Todas as semanas, Olívia Ortiz torna mais ricas as quintas-feiras de milhares de portugueses. A apresentadora é um dos novos rostos da TVI, que promete dar muito que falar. Além do seu caminho no pequeno ecrã, Olívia ainda brilha no YouTube, através dos vídeos que partilha no seu canal. Estar parada não é com ela. O perfecionismo, assim como a necessidade de se "sentir útil" tornam a sua rotina preenchida, algo que a deixa muito realizada.

Era com esta vida que sonhava em criança?

Nada disso. A minha vida deu muitas voltas. Primeiro quis ser bailarina – fiz ballet durante muitos anos – depois quando comecei a estudar, por influências da família, a minha mãe dizia-me uma frase que nunca mais me esqueci: “Se queres ser alguém na vida tens de ter um curso de saúde”. Sempre fui muito boa aluna… quadro de honra, delegada, ficava com a professora nos intervalos e acabei por ingressar em fisioterapia.

E como surgiu a televisão na sua vida?

Depois de já ter terminado o curso, uma vez estava com umas amigas em Lisboa e uma pessoa abordou-me a perguntar se queria fazer o casting para os ‘Morangos com Açúcar’. Fui fazer, passei as várias fases, passei ao workshop (na altura davam uma formação de três meses) e não entrei. Mas depois voltaram a convidar-me no ano seguinte, voltei a fazer o workshop, não entrei e depois surgiu o convite para fazer o módulo de representação para televisão.

A moda também esteve muito presente na sua vida…

Sim, as coisas aconteceram em simultâneo. Na busca por uma oportunidade na representação e apresentação agenciei-me em Lisboa, porque sempre fui aconselhada a ter uma agência. Os trabalhos de moda surgiram em paralelo e foi uma forma de ir pagando as contas. Desde que sai de casa com 17 anos para ir para a faculdade fui sempre me sustentando sozinha. Trabalhava à noite para pagar as propinas. Arranjei outros trabalhos como servir à mesa ou trabalhar num supermercado.

Trabalhava à noite para pagar as propinas. Arranjei outros trabalhos como servir à mesa ou trabalhar num supermercado

Como foi o momento em que percebeu que afinal não era a área em que se tinha formado aquela que queria seguir?

Há muitas pessoas que têm uma formação académica que nada tem a ver com a sua profissão. A minha mãe sempre achou que seria uma fase, iria explorar uma área diferente e que depois voltaria. Mas não, sou de ideias fixas.

Na altura, quais foram os conselhos dados pela sua mãe?

Disse que tinha a segurança que era o meu curso, mas que não deveria abandonar essa hipótese. Mas acho que não consigo ser uma boa profissional se não me dedicar a 100%. Acho que por respeito não só aos meus pais – fisioterapeutas – mas também aos meus pacientes, tinha de estar a 100% na fisioterapia. Faço questão de ser o melhor que consigo em cada projeto, em cada área em que arrisco. Na altura expliquei à minha mãe que tinha aquela vontade e que se não conseguisse fazer agora, não iria fazer mais tarde e não queria viver com a dúvida de não ter tentado. Esta maneira de ser foi me trazendo outras coisas. Fui conseguindo passo a passo de forma gradual crescer na apresentação e representação. A fisioterapia foi perdendo força.

Chegou a exercer?

A minha licenciatura era de quatro anos e logo a partir do terceiro comecei a exercer. Fui fisioterapeuta principal num clube da terceira divisão, a Associação Desportiva de Penamacorense.

Como era lidar com os atletas?

Acho que na altura consegui ganhar o respeito deles. Vivi alguns episódios caricatos por ser mulher, até porque não havia mulheres nem a fazer lavandaria. Fui com uma mentalidade muito fresca e quis fazer mudanças.

Vivi alguns episódios caricatos por ser mulher

Antes de começar a trabalhar como modelo, tinha noção da sua beleza, da imagem que tinha?

A imagem pode ser uma vantagem ou não. Já tive experiências em que a imagem me ajudou, porque por exemplo para ganhar um papel facilita teres um bom perfil para essa personagem. Por outro lado, há quem ache que a tua vida é muito fácil e acabe por te castrar as oportunidades, porque acham que as tens todas, o que não é verdade. Esta dinâmica das redes sociais é muito engraçada. Há muita gente que pensa que tenho contrato de exclusividade com a TVI, o que também não é verdade. Ponho-me de corpo e alma em tudo o que entro e quero vestir a camisola dos projetos. Acho que as pessoas têm uma perceção errada das vantagens e das desvantagens que a imagem pode trazer.

