Voltar à RTP é uma satisfação?
É muito giro, sobretudo porque vou ver o meu programa também como
espectador, uma vez que é gravado. Vou fazer uma coisa que não fazia há
muito tempo que é trabalhar para mim...
Meteu uma "cunha" para o programa ser gravado?
Poucas pessoas estavam disponíveis para estar em directo naquele dia e
naquele horário (sábados, a partir das 23 horas). Vamos imaginar que há
um jogo de futebol e a direcção de Programas entende pôr-me à uma da
manhã, com um convidado como o professor José Hermano Saraiva. É
desumano ter um homem de 90 anos à espera que seja uma da manhã para
falar com ele. Se gravarmos a um dia decente, a horas decentes, ficamos
todos a ganhar.
Este é um regresso muito desejado?
Muito desejado... Aliás, é um estado de alma desde a saída de Manuel da
Fonseca e de Emídio Range, fãs e apoiantes do meu trabalho dentro da
SIC. Quando eles saíram da SIC, eu deveria ter saído também. Nessa
altura tentei uma reaproximação com a RTP mas não consegui, porque as
pessoas que dirigiam o canal não morriam de amores por mim.
Chegou a apresentar este projecto a Nuno Santos, quando o actual
director da SIC ainda estava à frente da RTP?

Não. Era outro projecto e toda uma outra conversa. Há cerca de dois anos
lancei a escada a José Fragoso, director de Programas. Expliquei-lhe
que queria muito voltar a trabalhar na RTP e perguntei quanto é que era
preciso pagar... Claro que foi uma forma de falar, porque nunca acredito
nas pessoas que desvalorizam a importância do dinheiro. O dinheiro é
essencial, sobretudo para mim, que tenho uma estrutura que deve ser
mantida... (risos)
Nessa primeira abordagem, José Fragoso deu-lhe uma nega. Ficou
sentido?

Não. Acho que ele teve toda a razão. O que eu adoro no José Fragoso é o
facto de ele ser uma pessoa de palavra. Quando sentiu que era a altura
certa, chamou-me. As nossas ideias coincidem. Ele tem um entendimento de
serviço público que eu também tenho. Não faz sentido vir para a RTP, um
serviço suportado pelo contribuinte, lutar com todas as armas para ter
audiências.
Vai inovar de alguma forma neste programa?
Artisticamente estou mais maduro, por isso, tenho obrigação de fazer
bem. Só aos 50 anos é que uma pessoa fica humilde. É impossível ter 30
anos e ser-se humilde. Eu, com 30 anos, andava a altas velocidades de
descapotável e tinha o mundo aos meus pés como o Cristiano Ronaldo.
Agora valorizo as coisas e coloca-as nos seus sítios.
O que é que a sua mãe lhe disse sobre este regresso à RTP, 10 anos
depois?

A minha mãe quer que eu seja feliz. A saída da SIC foi dolorosa e só um
inconsciente fica aos pulos e aos saltos. Por isso, quando deu conta que
este projecto ia andar para a frente e percebeu que o brilho dos meus
olhos estava diferente e menos triste, ficou radiante. Voltei a ser
aquele rapaz bem disposto...
Ela é a maior critica do seu trabalho?
Uma mãe que gosta mesmo do filho nunca faz juízos de valor. Só nós é que
sabemos o que é melhor para nós.
Dá-lhe conselhos?
Não, ela tem essa elegância. Confesso que a verdade é que também não
deixo... (risos).
Como estão a correr os espectáculos ao vivo por esse país fora?
Melhor do que nunca. Melhor do que nos anos 80 e 90, facto que me deixa
contemplar não precisar de viver da televisão.
Como vê o seu futuro na RTP?
Tenho que conquistar a minha posição. Se perder a oportunidade não há
nada a fazer e ... amigos como dantes. Vou fazer o melhor que sei e não
vou ceder à facilidade. Já fazia falta um programa destes na televisão e
como espectador vou estar ansioso para ver o meu programa.