Tem 20 anos e é já uma das mais promissoras manequins portuguesas. Loura, de profundos olhos azuis, Sofia Leitão revela porque é que é mais do que um rosto bonito. Está a ver aquele cliché que afirma que o que vale é a beleza interior? É verdade! Sofia Leitão é linda mas o que lhe acrescenta ainda mais beleza é a educação, a discrição e a simplicidade. Se passar por ela na rua, vai certamente perceber do que estamos a falar.

Tem longos cabelos louros, olhos azuis, é alta e magra. E emana dela uma boa onda a que não é possível ficar indiferente. Talvez seja do ioga que pratica, da forma como vive e do que vai fazendo, além dos trabalhos como manequim. Ou dos cabelos, pouco comuns em terra de latinos. Ou de parecer estar bem com ela e com os outros. Ou tudo isso junto. Ou muito mais do que isso. Nasceu em Lisboa há 20 anos e desde os 14 que lhe diziam que se devia inscrever numa agência. 

A tia, Filipa Leitão, uma das manequins da primeira geração, como Mi e Tó Romano ou Henrique Carriço, entre outros, acabou por inscrevê-la na Central. «Como ela conhecia bem a Mi e o Tó Romano, disse-me que eu ia gostar e que ia estar à vontade», diz. Contou com o apoio dos pais, que «disseram que seria bom para eu fazer algum dinheiro, mas para nunca me desviar dos estudos». Mas esse não é um problema na Central, onde se privilegia primeiro a formação académica dos manequins, conforme explica Mi Romano. 

E Sofia Leitão sente-se em casa aqui, inclusive para dizer se alguma coisa correu menos bem, em algum trabalho. O desporto foi durante muito tempo o seu mundo e até aos 10 anos os seus amigos eram só rapazes. A ginástica rítmica, que praticou durante muitos anos, era a sua praia, mas a estética, a imagem e a arte eram áreas que sempre a estimularam. «Sempre quis trabalhar na área da moda, porque sempre estive ligada às artes e gosto muito de tudo o que tem a ver com a estética. É uma área que gostava de seguir, como trabalhar numa revista, por exemplo», explica. 

Assim, há cerca de dois anos acabou por estagiar na redação da Vogue, onde deu uma mão nas produções de moda e fez os contactos para a Fashion Week Paris, uma vez que, após 15 anos a estudar no Liceu Francês, em Lisboa, esta é a sua segunda língua. Mas também o é o inglês e o espanhol… Talvez seja por isso que o mundo pareça pequeno para uma pessoa que já andou pela Índia, pelo México ou pela África do Sul, nas mais diversas atividades. 

Agora, além dos trabalhos de moda que vai fazendo, está a estudar. O curso, estudos gerais, «que funciona como nos Estados Unidos, com majors e minors», conforme explica, inclui cadeiras obrigatórias, como Literatura, Línguas e Filosofia, divide-se por três faculdades, Letras, Ciências e Belas Artes. E como o mundo vai derrubando cada vez mais barreiras, já está preparada para seguir para Paris, onde irá fazer Letras na conhecida universidade Sorbonne, ao abrigo do programa Erasmus.

O mundo é já ali

Paris é mais um destino entre tantos outros que já teve oportunidade de conhecer, como a Índia, onde esteve um mês e meio, há dois anos. «Fui fazer voluntariado nas Missionaires of Chari, da Madre Teresa de Calcutá, onde trabalhei com crianças deficientes», recorda Sofia Leitão. É impossível não perguntar se não foi um choque, quando sabemos que as duas realidades (a nossa e a deles ) são tão distintas, social e culturalmente. «Fui um bocado inconsciente», reconhece.

«Eu queria fazer voluntariado, era uma experiência que queria ter, mas não tinha a estaleca que era preciso para aquela realidade. No início, foi um choque muito grande. Depois habituamo-nos e percebemos que aquela é, também, uma realidade e não podemos viver aquilo de uma forma tão angustiante. Eu estava a trabalhar com crianças deficientes, mas eu própria era uma criança, só tinha 18 anos», sublinha a modelo.

