Aos 15 anos, a sua voz já acompanhava a guitarra portuguesa nas casas de fado de Lisboa, como a Tasca do Chico no Bairro de Alfama ou a Taverna do Embuçado no Bairro Alto. O ambiente místico e a nostalgia das músicas, que associava aos amores e desamores da adolescência, fascinaram-na e arrastaram-na para um percurso profissional na música. Hoje, 16 anos depois de pisar um palco pela primeira vez para cantar fado, Fábia Rebordão considera-se uma cantora versátil.

O fado é apenas um dos géneros musicais que gosta de cantar, pois diz precisar de mais ritmicamente. O seu novo álbum vem mostrar, precisamente, essa sua versatilidade. De sorriso rasgado e olhar intenso, Fábia Rebordão é uma mulher determinada, que coloca toda a sua força em cada objetivo que  traça, e não teme novos desafios. Não foi por acaso que, em 2012, o seu primeiro álbum «A Oitava Cor», mereceu o Prémio Revelação nos Prémios Amália.

Na altura, o júri descreveu-a como uma estrela em ascensão. O caminho que já conquistou até aqui, a sua força natural e as perspetivas que tem traçadas para o futuro são prova disso mesmo. Hoje, com uma nova imagem, depois de ter perdido 45 quilos, revela os momentos mais marcantes da sua carreira, a evolução do fado e as novas vozes portuguesas que considera brilhantes.

Desde criança que tinha excesso de peso e, até há dois anos, em 2013, pesava cerca de 100 quilos. Hoje, tem menos 40. O que a levou a fazer dieta ao fim de tantos anos?

Desde muito nova, que tentava fazer dietas, mas nunca eram bem-sucedidas. Desta vez resultou, porque estava realmente motivada. A idade também é outra e sempre tive em mente aquela frase que diz que depois dos 30 anos, não há nada a fazer. Percebi que estava a aproximar-me da idade limite para mudar a minha imagem e penso que isso também contribuiu para tomar esta decisão.

Houve algum momento clique para a mudança?

Sim, nos Prémios Amália, em 2012. Quando vi as minhas fotografias da gala, não queria acreditar… Estava enorme!  E foi nesse preciso momento que decidi que tinha de fazer alguma coisa… Um mês depois, em dezembro, estava a iniciar o tratamento da Lev. Lembro-me de ter tomado a decisão de passar o Natal sozinha, só para não correr o risco de cair em tentação e cumprir a dieta à risca. Em 10 dias, perdi cinco quilos. Em dois meses, perdi 20 e, em seis meses, perdi 40.

O que é que a fez nunca desistir da dieta?        

O meu foco era diário e não a longo prazo. Preocupei-me sempre em viver a dieta, dia após dia, subindo um degrau de cada vez… Depois, agarrei-me aos resultados, que foram imediatos e muito evidentes. Ao longo da minha vida, sempre estive muito limitada relativamente à roupa que vestia. À medida que fui emagrecendo, percebi que a roupa que eu gostava e que nunca tinha conseguido vestir, me assentava bem e a motivação foi ficando maior.

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O que mudou na sua vida desde esta mudança de imagem?

Em primeiro lugar, a minha qualidade de vida melhorou imenso. Hoje, noto que tenho maior resistência física e que não me canso tão facilmente. Depois, uma mudança destas interfere muito na nossa autoestima. Sentimo-nos mais bonitas e, por consequência, também tendemos a transmitir uma imagem de nós mais positiva aos outros. Antes,escondia-me sempre atrás de um casaco grande ou de um novo corte de cabelo ou penteado, e hoje isso já não acontece. Sinto-me muito mais segura.

Que conselhos quer deixar às nossas leitoras que queiram iniciar uma dieta?

Depois de eu ter conseguido perder 45 quilos, não posso admitir que ninguém diga que não consegue perder peso. O sucesso de uma dieta depende da nossa força de vontade e não pode ser uma força efémera que dure apenas uns minutos ou que desapareça no momento em que nos sentamos à mesa. Há que haver rigor na alimentação. Só com muita força de vontade é que se consegue perder peso.

Como começou a cantar fado?

Comecei desde muito nova. Nas festas de Natal da escola primária já cantava e, em casa, adorava ouvir rádio e cantar as músicas que ouvia. Mas foi só aos 14 anos que o fado apareceu na minha vida. Depois de ganhar o programa de televisão «Cantigas da Rua», um amigo levou-me a ouvir fado à Tasca do Chico. Fiquei rendida e, a partir daí, comecei a cantar fado, todos os fins de semana, em casas de fado.

Foi uma paixão imediata, portanto?

