Licenciada em direito e formada em dança, começou a trabalhar em espetáculos de magia e daí passou à televisão. Após 12 anos à frente de um programa diário em direto, Sónia Araújo iniciou, há um ano, um novo ciclo profissional. A faceta de apresentadora convive, agora, com as de cantora, intérprete e patinadora, patentes no projeto infantil «Sónia e as Profissões» e no musical
«Quebra-Nozes no Gelo». Diz que fica ansiosa antes de fazer algo novo mas, na verdade, é essa adrenalina que a move.

Tem formação em dança, daí passou para a televisão e, hoje, também canta, representa e patina no gelo. A versatilidade foi uma escolha ou uma necessidade?

Foi uma escolha, sem dúvida. Acho que me valoriza como profissional, mas a minha maneira de ser também é inquieta, gosto fazer várias coisas ao mesmo tempo, de testar os meus limites, de aceitar desafios, de aprender sempre.

Por exemplo, quando aceitei participar no «Dança Comigo» [antigo programa na RTP1] nunca tinha tido aulas de dança de salão e pensei «Estou a ter um curso intensivo grátis», portanto aproveitei... E não tenho formação de atriz, mas já participei em séries de televisão. Adoro ter experiências diferentes.

Quais são as mais-valias de ser uma mulher dos sete ofícios?

É isso mesmo, estar preparada para enfrentar vários desafios. Mesmo como apresentadora, muitas vezes, tenho de fazer coisas diferentes e, se estiver preparada, será mais fácil. Acho que, hoje em dia, um apresentador multifacetado é mais valorizado.

Qual é a área que mais a apaixona?

A dança sempre me apaixonou mais, mas a televisão vai-se entranhando, é outra forma de comunicar. Enquanto na dança usamos todos os sentidos, toda a expressão corporal, à medida que vamos fazendo mais programas temos noção do poder de comunicação da televisão e isso é fascinante.

O que sente quando dança?

É uma sensação de liberdade que me agrada muito. É muito difícil de expressar. Sinto felicidade, sinto o movimento... A força de um movimento quando é feito com intenção de comunicar alguma coisa é completamente diferente. O melhor bailarino é o que transmite emoções, é como a música, tem de nos fazer sonhar e arrepiar.

Com que idade começou a dançar?

Com nove anos. Fiz o percurso normal do ballet clássico, fascinavam-me os espetáculos de bailado na televisão e via o livro «Anita no Ballet» e pensava um dia ser como ela [risos]. Para complementar fiz cursos de verão de dança contemporânea e jazz. Mas onde aprendi mais estilos foi no «Um, Dois, Três» [antigo programa na RTP1], que fiz com 20 ou 21 anos. Numa semana podíamos ter de aprender a dançar a valsa ou um reportório clássico, na outra flamenco, sevilhanas ou um musical da Broadway. Nessa altura estava a fazer a licenciatura em direito.

Como conciliava tudo?

Até ao terceiro ano consegui assistir às aulas no Porto mas, no último, tive de pedir transferência para Lisboa. Ia ao Porto quando tinha exames, mas estudava quase sozinha e com muita ajuda de colegas que me forneciam apontamentos. Acabei por viver em Lisboa três anos porque, mesmo depois das várias séries do «Um, Dois,Três», ia a tudo o que eram audições para outros programas com bailarinos ou para anúncios de televisão.

Foram tempos de sacrifício pessoal...

Tive de abdicar de muitas saídas à noite, mas já estava habituada à disciplina do ballet, habituei-me a gerir muito bem o tempo e tento passar isso à minha filha porque é benéfico quando somos adultos. Os meus pais diziam «Se o rendimento escolar falhar, tiramos-te do ballet»… Por isso, eu tinha de ser razoável para poder fazer o que gostava. Já passou mais de um ano que saiu da apresentação de «Praça da Alegria».

Que estratégias adotou para se desligar de um programa pelo qual deu a cara durante 12 anos?

Basicamente, não tive muito tempo para pensar nisso. Nas primeiras duas semanas estranhei não sair de casa à hora do costume, se bem que, como tenho filhos em idade escolar, continuo a acordar às sete horas. Depois foram surgindo outros projetos, não tive muito tempo para olhar para trás. Já passou um ano e não parece.

