A morte da pequena Luna surpreendeu os portugueses. A menina que se tornou conhecida depois de Mário Augusto dar a conhecer a sua história nas redes sociais, faleceu após três anos de luta contra uma leucemia linfática aguda.

Mário Augusto não ficou indiferente à partida e deixou um recado nas redes sociais:

"Valeu a pena Princesa?

Dou comigo a pensar. Procuro palavras naquele azimute de sentimentos pegajosos das feridas que passam de raspão e doem fininho.

Dúvidas que se nos espetam como as agulhas, escarafunchando no porquê de tudo.

A minha filha Rita foi quem me ensinou a ver as borboletas com outros olhos. O que é a vida senão um voo de borboletas frágeis, sempre ameaçadas por um colecionador que por tanto as adorar, corre atrás delas com uma rede fina, numa força desigual daquele bater de asas. Não é justo. Por vezes não é justo.

Quando lhes acerta com a rede, rouba-lhes a liberdade e a vida. Umas rodopiam no seu bailado de existir, esquivam-se por instinto, fogem do colecionador que vai por ali caçador, leva a eito a vontade desenfreada de apanhar aquelas cores de asas finas.

Egoísmo puro do entomologista, gostar tanto de borboletas que lhes rouba a vida, não as deixando voar.

A Luna (nesta foto que junto ao meu post sentido), ainda guardava esperança, parecia a borboleta indefesa mas que teve que aprender a voar rápido, passou de crisálida a dona das mais bonitas asas que batiam na paisagem de ser.

Veio a rede do colecionador universal e desta vez apanhou-a como se ele tivesse o direito de antecipar uma vida que era curta, breve mas determinada em ver o mais rápido possível o mundo grande. Sei que dizia por fim, não me deixem partir. Quero brincar.

Será que alguém te pode ler, baixinho ao ouvido, o que agora te escrevo Luna?

Terá valido a pena correr atrás da esperança? Mesmo sabendo que ela era como o pó das estrelas que por aí anda em dia de ventania?

Sabes Luna, tenho para mim que por conseguir agarrar uma partícula que seja desse pó invisível, vale sempre a pena, vale a vontade de procurar a esperança. Não desistir é viver.

Nunca vou esquecer o teu nome, o teu rosto, esta carinha de lua cheia que se foi escondendo, perdendo o sol, perdendo o sorriso. Afinal não se conseguiu alterar o ciclo normal de existir feito por ti a correr.

A natureza, o universo, lá sabem porque é que a Lua tem as suas fases e não pode esperar para mudar as marés. Agora que partes, não desistas de na tua inocência sofrida, procurar a partícula da felicidade. Se a encontrares, sopra-a da palma da mão e deixa que ela se misture com o pó das estrelas e que ande por aí nesse fôlego. Quem sabe! talvez toque alguém.

Olha que não faltou vontade, cumpriu-se o que eu pedi há 15 dias atrás, um minuto de pensamento positivo por ti, mas não chegou. Bem se tentou amarrar o sol para te agarrar pela mão a correr, aquecendo o teu rosto na luz absoluta para não te deixar chegar ao quarto minguante escuro e frio. Tu fugiste como quem joga á escondidinha, foste enfraquecendo até não poder mais.

Como a Lua grande, a outra que celebra a noite, tu lá tens o teu magnetismo, a tua força da gravidade que conseguiu juntar em teu redor quase 3 milhões de pessoas, foram as que leram a história do nosso encontro. Lembras-te? O que escrevi enquanto voava ao teu lado e via a aflição desesperada dos teus pais?

Se ainda pudesse, dizia-te, obrigado por me teres feito parar e a olhar para ti. Por nos teres feito refletir sobre o pequeno voo da borboleta de que a vida é feita, leve e frágil.

Bem sei que na tristeza de cada um, há uma certa expiação de ser. Mas porque olhaste para mim, deixaste que beijasse a mão, celebramos um contrato em silêncio que acho eterno. Não te esquecer enquanto a minha memória não se apagar.

Agora que partiste pergunto-me: Valeu a pena?

Acho que sim. Andaste nas bocas do mundo, no sentimento solidário e franco da ajuda que de pequenina se fez grande.

500 mil euros Luna! Meio milhão de euros foi esse número da solidariedade.

De nada te serviu a ti, mas se calhar tinha mesmo que ser assim, outros sorrisos vai ajudar em teu nome. Tal como a Lua, serás o satélite da terra dos meninos que sofrem e descobrem em dor, como se pronuncia essas palavras terríveis, leucemia e cancro.

Se a vida faz de nós o que quer (e digo isto vezes sem fim), contigo e desta vez, ela foi cruel e injusta porque não te deixou brincar.

Vá lá. Agora que és livre, reaprende a voar pequena borboleta, recomeça o teu ciclo sem dor. Deixa-te planar entre o pó das estrelas. O que não se vê pode sentir-se Luna.

Que a dor não deixe o sofrimento dos teus pais enfraquecer mais ainda e que a celebração do teu nome seja sinónimo de vencer mesmo tendo sido tu, aos olhos dos que sofrem, uma derrotada da doença. Vá lá Luna, sobe e voa alto, que sejas aquela brisa que empurra as asas de quem tenta desistir de voar", escreveu.