento e sete meses após a sentença judicial que a condenou? 

Se me perguntasse há uns anos se eu conseguiria passar por tudo isto dir-lhe-ia, com toda a certeza, que não teria capacidade. Mas o ser humano tem energias que desconhecemos. Tive dias maus, tive dias bons, tem sido difícil, não vou negar, mas cá estou…

Já está com vontade de voltar a trabalhar?

Estou. Foi um abalo muito grande, mas os médicos fizeram milagres e a minha pele está a recuperar muito bem. Portanto, já tenho a minha autoestima mais elevada e gostava de voltar à representação. Gostava muito de começar pelo teatro.

Fisicamente, a Sónia parece recuperada. Ainda precisa de fazer tratamentos?

A pele ainda está a regenerar, ainda está muito frágil, com pouca elasticidade… Isto demora anos. Não posso apanhar sol, tenho que ter muitos cuidados. Continuo a ter o acompanhamento dos meus médicos da Unidade de Queimados, não apanho sol, só posso ir respirar o ar da praia a partir das 17 ou 18 horas e tudo isso tem dado resultado. São, no mínimo, cinco anos nesta recuperação, mas mais de metade já está.

Ao longo deste processo, em que quase perdeu a vida e ainda foi condenada em tribunal, teve alguns momentos de revolta?

Claro que sim. É doloroso, principalmente quando a gente não compreende, quando não consegue perceber cá dentro o que aconteceu e não tem formas de se defender. Há um pouco um sentimento de injustiça. Pela justiça dos homens posso ter sido condenada como negligente. Não digo que não. Mas pela justiça divina tenho a certeza que fui absolvida e essa “sentença”, para mim, é a mais importante. 

Onde foi buscar a força para superar a tristeza e a dor?

Não foi nada fácil ver-me sem cabelo, com os dentes imperfeitos e a pele queimada, ainda por cima sendo eu uma mulher bastante cuidadosa com a imagem, devido aos meus trabalhos como manequim e atriz. Mas encontrei muito amor na Unidade dos Amigos dos Queimados e fui enfrentando todas essas coisas. Assumi o meu cabelo curto – eu que nunca tinha tido coragem de o cortar – e tudo o resto. E com a ajuda da psicoterapeuta e do meu psiquiatra tenho conseguido ultrapassar os problemas, um dia de cada vez.

Sente que é um exemplo de esperança para muitas pessoas?

Deus queira que sim. Nunca pensei que um dia pudesse superar tudo isto. Foi duro. Espero que tenha sido exemplo para alguém. Mas há muitos exemplos de sucesso e de esperança na Unidade de Queimados.

O que lhe custou mais neste processo?

A parte mais importante e a que mais demorou foi a aceitação. Aceitar que a nossa vida mudou de repente e que temos de melhorar. Aceitar a sentença, aceitar o que os outros pensam.

Tem alguma forma de contactar com os seus fãs diretamente, através das redes sociais, por exemplo?

Tenho um blogue mas não sou muito de escrever no meu dia-a-dia nem sou muito de computadores. Entretenho-me mais a pintar ou a ler.

Então, hoje em dia, o seu contacto com o público é mais na rua?

Sim, na rua, nos eventos e através dos meus colegas, pois mantenho muitos contactos com os meus amigos da representação.

Nunca se sentiu abandonada?

Nunca. E o Cláudio Ramos foi uma das pessoas que sempre me defendeu e apoiou. Ele disse-me uma coisa que nunca mais me esqueci, que foi: “Independentemente de tudo, eu gosto de ti e estou do teu lado”. E isso é muito bom de ouvir.

E ouviu isso de muita gente?

Ouvi e senti.