Mas conseguiu superar esse estigma?

Em televisão há muito aquela coisa de se contratar uma ‘cara laroca’ em vez de uma profissional. Embora não tenhamos de provar nada ao mundo, penso que temos de provar a nós próprios o que conseguimos fazer. Sei que não vou ser a mesma mulher daqui a um ano. Nem a que sou hoje é a mesma que era há dois antes de entrar em Queluz e de começar a fazer telenovelas. Ainda mais não tendo um curso profissional nesta área de comunicação sou maioritariamente auto didata e isso faz com que me pressione mais para aprender. Qualquer pessoa que veja a minha primeira ‘Rica Quinta’ e que veja a última vai ver essa evolução.

Em televisão há muito aquela coisa de se contratar uma 'cara laroca' em vez de uma profissional

Como é que estava nesse dia?

Nervosíssima. Sabia que era uma oportunidade que me estavam a dar e queria agarrá-la. Comecei a trabalhar como apresentadora de televisão em 2012 na MVM, um canal cabo. Ia de comboio fazer as gravações ao Porto e depois regressava a Lisboa. Lembro-me que na altura imaginava-me a trabalhar na TVI, numa grande estação. Quando veio a oportunidade do ‘Ora Acerta’ sabia que não era fácil haver espaço para novos rostos. Depois de selecionada fui para Budapeste, mas acabei por fazer só 12 programas. Vim para Portugal e foi aí que começaram as ‘Ricas Quintas’. Acho que em todas as minhas estreias sempre tive o peso da responsabilidade nas costas. Perguntava às pessoas que trabalhavam comigo como é que eu poderia melhorar.

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Lida bem com a exposição pública e com críticas?

Acho que o ser humano gosta de ser elogiado, é aquela massagem ao ego. Mas também temos de saber lidar com a crítica. Nessas coisas sou muito prática. Em relação a ser abordada na rua não tenho nada a dizer. Faço a minha vida perfeitamente normal e sempre que me abordam é com imenso carinho. E isso é o melhor presente que uma pessoa que trabalha para o público pode receber.

Em relação às críticas, estamos sujeitos à opinião das pessoas, seja ela boa ou má. É natural que haja pessoas que gostem do nosso trabalho ou de nós e outras que não. Por isso é que existem pessoas com imensas personalidades e perfis diferentes. Mas também temos de ter algum filtro para perceber se aquilo que dizem faz sentido ou é simplesmente dito por pura maldade. Neste último caso acredito que se devem manter as pessoas que nos fazem bem por perto e as pessoas que nos fazem mal ao longe.

Sente mais pressão agora que há pessoas que a comparam a nomes como a Cristina Ferreira?

A cópia nunca será tão boa como o original. E quem se rege a querer imitar alguém ou a querer ser como alguém nunca vai ter sucesso. Há uma coisa que acredito muito que é: não se consegue enganar as pessoas. Se calhar durante algum tempo, mas não eternamente. Vai haver um dia em que se baixa a guarda e nos revelamos. Por exemplo, há profissionais de televisão sobre os quais tinha uma opinião e depois quando os conheci, fiquei com uma opinião completamente diferente. Tanto para o bem, como para o mal. Quando se está na televisão adota-se muitas vezes uma ‘persona televisiva’. Se houver um dia em que estou triste, não vou estar a fazer o meu trabalho em televisão triste. Tenho de saber entreter as pessoas, não quero levar a minha carga negativa, muito pelo contrário, quero melhorar o dia. Nunca haverá duas Cristinas, nem dois Gouchas. Isso é impossível. Quando as pessoas me dizem que estou a tentar ser como aquele ou aquela, eu digo que não. Sou a Olívia Ortiz porque não existe nenhuma. Acho mesmo que não existe ninguém com o meu perfil ali na estação. A câmara deteta tudo, amplia as emoções.

Nunca vão haver duas Cristinas, nem dois Gouchas. Isso é impossível

Ao longo da carreira como é que lidava com os momentos mais difíceis?