Sim. Adorei o ambiente, o facto de se cantar com as luzes apagadas, de uma forma acústica, e improvisada, sem ensaiar. Além disso, identificava-me muito com as letras. Lembro-me que, a partir desse momento, comecei a consumir muito fado, nomeadamente Amália.

Sabemos que é prima, em terceiro grau, de Amália…

Sim, a minha avó era sua prima direita, mas, infelizmente, nunca a conheci. Tive o prazer de trabalhar com a sua irmã, a Celeste Rodrigues, num dueto no meu primeiro disco, «A Oitava Cor».

Qual foi o momento mais marcante que viveu, até hoje, em cima de um palco?

Quando atuei no Carnegie Hall, em Nova Iorque. É uma sala muito emblemática e com uma carga muito forte, porque já passaram por lá grandes artistas mundiais.

Veja na página seguinte: O que levou a fadista a começar a escrever

A Fábia Rebordão ficou conhecida quando parricipou no programa de televisão «Operação triunfo», na RTP, em 2003. O que mudou na sua vida a partir daí?

Desde sempre que sou muito curiosa e sempre fiz questão de me cultivar musicalmente e, também por isso, tenho alguma versatilidade no campo musical. Gosto muito de soul, de morna, de blues, de jazz, de bossa nova… Estas são as minhas influências, para além do fado, e que estão presentes na minha forma de cantar e expressar.

Na «Operação triunfo», tive a oportunidade de mostrar toda essa minha versatilidade ao público. E, depois, foram quatro meses a aparecer, diariamente, na televisão, o que teve um grande  impacto.

Foi distinguida nos Prémios Amália, em 2012, com o Prémio Revelação. Como foi receber esta distinção?

Foi muito bom. Este tipo de reconhecimento leva-nos a querer fazer cada vez mais e melhor, e a não desistir. Para mim, foi ainda mais importante, porque no meu último disco, «A Oitava Cor», atrevi-me a compor e a escrever.

O que a levou a começar a escrever?

Lembro-me que, quando era mais nova, tinha um caderno onde escrevia frases soltas sobre o que ia sentindo. Acho que sempre tive essa vontade de escrever dentro de mim, mas nunca tive coragem para o fazer. Até que um dia me atrevi a tentar, motivada pelo Jorge Fernando, que me disse que tinha jeito. E assim foi. Comecei a escrever e a compor e, neste momento, já tenho algumas músicas escritas e compostas por mim. Às vezes, outros artistas pedem-me para escrever e compor para eles, o que me deixa muito feliz.

Em que se inspira para escrever?

Acho que o que escrevo é um pouco o que sinto.

O que nos pode contar sobre o seu segundo albúm, a ser lançado ainda este ano?

Neste álbum, apostei nas músicas que eu própria escrevi e compus. Embora também tenha tido a colaboração de outros compositores, como o Jorge Fernando, o Pedro da Silva Martins e do Dino d’Santiago, para a elaboração de outras músicas. Quero dar a conhecer ao público as minhas influências musicais e expor esta minha faceta.

O que é que o público pode esperar deste álbum?

Este vai ser o álbum onde me vou expor mais e onde vou mostrar as várias referências que resultam naquilo que sou hoje. Tudo aquilo que vi e ouvi, ao longo destes anos.

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O que gostaria de fazer na música e que ainda não fez?

Não me considero uma fadista tradicional que só canta fado puro e duro. Acho que sou uma cantora versátil que também canta fado. Quanto ao futuro, quero chegar às pessoas com a minha música, com as minhas letras, com a minha história.

Acha que o fado é valorizado pelos portugueses?

Atualmente, acho que há uma relação cada vez mais vincada. Penso que o fado se tornou muito mais abrangente, desde que começou a evoluir harmonicamente e que começaram a surgir novas letras. O facto de se ter tornado Património Mundial da Humanidade também ajudou. Depois, também há novas vozes a aparecerem. O fado está a desbravar caminho, por este mundo fora e as pessoas recebem-no muito bem.

Como caracteriza a nova geração de fadistas?

São todas brilhantes e acho que dignificam o fado de uma forma brilhante.

Nas atuações que faz internacionalmente, qual é o feedback que tem?

Os estrangeiros não percebem uma palavra, portanto o que conta é a alma que se dá à interpretação e o que nós fazemos sentir. Neste contexto, temos uma responsabilidade acrescida nesse sentido. Temos de ser capazes de transmitir a emoção de uma música, através da nossa interpretação.

Texto: Sofia Santos Cardoso com Artur (fotografia) e Sílvia Ferreira (cabelos e maquilhagem)