Ângelo Rodrigues, viajante assumido, tem vivido muitas experiências nos últimos tempos, tendo conhecido diversas culturas e pessoas.

Após ter conhecido o irmão de Pablo Escobar e de ter vivido uma história de sobrevivência na Amazónia, sentiu que precisava de fazer algo mais e eis que surge a ideia de fazer voluntariado.

O ator propôs, à organização não-governamental portuguesa Helpo, uma missão de voluntariado, uma iniciativa que foi aceite e em junho de 2016 partiu para uma aventura solidária em Nampula, ilha de Moçambique, para dar aulas de expressão dramática.

Uma vez que a sua profissão é a representação, preparou uma peça de teatro com os seus alunos ao longo de um mês e esta foi apresentada no dia em que é celebrado o Dia da Criança em Moçambique, 20 de junho.

Uma experiência única que deu origem a uma documentário de 40 minutos, ‘A Terra de Mil Sonhos’, realizado pelo próprio. Algo que não estava inicialmente nos planos, até porque não partiu para esta aventura com equipamento próprio para a realização do mesmo.

No lançamento do resultado deste trabalho solidário, que decorreu na última segunda-feira, dia 26, em Lisboa, o ator falou com os jornalistas presentes e contou como foi viver um mês junto do povo moçambicano.

Lá, teve que conduzir três turmas, duas delas de crianças, uma dos cinco e seis anos e outra dos 10 aos 12 anos. "Todos me tocaram à sua maneira", afirmou o artista português.

Quando chegou ao país africano, o que mais o deixou em choque foi “a pobreza e a falta de horizontes nas crianças”.

Eu estava no distrito de Nampula, que tem mar a 200 quilómetros, e havia crianças que nunca tinham visto mar na vida e que o sonho delas era ver o mar. O que me fazia muita confusão era o abandono escolar porque as crianças quando começam a ficar mais adolescentes começam a desistir ou a engravidar, e começam a abandonar a escola. Por isso é que é muito importante e fulcral o trabalho das ONGs, que é para estimular as crianças a continuarem a estudar. É mesmo muito diferente daqui", explicou.

Durante este caminho solidário, o que mais o marcou foi o "contacto com as crianças". "Elas não têm mesmo nada. Vivem com muito pouco e qualquer coisa que nós possamos fazer é muito para elas. Também é um dos objetivos que eu tenho com este documentário. Passar às pessoas que não é uma coisa inatingível. Não é noutro mundo. É uma viagem de 16 ou 17 horas de avião e, de repente, estás a ver uma outra realidade e estás a fazer de facto muito por crianças que podem ser outra coisa completamente diferente no futuro", disse.

Apesar da vontade em “salvar o mundo”, quando o ator se deparou com a realidade do país percebeu que não era bem assim.

É uma sensação agridoce e inglória porque pensas que vais salvar o mundo mas não vais. Mas se cada um de nós pensar que consegue salvar o mundo ou fazer dele um lugar melhor já é um começo. E é essa a minha humilde esperança para o futuro”, afirmou.

Contudo, Ângelo Rodrigues espera ter cultivado “esperança” nas crianças com quem se cruzou. “A possibilidade de que é possível fazer tudo na vida e ser qualquer coisa na vida, pelo menos isso. Que elas não vivam tão tapadas por uma realidade que lhes ensina muito mas tão pouco ao mesmo tempo".

Perante esta viagem, Ângelo Rodrigues chegou a Portugal com um carinho especial por Moçambique, ficando a promessa de um dia voltar. “Terei que voltar um dia para ver os meus putos, a minha tropa".

Com este documentário, o ator pretende passar a mensagem de que “é possível fazer uma experiência de voluntariado com poucas posses”. “Não é uma coisa inatingível e não é um bicho papão. É uma coisa palpável e fácil de fazer. Só depende de cada um".

Para já, Ângelo Rodrigues não tem “absolutamente nada definido” para o futuro, mas algo é certo: tem feito muitas viagens nos últimos anos e explorar o mundo é neste momento um objetivo de vida.

“Cada vez mais chego a essa conclusão, de que a cada viagem que faça só quero fazer mais, mais e mais. Não sei onde é que isto vai parar", acrescentou.

Apaixonado por viagens e pela representação, o ator tem, para já, conseguido conciliar estes dois amores de forma a poder viver a vida como deseja.