“Jesus Cristo Superstar” tem o seu nome por todo o lado: participou na tradução, é director artístico, encenador, cenógrafo e figurinista e ainda dá uma mão na direcção de montagem e no desenho de luz. Como consegue ter tempo para tanta coisa?
Trabalho 48 horas por dia! Levanto-me entre as 9 e as 10 e não páro até às tantas. É raro voltar a casa antes das 4 da manhã.
É um ritmo duro...
Trabalhar em teatro, em Portugal, é às vezes muito difícil. Nos meus espectáculos, em que a produção e a montagem dependem em grande medida de soluções técnicas, essas dificuldades podem ser infernais. Não há muita gente, nem há muitas empresas, com know how ao nível das nossas exigências. Por exemplo, para pôr um actor a “voar” em palco, tive de mandar vir técnicos da Holanda. Para “enforcar” o Judas, vieram dois especialistas de Espanha. Cá, não havia...
Alguma vez houve?
O teatro português tinha grandes mestres, ao nível dos melhores da Europa. Mestres cenógrafos, mestres carpinteiros, mestres em todas as áreas de palco. Ainda trabalhei com muitos. Mas essa escola, infelizmente, foi-se perdendo. Uma das tragédias do Portugal de hoje é terem acabado com as escolas técnicas depois do 25 de Abril. Temos muitos doutores, mas faltam-nos técnicos competentes.
Não seria melhor começar a formá-los aqui mesmo, na sua Companhia?
Esse é, de facto, o meu sonho: transformar o Politeama numa academia de teatro, com todas as componentes da arte.
Tem, no entanto, encontrado bons colaboradores no plano artístico.
É verdade. Trabalho há anos com um naipe extraordinário de actores, músicos, cantores, libretistas, coreógrafos... É uma nova geração de artistas com garra e vontade de aprender, e cuja qualidade está bem visível, mais uma vez, neste espectáculo.
O “Superstar” vem na linha de outras produções suas, como “My Fair Lady”, “Música no Coração” e “O Principezinho”, que adaptam grandes sucessos já testados mundialmente. Não há nisso um certo “facilitismo”?
Não há. Antes de mais, são peças que tratam de valores universais, comuns a todos os homens de todas as civilizações e de todos os tempos, valores com os quais o público se identifica imediatamente. Depois, não me limito a traduzir e a transpôr esses grandes êxitos para Portugal: os meus espectáculos são recriações no sentido pleno da palavra. Por exemplo, o meu “Jesus Cristo Superstar” está muito para lá do “Jesus Christ Superstar” dos anos 70. A primeira cena é o atentado contra as Torres Gémeas! Por alguma razão o Andrew Lloyd Weber e o Tim Rice (os autores da versão original da peça) viram a minha encenação e consideraram que era a melhor, entre as cinquenta e tal que já tinham visto...
Ficou satisfeito com a temporada de “Superstar” no Rivoli do Porto?
Tivémos lotações esgotadas todos os dias.  O espectáculo foi visto por 160 mil pessoas em 4 meses. Ainda não chegámos ao milhão e meio de espectadores do “Música no Coração” ou aos 6 milhões do “Amália”. Mas ainda agora começámos...
Está então provado que tinha razão quando, há anos, se insurgiu contra a política de subsídios do Estado?
Está à vista. Hoje toda a gente concorda que a cultura portuguesa está excessivamente dependente do Estado. Na minha opinião, o Estado deve abrir as portas, e não ocupar a casa.  
“Jesus Cristo Superstar” acaba de chegar a Lisboa, mas sabemos que já está a pensar no próximo espectáculo. Pode levantar a ponta do véu?
O segredo é a alma do negócio. Mas ninguém morre se lhe disser que a seguir farei outro musical de êxito mundial: “Um Violino no Telhado”...