"Tinha muitas saudades do palco. Já estava a ficar insuportável", confessa Diogo Infante. Afastado da representação há quase dois anos, o director artístico do Teatro Nacional D. Maria II vai agora despir temporariamente a pele de "homem de gabinete" para protagonizar a peça "Rei Édipo", considerada por Aristóteles como a "mãe das tragédias", inspiradora de tantas outras obras.

"Dois anos é muito tempo. Embora tenha estado muito entusiasmado com os projectos artísticos que tenho encabeçado, a verdade é que sou actor. Não posso descurar essa parte, sob a pena de eu próprio ficar um pouco descompensado. Agora é a altura de dar o meu contributo como actor", explicou Diogo Infante, que pisa o "seu" teatro com uma nova versão do texto de Sófocles (427 a.C) reescrita pelo encenador Jorge Silva Melo.

"Rei Édipo", em cena a partir de quinta-feira, 18 de Fevereiro, é uma das peças mais adaptadas e interpretadas em todo mundo. A ideia de transportá-la para o palco do D. Maria, em Lisboa, partiu do próprio director, que logo desafiou Silva Melo.

"O Jorge afastou-se um pouco do verso inicial de Sófocles e criou uma versão mais rude e acessível, com uma narrativa muito dinâmica e ágil, num espectáculo que resulta numa hora e 20 minutos", declara Diogo Infante a SapoFama. O actor é "Édipo", Virgílio Castelo interpreta "Creonte" e Lia Gama veste a pele de "Jocasta" que, na mitologia grega, foi mulher de Laio, rei de Tebas, com quem teve um filho, Édipo. Um elenco de luxo que promete mais um sucesso de bilheteira.

"Fiquei lisonjeada com o convite e assustada, porque passou-me pela cabeça tudo menos isto. Acho que já não tenho idade para fazer um papel intenso como este", confessou Lia Gama. "É uma personagem profundamente trágica. A Jocasta é o desequilíbrio de Édipo. É por causa dela que o mundo de Édipo se desmorona. A mãe não escutou os oráculos porque pensava que podia manipular o próprio destino. E, quando o oráculo diz que um filho dela com o Rei Laio mataria o marido, ela própria encarrega-se de eliminar a criança", conta a actriz.

"O que interessa aqui é retirar qualquer lição que nos sirva enquanto pessoas. A grande metáfora de Édipo é alguém que precisa cegar-se para ver. Só quando atinge a cegueira é que, finalmente, percebe a sua própria dimensão humana", refere Diogo Infante.

Moral da história: "Só quando estamos sujeitos a situações absolutamente violentas, ou dramáticas, nas nossas próprias vidas, é que damos valor às coisas que temos e precisamos. De uma forma simplista, não será difícil encontrar pontos de ligação com a actualidade", observa o actor.

SapoFama esteve no Ensaio de Imprensa e mostra-lhe algumas cenas de "Rei Édipo", clássico da dramaturgia em cena no D. Maria II até 28 de Março.(Texto: Joana Côrte-Real)

(Fotos: Bruno Raposo/SapoFama)