Com presença simultânea em três canais, o Pedro é o humorista do momento. Assim uma espécie de Herman José nos seus tempos áureos…
Nada disso. Nada comparável ao Herman. Falam que estou a fazer isto e aquilo… É um exagero. Estou a fazer o que sempre fiz com o João Paulo (Rodrigues). Faço os sketches de humor para o programa dele na TVI (‘Não Há Bela Sem João’), estamos os dois a comentar o ‘WipOut’, para o +TVI e temos estado sempre juntos. Agora, pela primeira vez, entrei a solo num projeto (‘Feitos ao Bife’, da RTP1) em que estou a fazer coisas completamente diferentes do que nós fazíamos. Pela primeira vez estou sozinho nestas vidas.

O “Feitos ao Bife” da RTP é diferente de tudo aquilo a que está habituado. Qual foi a sua primeira impressão?
Acho que é uma ideia gira, diferente. Somos seis concorrentes a fazer coisas completamente diferentes daquilo que estamos habituados a fazer nas nossas vidas profissionais. É muito divertido. De repente vejo-me a ter que decorar coreografias e a andar de sapatos de tacão alto…

Aos saltos altos já deve estar acostumado porque faz muitas personagens femininas no “Não Há Bela Sem João”…
Faço muitas mulheres, mas é estático. Agora, andar a fazer piruetas em cima de saltos altos não é nada fácil. Mas estou a adorar. Está a ser uma experiência fantástica.

É o fim da dupla João Paulo Rodrigues/Pedro Alves?
Não, não de todo. Por amor de Deus! Nunca na vida. Nem pode… Nós temos um legado de treze anos de espetáculos juntos, de pessoas que nos seguem pelo país todo e, para além de trabalharmos juntos, somos amigos.

Vocês vivem muito do improviso, verdade?
Tudo é improviso, não temos rede nenhuma. Às vezes falamos que se calhar temos uma estrelinha qualquer que olha por nós. Funcionamos bem no improviso, mas também trabalhamos. No fim de um espetáculo podemos ficar duas horas a falar com as pessoas, a tirar fotografias, a dar autógrafos e depois, quando as pessoas nos vêm na televisão, olham e pensam: ‘Olha já falei com eles. Eles são uns gajos porreiros’, o que é verdade, porque nós somos mesmo porreiros… (risos).

São muitas horas de trabalho?
Nós somos animais de trabalho. Passamos quase sete dias por semana a trabalhar. Se não for numa coisa é noutra, se não é nisto é naquilo. E depois ainda tenho a minha empresa de carroçarias para automóveis, que também perco tempo lá. Muitas vezes estamos a gravar o dia todo e depois ainda vamos à noite fazer espetáculos.

Sai do pelo?
Ah pois sai! As pessoas às vezes dizem que gostavam de ter a minha vida, mas não fazem ideia do número de horas que eu trabalho. Nós fazemos uma média de cem, cento e vinte espetáculos anuais, o que dá mais ou menos dois por semana. Aliar isto tudo, a televisão, a família, os filhos… podem crer que sai mesmo do pelo! (risos).

Como é que o Pedro se define? Ator, humorista…
Não tenho definição. Para me definir como ator acho que estou a ser injusto para com os atores; humorista, também estou a ser injusto com as pessoas que escrevem os textos e se preparam para fazer um espetáculo. Se calhar encaixo-me mais no género comediante. É, acho que é mais por aí. Comediante é mais abrangente. Posso fazer um filme de comédia, um espetáculo…

Como é que explica que numa época em que toda a gente se queixa de falta de trabalho o Pedro não tenha mãos a medir?
Vou responder com esta frase: estes são tempos extraordinários para pessoas extraordinárias fazerem coisas extraordinárias. E muito trabalho…

O Pedro foi sempre assim, um brincalhão, desde miúdo? Era o “palhaço” de serviço na escola?
Era sempre o palhaço. Fui muitas vezes posto na rua. Adoro fazer partidas aos meus amigos, embora cada vez seja mais difícil porque eles já começam a estar à defesa. Gosto que toda a gente ao pé de mim esteja bem disposta.

Na rua também é assim?
Sim, embora de há uns anos para cá tenha o cuidado de me conter um bocadinho em público, porque as pessoas nem sempre percebem e podem levar a mal. Tento não extravasar em sítios públicos. Quando estou em casa ou em casa de amigos, ou quando vou para as corridas de automóveis, gosto de fazer partidas a toda a gente.

