O português Manoel de Oliveira, que detém o título de realizador de cinema mais velho do mundo e hoje celebra 100 anos de idade, tem um filme secreto escondido num cofre. Essa fita, rodada quando tinha 73 anos, só poderá ser vista depois da sua morte.

O misterioso filme chama-se "Visita ou Memórias e Confissões" e teve como cenário uma casa de família, na Rua da Vilarinha, no Porto - uma vivenda emblemática que Oliveira teve de vender quando ficou sem a fábrica de lâmpadas Hércules que herdou do pai.

Trabalhador infatigável, nem hoje, quinta-feira, dia do 100º aniversário, o velho realizador optou pelo descanso. Pelo contrário, decidiu comemorar a data atrás das câmaras, na rodagem do filme "Singularidades de uma Rapariga Loura", uma história baseada no romance de Eça de Queiroz.

De todos os cantos do mundo chegam, entretanto, mensagens de parabéns ao realizador português. "A sua longevidade é um bom milagre", disse Zhang Xianmin, realizador chinês. "Descobrimos um cineasta com uma obra muito romanesca. Ganhámos o hábito de viver com os filmes de Manoel de Oliveira", declarou o director da Cinemateca francesa, Serge Toubiana. "É um filósofo e um cineasta", definiu o crítico inglês Jonathan Romney.

Por cá, Manoel de Oliveira terá de esperar até ao próximo sábado para receber os cumprimentos do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva. O cineasta vai receber a Grã-Cruz da Ordem Infante D. Henrique, cerimónia a que se seguirá um jantar em sua honra no palácio presidencial.

O realizador atravessou todas as eras do cinema e gostaria de, em breve, filmar a sua autobiografia, embora o seu próximo projecto seja outro: "O Estranho Caso de Angélica", actualização de um projecto da década de 1950.

Autor de mais de 50 filmes, entre curtas e longas-metragens, Manoel de Oliveira nasceu a 11 de Dezembro de 1908, no Porto, e, apesar da avançada idade, a palavra reforma não consta do seu dicionário.