Aos 22 anos, lança o seu primeiro romance. E não opta por uma história romântica ou erótica, como fazem muitas mulheres da sua geração, nem muito menos por enredos belicodoces sobre o universo pós-adolescente do qual fazia parte. Não, Veronica Roth relata no livro que se torna um best-seller do The New York Times uma história passada num futuro apocalítico. Um livro, não… Três!

Em pouco tempo, a americana, agora com 28 anos, torna-se uma das autoras mais vendidas da atualidade com a trilogia «Divergente», «Insurgente» e «Convergente». As duas primeiras, a par com «Os Jogos da Fome», a distopia mais importante desta década, foram levadas ao cinema com enorme sucesso. Agora, no início de 2017, lança «Gravar as Marcas», o primeiro de dois livros num planeta onde a violência e a vingança imperam.

Um livro «que se situa num grande universo expansivo, com uma história elaborada, várias línguas e fenómenos misteriosos. Não tem a claustrofobia de um cenário distópico. E não se parece em nada como o nosso mundo», explica a autora. O segundo romance surgirá em 2018. Vamos saber mais.

Quais são as suas principais fontes de inspiração para escrever?

A inspiração pode vir de qualquer lado, se estiver aberta a isso. Tento seguir a minha própria curiosidade. Se estou interessada em algo, leio livros sobre o assunto ou procuro artigos online, ouço podcasts, mesmo que nem saiba como isso vai influenciar as minhas histórias ou me inspirar a escrever.

O mundo é um lugar fascinante, complicado e incrível. Há inspiração suficiente para várias vidas de um escritor! Por isso, acho que é importante ser curioso e prestar atenção.

Sempre quis escrever para ganhar a vida? É terapêutico para si escrever?

Nem sempre quis escrever como um emprego, porque nem sabia que essa era uma possibilidade. É difícil ganhar a vida com a escrita! Mas sempre soube que escreveria toda a minha vida, mesmo se outras pessoas me lessem ou não. Para mim, é uma maneira de processar os meus pensamentos e dar sentido ao mundo. Sem isso, eu estaria perdida.

É muitas vezes comparada a Suzanne Collins, de «Os Jogos da Fome», como uma autora de ficção distópica, líder no seu género. Revê-se assim categorizada? Ou a sua escrita deve ser considerada como parte de um género literário diferente?

Bem, essa comparação é certamente lisonjeira. Acho a Suzanne Collins brilhante. E «Divergente» é certamente uma história distópica, mas é diferente de muitas distopias clássicas, que nos deixam preocupados com as coisas que estamos a fazer no momento. «Os Jogos de Fome», por exemplo, suscitam preocupações sobre como encaramos a violência como entretenimento, ou como uma solução para problemas, entre outros.

«Divergente» é mais uma fantasia distópica. Não acho que nos devamos preocupar em dividir cinco fações baseadas em virtudes! Mas a nossa tendência para dividir grupos que se opõem um ao outro, é algo que vale a pena considerar.

Não é apenas um paralelismo ao nosso mundo moderno. E não penso em mim como apenas uma autora de ficção distópica. Estou apenas agora a começar e ainda vou escrever muitos tipos diferentes de histórias!

Quando estava a escrever «Gravar as Marcas» sentiu algum tipo de pressão para ser tão bem sucedido quanto «Divergente»?

Às vezes! Tento não pensar muito nisso, porque está fora do meu controle. A única coisa que posso fazer é escrever o melhor livro possível. O resto não está nas minhas mãos.

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Estar publicamente exposta influencia a maneira como se apresenta?

Tento andar mais direita! Tenho tendência a desleixar-me. E já estou mais confortável a conversar com pessoas que não conheço bem, porque tive que fazer isso em trabalho. Costumava ser bastante tímida. Ainda sou, às vezes, mas agora tento ser calorosa e gentil com as pessoas quando as conheço pela primeira vez. Nunca sabemos pelo que alguém está a passar.

Tem um estilo específico que goste mais?

Adoro moda, mesmo que haja certos estilos que não consigo usar! Mas gosto, particularmente, da tendência menswear nas roupas de mulher. Gosto de sapatos oxford, camisas sob medida e blazers, mais confortáveis ​​do que saltos altos e calças justas. Eu sempre gostei mais de um estilo casual e offbeat, também, com sapatos creepers, blusões de pele e jeans.

Existem semelhanças entre «Gravar as Marcas» e «Divergente»?

Alguns! Ambas as histórias têm muita ação, porque adoro escrever cenas de ação, apresentam personagens femininas complicadas. Ambas têm treino de combate! «Carve the Mark» inspirou-me para finalmente ter aulas de kickboxing.

Por isso, as minhas descrições de lutas são provavelmente mais precisas agora. E ainda estou fascinada por relacionamentos familiares tensos e a tentar conciliar as escolhas pessoais com as expetativas da família.

O que significa «Gravar as Marcas»?

É uma frase repetida algumas vezes no livro, sempre num momento de turbulência emocional e perda. Refere-se a um ritual shotet no qual, depois de se ter causado a morte de alguém (por acidente ou de propósito), marca-se um registo da sua vida no braço permanentemente. Os forasteiros vêem o ritual como brutal, como manter troféus das suas vítimas.

Mas foi originalmente destinado a ser um registo de perdas, e para forçar uma pessoa a suportar o fardo das mesmas. Assim, «Gravar as Marcas» também destaca as divisões do livro, a diferença como os estranhos assumem injustamente coisas sobre o shotet e como se vêem a si mesmo.

Usa a tecnologia para controlar o que escreve? Alguma aplicação em particular?

Sou uma grande fã do Scrivener. Pode mover textos em redor, pode conservar originais, pode manter esboços antigos no mesmo lugar que os novos. É um programa surpreendente.

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Quem é o seu autor favorito? Por quê?

Não tenho um em particular! Não gosto de escolher favoritos, porque há tantos livros e autores que gosto. Alguns dos meus favoritos de todos os tempos foram Madeleine L'Engle, Lois Lowry e Garth Nix, no lado do livro infantil. E, na ficção para adultos, Marilynne Robinson e Flannery O'Connor, em particular.

Qual é o livro que tem na sua mesa de cabeceira? E que outro recomendaria?

Agora tenho uma cópia avançada de «Royce Rolls» de Margaret Stohl na minha mesa de cabeceira. É uma espécie de paródia à reality TV. É engraçado! Vale mesmo a pena ler… Também tenho «Pretty Monsters», de Kelly Link, uma coleção de contos que são estranhos, assustadores e bem escritos. Definitivamente, recomendo-os!

O que é que se segue para si? Algum projeto de sonho que ainda não tenha acontecido?

Estou a trabalhar em «Gravar as Marcas 2». Depois disso, quem sabe?

Texto: Joana Brito