Antes pensava que aconteceria mais rápido, porque trabalho muito. Achei que isso ia ser o suficiente para ter uma oportunidade. Mas percebi que há um percurso a ser percorrido. Estou a crescer e também vou criando as minhas próprias oportunidades enquanto comunicadora. Faço as minhas próprias entrevistas no YouTube, por exemplo. Antes era derrotista em várias situações. Situações em que me prometiam um projeto e depois fugia entre os dedos, porque alguém tinha alguma ligação familiar ou outra qualquer e acabava por passar à frente. Quando isso acontece questionamos se vale a pena continuar e estar aqui. Agora sou mais ponderada. Percebo que há certas coisas que não podemos mudar. Temos controlo total na qualidade do trabalho e no esforço que pomos nos projetos. Tenho merecido todas as oportunidade que me têm dado. Posso orgulhar-me de não ter nenhuma ‘madrinha’ ou ‘padrinho’ em televisão ou de ter alguma ligação familiar que me facilite os projetos. Isso é o melhor que se pode ter.

Nunca se sentiu tentada a deslumbrar-se com o mundo televisivo?

Acho que se tivesse de me deslumbrar com alguma coisa na televisão já me tinha deslumbrado há muito tempo. Já vivi grandes coisas, mesmo enquanto Miss Portugal, quando viajei para outras países estive ao pé de grandes estrelas internacionais. Mas continuo a ser a mesma rapariga com os pés assentes na terra. Para mim é tão importante uma pessoa que pode decidir o nosso futuro, como aquela que nos serve o café de manhã. A maneira como eu lido com elas é exatamente a mesma. Há pessoas que de facto se fascinam e acabam por não estabelecer bem as suas prioridades.

Para mim é tão importante uma pessoa que pode decidir o nosso futuro, como aquela que nos serve o café de manhã.

Que tipo de prioridades?

Já me cruzei com pessoas para quem aparecer na televisão é um fascínio, um sonho. Porquê? No meu caso vejo isso como uma profissão, porque se não fosse apaixonada por ela não fazia os sacrifícios que faço e não estava aqui a lutar pela minha grande oportunidade como apresentadora.

Qual é o conselho que dá aos jovens que sonham ir para seguir uma carreira na televisão?

Que devemos aprender com os nãos. A vida não é tão cor de rosa como a Disney a pinta e que é com as dificuldades que aprendemos. Quando as coisas nos são entregues de mão beijada não as valorizamos como devíamos e não nos dedicamos a elas. Devemos respeitar as pessoas por igual e estabelecer as nossas prioridades.

É mais difícil ser modelo, atriz ou apresentadora?

Depende de como olharmos para as coisas. De concretizar, acho que é mais difícil a apresentação, embora agora com as plataformas digitais possamos ser o que quisermos. O botão de upload é igual para todos. Se quisermos ser modelo tiramos umas fotografias e publicamos. Se quisermos ser apresentadores criamos o nosso próprio conteúdo e publicamos. Se quisermos ser atores a mesma coisa. Se olharmos para o mercado de trabalho há muito menos oportunidades para a apresentação. Menos cargos. Um programa de televisão pode viver de um apresentador apenas, enquanto que uma telenovela tem um elenco muito maior. Em apresentação as oportunidade são muito menores.

Imagina-se a apresentar um reality show?

Porque não? Acho que temos de passar pelas experiências para termos a certeza se gostávamos de estar nelas ou não. Mas o que gostava muito de fazer, embora não goste de fechar portas, era um programa de televisão em que a estrela fosse um anónimo em que pudéssemos conhecer a sua história de vida a ajudá-lo de alguma forma.

O que mais irrita a Olívia?

Odeio mentiras e falsidades, assim como pessoas que cobram certas coisas quando não dão em troca. Acho que quando estamos numa relação com alguém, seja de amizade, seja profissional, devemos dar sem esperar receber, mas é uma simbiose perfeita quando damos e recebemos. Não podemos exigir dos outros aquilo que não damos também.

Odeio mentiras e falsidades, assim como pessoas que cobram certas coisas quando não dão em troca

É difícil ser amigo da Olívia Ortiz?

Não. Acho que sou uma pessoa muito fácil até.

Mudava alguma coisa em si?

Mudava, claro, não posso ser hipócrita. Mudava algumas coisas que fiz e das quais me arrependo. Acho que é muito cliché as pessoas dizerem que não mudavam nada, porque isso significa que não se arrependem de nada. Talvez pessoas de que me aproximei e das quais não me devia ter aproximado. Coisas que fiz, que não devia ter feito. Acho que às vezes fui demasiado humilde e mal interpretada. Talvez aumentasse a minha paciência e a minha perseverança para não desistir.