Aos 36 anos de idade, Marta Rebelo mudou de profissão, de regime alimentar e, até, de visual. Deixou a Política e o Direito, criou uma empresa de consultoria de imagem e de moda, aderiu ao vegetarianismo e entrou no clube das louras platinadas.

Comecemos pelo seu novo “look”… Porquê uma mudança tão radical?

As minhas mudanças de visual são sempre radicais. Esta tem cerca de um mês. Houve muitas coisas que mudaram na minha vida. Deixei completamente o Direito e constituí uma empresa de consultoria de imagem e de moda. Coincidiu esse momento com o facto de estar loura. Não foi de propósito mas tem uma ligação. Este é o chamado “silver blond”, que é uma cor tendência do próximo verão. Fartei-me de ver catálogos e quando vi esta cor decidi: “É isto que eu quero!”.

É mesmo verdade que os homens olham mais para as louras? Nota isso desde que mudou de visual?

Noto. É mesmo verdade que eles gostam mais de louras. Há teorias estudadas em universidades de renome que ligam a atração masculina pelas louras à capacidade reprodutiva feminina. Há qualquer coisa no ADN masculino que os faz pensar nas louras como uma continuidade da espécie. Uma pessoa pode ir na rua com um ar completamente normal, sem roupas vistosas ou maquilhagem e, quando somos morenas, em cinco, olham dois. Louras, em cinco olham cinco…

Também decidiu passar a ser vegetariana. Porquê?

Por uma questão de coerência. Adoro animais e, embora reconheça perfeitamente a cadeia alimentar e saiba que os animais não deixam de comer animais, é uma questão de coerência. De me sentir bem com aquilo em que acredito e aquilo que pratico. Era uma coisa em que já pensava há algum tempo e foi acontecendo.

Foi difícil a adaptação?

Deixei de comer carne depois de alguma luta interna. A partir do momento em que passei à prática não me custou nada. Foi, aliás, um processo de enjoo gradual da carne. Custa-me, sim, cortar nos derivados como os iogurtes, a manteiga, etc.. Embora não tenha qualquer intenção de me tornar vegan e de deixar de comer lacticínios e derivados, passei, no entanto, a ter mais cuidado. Mas não há grande oferta no mercado português para iogurtes que não sejam leite de vaca, por exemplo, ou então têm um sabor pavoroso. E eu não tenho alma de sofredora e gosto de comida…

Está há quanto tempo neste processo?

Sem tocar mesmo em carne, desde o Carnaval. Ainda dou umas trincas em peixe mas a ideia é abandonar o peixe também. Entre uma vaca e um peixe não há grande diferença.

Leva esta sua proteção aos animais para outros níveis?

Sim. O ano passado fui, por exemplo, Provedora dos Animais na Câmara Municipal de Lisboa e trabalho com várias associações como voluntária. E depois pratico em casa. Tenho uma cachorrinha, um cão e duas gatas. São os meus “filhotes”.

E ser mãe não está nos seus planos?

Estava, mas tive um problema de saúde nos últimos dois anos e a probabilidade de engravidar é escassa. Mas já fiz as pazes com essa ideia. Tenho uma filha adotiva crescida, na casa dos 20 anos, e já está lançada na vida. Como não deverei ser mãe de barriga, vou cuidando dos meus animais. Isto pode parecer estranho para muitas pessoas mas eu trato mesmo os meus bichos como filhotes.

Entretanto criou a empresa e o blog de moda “Not a Wonder Woman” (“Não Sou uma Mulher-Maravilha”). Qual é o conceito?

Nós vivemos com a pressão de sermos e reagirmos como mulheres-maravilha porque a quantidade de coisas que nos são pedidas para fazer é muito grande. Porém, na realidade, somos todas mulheres normais que fazemos o que vimos as nossas mães fazerem e que as nossas filhas também já fazem. Não me sinto uma mulher-maravilha nem vejo ninguém à minha volta sentir-se. Mas se pensarmos bem… somos! E não tem a ver com peso ou medidas normais. É uma questão de procurar o brilho cá dentro. Portanto, não é preciso sermos mulheres perfeitas para sermos bonitas e fazermos coisas maravilhosas.

Abandonou o Direito e mudou para a consultoria de moda. Acha que agora encontrou o seu caminho?

É uma consequência ter encontrado o meu caminho, não é a causa, é o efeito. Julgo que se estivermos atentos àquilo que a vida nos põe no caminho, acabamos por fazer um conjunto de coisas que passam muito por aprender, relativizar, acalmar e, no fundo, querer ser feliz, porque a felicidade não é um estado, são momentos. Acho que agora até está na moda ser feliz, as pessoas preocupam-se muito mais com o bem-estar, talvez devido ao efeito da crise. Dedicam-se também mais a coisas espirituais e também na moda têm uma postura diferente.

Não se realizava no Direito? Foi uma desilusão para si?

Não foi uma desilusão. Existiam, sim, várias coisas que me “picavam a nuca”, coisas que estavam em suspenso e que eu queria fazer um dia. Foi agora. Quanto ao Direito, até posso considerar que fui uma privilegiada porque tirei muito desta área. Dei aulas da faculdade, fiz o mestrado, especializações, trabalhei no Governo, fui deputada, trabalhei com o professor Sousa Franco, fui advogada… Tive experiências muito intensas em apenas 12 anos.

Quais foram, então, as razões dessa desistência?

Não encaro isso como uma desistência, porque o que eu sei não sai cá de dentro mesmo que fique muito loura e oxigene os neurónios todos (risos). Posso dizer que o Direito está suspenso, sendo que nunca o encarei como uma carreira. Acho que nas nossas gerações as carreiras não existem, é tudo muito mais fluído e instável. Não faço a menor ideia se vou voltar a exercer, sei apenas que agora não é o meu enfoque.