Tem saudades?

Claro que foi um projeto fantástico, a melhor escola que se pode ter em televisão, onde conheci gente maravilhosa. Há rubricas que me deixam saudades, como a dos chefes de cozinha, com quem mantenho amizade, tal como sucede com outros comentadores. Ficam essas relações. Mas não fico agarrada ao passado a pensar «Aquilo é que era bom»... Foi um tempo magnífico, espetacular, mas já estou noutra.

Como é, atualmente, um dia da sua agenda?

De manhã é muito agitado, com três filhos a acordar e a ter de os acelerar. É vesti-los, dar-lhes o pequeno-almoço e o meu marido leva-os à escola. Depois depende, não há dois dias iguais. Estou [dezembro de 2013] com um novo projeto para a RTP, tenho gravações fora do Porto três dias por semana, tenho o «Aqui Portugal» [programa na RTP1] ao sábado e o musical [«Quebra Nozes no Gelo», em cena até 29 de dezembro] sexta-feira à noite e três sessões ao domingo. Viajo muito pelo país, não sobra tempo nenhum.

Como lida com o stresse?

Sou calma por natureza, mas quando tenho uma coisa nova para fazer sinto-me sempre ansiosa. Tento respirar fundo, contar até dez... Às vezes fico com contraturas musculares, mas nada que o ginásio ou, quando tenho tempo, uma massagem, não resolva.

Com que frequência vai ao ginásio?

Não mais do que duas vezes por semana, às vezes só uma. Tenho um treinador pessoal e faço um treino funcional. É essencial para reforçar a resistência e a musculatura para trabalhar durante muitas horas. Com os DVD e os espectáculos «Sónia e as Profissões» começou a trabalhar para crianças.

Quer continuar a fazê-lo?

Sim, estou a descobrir o público infantil e é fascinante. As crianças dão um feedback imediato e a adesão foi muito boa. Quando rapidamente interiorizam uma canção é sinal de que o trabalho tem musicalidade e de que estamos a conseguir passar mensagens de forma lúdica. E divirto-me imenso quando vêm ter comigo na rua e me pedem para cantar esta ou aquela música, é delicioso.

Tem uma filha de dez anos e dois de quatro. Já consegue intuir quais serão as suas profissões?

A minha filha durante muito tempo quis ser cabeleireira e eu sempre disse «Tudo bem, desde que sejas uma boa cabeleireira»... Têm de ser profissionais e de fazer bem o que escolherem, mas temos de lhes dar ferramentas e abrir os horizontes para descobrirem o que os deixa mais realizados. E é importantíssimo crescerem com uma atividade desportiva, aprendem a tal disciplina, a cuidar de si.

Costuma fazer resoluções de ano novo no início de cada ano?

Não... Os tempos que vivemos não permitem grandes planos a longo prazo. Gostava de continuar a ter trabalho e o privilégio de fazer o que gosto. E de me agarrar aos projectos com empenho e profissionalismo, como tenho vindo a fazer.

Fez 43 anos em novembro de 2013. Como se imagina aos 50?

A trabalhar, ativa. Não sei em quê, mas parada não estarei, de certeza absoluta.

Respostas rápidas:

- Um truque de beleza?

«A minha mãe habituou-me desde cedo a usar cremes de rosto e olhos. Nunca me deito maquilhada e faço máscaras de hidratação», confessa Sónia Araújo.

- Um livro em que se revê?

«Guia Prático para as Mulheres Muito Ocupadas, é muito engraçado. Para mulheres a quem é exigido muito», revela a apresentadora.

- O segredo para manter o casamento feliz?

«Amor, tudo o resto vem a seguir, como o respeito pelo espaço e trabalho um do outro e compreensão», refere Sónia Araújo.

- O truque para sorrir sempre?

«É a retribuição pelo que me dão. E fazer o que gosto e ter filhos maravilhosos também me ajuda a sorrir», assume a antiga bailarina.

- O que aprendeu ao ser mãe?

«O sentido da responsabilidade e do amor sem limites», responde, sem hesitar, Sónia Araújo.

Texto: Rita Miguel com Carlos Ramos (fotografia)