O seu dia começava bem cedo, às cinco da manhã, com uma missa, e depois do pequeno-almoço, «uma peça de fruta com chá e leite», Sofia Leitão dedicava o seu tempo à casa das crianças com deficiência. «Havia várias casas, a dos bebés recém-nascidos, dos adolescentes, das crianças com deficiência, entre outros, onde eu estava. Nós tínhamos o compromisso de trabalhar até à hora de almoço, depois à tarde podíamos ir ajudar nas outras casas. Eu costumava ir para a casa dos velhinhos que vão para aquele centro morrer», diz. 

Com ela foram dois amigos de muitos anos, ex-colegas do Liceu Francês, que 15 dias antes da partida, lhe mandaram uma mensagem a dizer que iam com ela. Sobre a viagem, Sofia Leitão afirma que não podia ter sido mais profícua. «Foi das experiências mais enriquecedoras que eu já vivi», afiança. E de um lado do mundo para o outro, passou um mês e meio a viajar no México, pela costa do Pacífico, de mochila às costas. «Foi uma viagem diferente», afirma.

Como terá sido aquela que também fez à África do Sul, em 2013, onde foi integrar as conferências para um mundo melhor, One Young Nation, nas quais personalidades conhecidas, como a cantora Joss Stone ou o chef Jamie Olivier, falam sobre direitos humanos e alimentação, entre tantos outros direitos básicos. O facto de falar fluentemente quatro línguas e de gostar de conhecer pessoas de outros países são motivos mais do que suficientes para procurar este tipo de experiências.

Alimentar corpo e espírito

De volta a Portugal, de regresso ao seu dia a dia. Quando não está em qualquer outra parte do mundo, Sofia Leitão gosta de acordar cedo (por volta das 7 horas), para fazer ioga, prática que começou há cerca de um ano, influenciada pelo namorado, professor de ioga. «É muito bom tanto para o corpo como para a mente», assegura Sofia Leitão. É de manhã que também aproveita para tratar e questões relacionadas com o trabalho, enquanto bebe um chá. O corpo, sobretudo a saúde, foi sempre uma preocupação para Sofia que tenta fazer uma alimentação cuidada.

«Não sou vegetariana porque, de vez em quando, como carne branca, mas prefiro comer muitos legumes, fruta, vegetais, comida de origem biológica, orgânica, para me sentir bem e para cuidar da minha saúde, porque sou um pouco obcecada com isso», explica. Influenciada pela avó e pela mãe, Sofia Leitão sempre cuidou da pele. «A minha mãe e a minha avó sempre me incutiram esse cuidado. Por isso, sempre me protegi do sol e sempre hidratei a pele, até porque somos todos muito sardentos», refere, sorrindo.

Depois de já ter passado pela fase das saídas com os amigos, prefere, agora, deitar-se cedo. «Também gosto de sair com amigos, beber um copo, ir jantar fora, mas não é isso que me move, que me preenche. Gosto mais de aproveitar o dia. Mas quando saio, gosto de ir ao Bairro Alto, beber um copo e, se for sair, vou para o Lux», confidencia. De dia, gosta de passear sozinha. «Não sou uma pessoa que precise muito de comunicar, nem de falar. Gosto do meu tempo», explica. 

E neste tempo que gosta de estar sozinha, lê romances clássicos e poesia franceses, como Baudelaire, e poesia portuguesa. Não perde os ciclos de cinema francês ou italiano, e gosta de ouvir rock dos anos 60/70, música indie e electrónica e francesa. Talvez seja este temperamento tranquilo que contribua para que Sofia Leitão consiga lidar com as inevitáveis negas da sua profissão. «Existe a possibilidade de ser rejeitada, claro, já me aconteceu. Eu rio-me, como gosto da estética, tenho noção de que existem trabalhos que não são adequados para o meu corpo, que não são o meu perfil», confessa.

«Já me disseram que tenho de emagrecer», ri-se. E como lida com isto? «Se tivermos uma boa cabeça, aceitamos a crítica e não nos deixamos abater por ela. Sou uma pessoa confiante, com uma boa autoestima», refere. Sim, é verdade, ter uma cara bonita é bom. Ter um corpo cuidado é ótimo. Mas quando tudo isso vem acompanhado de substância não há Photoshop que se lhe compare. A beleza natural ainda é a que marca mais pontos e, neste jogo, Sofia Leitão está, certamente, à frente.

Texto: Helena Ales Pereira