É muito abordado na rua? Por ser o Pedro ou por ser o “Zeca Estacionâncio”, um dos seus personagens mais populares?
É conforme. Umas vezes Pedro, outras Zeca, outras Telerural. Às vezes chamam-me Quim (Roscas), outras João Paulo… A participação do João Paulo Rodrigues em “A Tua Cara Não Me É Estranha” foi boa porque levou a que as pessoas percebessem que existe um João Paulo para além do Quim Roscas e um Pedro Alves para além do Zeca Estacionâncio. E que somos amigos e que a nossa relação não é só trabalho. Saímos para jantar e para ir beber uns copos, falamos, como todos os amigos fazem.

Quando está num grupo de amigos, sente que eles esperam de si que seja o animador da conversa?
Eu já sou o palhaço de serviço naturalmente. Não é preciso ninguém estar à espera. E os meus amigos também são pessoas muito divertidas. Não conheço pessoas tristes, deprimidas. O meu grupo é uma cambada de brincalhões. Quando estamos juntos é para desligar e para partir. Divertimo-nos em qualquer sítio do mundo. Onde nós chegamos chegou a festa!

Combinam esses encontros?
Temos um grupinho de quatro ou cinco que uma vez por ano se juntam para fazer uma viagem de mota, ou de jipe. Nessa viagem não se leva nem telefone nem nada. Levamos o multibanco e partimos à aventura. Adoro fazer essa semana, seja pegar na mota ou no jipe, fazer uma viagem para Marrocos ou para o Gerês e ficarmos lá uma semana completamente desligados de tudo.

Só homens?
Só homens. Depois temos o resto das férias para estarmos com as nossas famílias, mas nessas viagens é só homens. Precisamos disso e as nossas famílias entendem. …

O Pedro é casado e tem filhos, certo?
Sou casado e tenho dois filhos, um menino de dois anos e uma menina de nove.

E eles vêem o pai?
Claro que vêem. Reclamam imenso, mas normalmente faço uma boa gestão das coisas. Quando decido ter dois dias para os meus filhos, são dois dias a sério, a 300% para eles. Se calhar as pessoas que têm uma vida mais monótona, calma, rotineira, quando estão com os filhos não aproveitam ao máximo porque no dia seguinte estão com eles outra vez, e eu não. Eu tenho uma ânsia enorme de aproveitar ao máximo, de fazer milhentas coisas e tenho a sorte de eles gostarem de fazer as mesmas coisas de que eu gosto. As corridas de carro… tudo. É brutal.

E em casa como é o Pedro? Cozinha, faz a cama…
Já cozinhei mais. Sou extremamente arrumado, muito metódico. Gosto de tudo arrumadinho, o que não é fácil com as crianças … Quando chego a casa e tenho tempo para estar sou o portuga típico: corto a relva, lavo os meus carros clássicos e as motas, vou de mota buscar o pão. Adoro pegar num dos carros e ir tomar o pequeno almoço junto à praia. Sou uma pessoa de coisas triviais.

Tem carros clássicos?
Sim, tenho os carros que sempre quis ter. Não são nada de especial para os outros, mas para mim todos têm uma história, representam momentos importantes da minha vida, da minha infância. Os meus amigos às vezes dizem-me que podia ter um carro melhor, um Porsche… Respondo que só poderia ter um e, assim, tenho várias coisas de que eu gosto.

Qual é o seu sonho maior?
Ser feliz e acima de tudo… ter saúde. É a coisa mais importante que nós temos na vida e às vezes as pessoas não estão muito cientes disso. Eu gostava de morrer antes dos meus amigos todos. Para não ter que passar pela dor de perder ninguém que esteja próximo de mim. Familiar ou amigo.

É um homem de afetos?
Sou. Ligo muito às amizades, às atitudes que tenho. Prefiro que me roubem a que tenham faltas de carácter para comigo.

Essa é a característica de que menos gosta no ser humano?
Sim, faltas de carácter, falsas modéstias… Pessoas que se põem em bicos de pés.

Defina-se usando as letras do seu nome.
P de Pai; E de Estacionâncio; D de Dado, dou-me por inteiro às pessoas; R de Ressonar, ressono um bocado; O de Otimista.

(Entrevista de Graça Martins)