É uma das designers de moda nacional mais internacionais. Acaba de comemorar 25 anos de uma carreira que não dá sinais de querer abrandar. Natural da Madeira, desde cedo percebeu que a ilha era demasiado pequena para os seus sonhos. Insatisfeita com a roupa que existia no Funchal, a capital, começou a desenhar modelos para si. Pouco depois, mudou-se para Lisboa, onde abriu a sua primeira loja, na Avenida de Roma.

Nas últimas décadas, além das que lançou em território nacional, apresentou 38 coleções de roupa na Paris Fashion Week e duas coleções de sapatos na MICAM, feira internacional de calçado de Milão, em Itália. Foi agraciada com o grau de comendadora da Ordem do Infante D. Henrique pelo presidente da República Jorge Sampaio. Fomos conversar com ela. Uma entrevista reveladora onde fala da vida e da carreira.

Fez há pouco 25 anos de carreira. Se tivesse que a resumir numa peça, qual seria?

É difícil escolher uma peça. São 25 anos de carreira e 50 coleções. Em todas elas, há pelo menos uma que se destaca, normalmente um vestido de noite especial.

Qual é aquela que considera a sua criação máxima?

O meu biquíni de ouro e diamantes, o primeiro e o mais caro da história da moda, como atesta a edição do "[The] Guinness Book [of World Records]" do ano 2000, avaliado num milhão de dólares. Foi notícia mundial numa altura em que não havia internet.

O que aconteceu ao seu famoso sutiã de diamantes?

Está em Antuerpia, na Bélgica, numa multinacional de diamantes.

Além da sua coleção de roupa, já apresentou linhas de calçado na MICAM, desenhou um serviço de porcelana, desenhou canetas, lançou perfumes, óculos… O que é que ainda não fez e gostava de fazer?

No presente e futuro, quero continuar a fazer o que tenho feito até agora. Criar, inovar, superar-me a mim própria todos os dias. Quero continuar a internacionalizar a marca Fátima Lopes o mais possível e, acima de tudo, ser feliz.

Se não tivesse seguido design de moda, o que é que se via a fazer?

Não me imagino a fazer outra coisa. Eu nasci com o dom e com a paixão para criar moda. Faz parte de mim. Dificilmente, seria feliz tendo outra profissão.

Já decorou um quarto de hotel no Farol Design Hotel em Cascais, à semelhança do que fizeram, noutros países, criadores de moda internacionais como o Christian Lacroix, o Giorgio Armani ou o Gianni Versace. Gostava de ter um hotel decorado de raiz por si? Um conceito só seu?

O quarto do Farol Design Hotel não foi decorado por mim, apesar de ter o meu nome na porta. É um assunto que tenho adiado e que ainda está por resolver. O design é todo do hotel e o meu nome não devia lá estar. No entanto, eu gosto muito de desenhar e gosto de desenhar tudo.

Os móveis da minha casa são quase todos da minha autoria. Seria interessante e fácil para mim idealizar a decoração de um hotel. Tenho muita experiência nas fardas de hotelaria. Faço fardas para vários hotéis há vários anos. As do [hotel] Conrad Algarve são da minha autoria desde a sua abertura há cinco anos.

Nasceu e cresceu na Madeira, uma ilha. A insularidade foi um mola impulsionadora que a impeliu a sair dali e ir mais além ou, de alguma forma, acabou por condicioná-la?

A insularidade deu-me a noção da dimensão da Madeira, fez-me sair da zona de conforto e ir à luta para a capital do país. A partir daí, apercebi-me de que Portugal também era pequeno e que o mundo era possível. Para o conquistar, percebi que teria que lutar muito, mas também percebi que esse objetivo era exequível.

Sente que mudou muito em termos de visão criativa desde o início da sua carreira? Hoje, ainda se revê, por exemplo, nas suas primeiras criações?

Eu, hoje, sou o resultado de 25 anos de trabalho. As coisas aconteceram sempre de uma forma expontânea. Sempre criei para mim o que sentia na altura. Evidentemente, hoje sou uma mulher adulta com uma forma de estar diferente. Cresci, evoluí e acompanho os tempos.

A nível internacional, são 19 anos na Paris Fashion Week, 38 desfiles consecutivos. Apesar de não ter o poder financeiro das grandes multinacionais, não tenho medo de competir em termos de qualidade e de originalidade. Para lá estar, teimosamente, como tenho estado, é preciso estar ao nível dos melhores do mundo.

No seu processo criativo, em que é que se inspira habitualmente? Deixa-se influenciar mais pelas imagens e pelas experiências do dia a dia ou segue cegamente as tendências internacionais?

Nunca segui tendências. Tudo começa com um tema que me apeteça por alguma razão e, a partir daí, desenvolvo-o sempre à minha maneira, com o objetivo de me superar a mim própria. Procuro sempre fazer mais e melhor a cada coleção.

Sempre teve uma imagem irrepreensível. Como é que mantém o corpo tonificado e elegante que muitos elogiam? Tem a preocupação de fazer uma alimentação saudável ou tem uma boa genética?

Tenho a sorte de ter uma boa genética mas também tenho muitos cuidados, sobretudo com a alimentação. O exercício físico, por falta de tempo, tem sido um pouco descurado, mas toda a minha vida fiz ginástica.

Gosta de comer?

Sim, eu sou um bom garfo! Gosto de comida francesa, italiana, japonesa, madeirense…

Tem um prato favorito?

É difícil escolher um prato. Habituei-me a não comer gorduras nem fritos. Também não como carne de porco e evito os doces. Mas, de resto, como tudo.

Falou agora da gastronomia de vários países. Se tivesse que resumir a sua vida a um destino, qual seria?

Lisboa, apesar de a minha terra natal ser a Madeira e do meu local de trabalho ser Paris. Lisboa foi a cidade que escolhi para viver e é onde me sinto em casa.

Quais os cuidados de beleza que considera fundamentais?

Para o rosto e corpo, bons cremes e bons produtos de maquilhagem, além de uma boa alimentação, exercício físico, não fumar e ingerir pouco álcool.

A maioria das mulheres não resiste a uma boa ida às compras. Também é o seu caso? Qual foi, por exemplo, a compra mais megalómana que já fez?

Não sou grande consumista. Gosto de coisas boas mas acho que nunca fiz nenhuma compra megalómana.

Qual é o conselho de moda que daria às mulheres portuguesas?

O único conselho que gosto de dar é que devem vestir-se de acordo com as suas personalidades. Vivemos a era da não ditadura de moda. Há um leque de ofertas muito grande com o qual toda a gente se pode identificar e que toda a gente pode seguir.

Voltando à moda e à sua carreira, de que forma é que o Portugal Fashion, que numa fase inicial a ajudou a apresentar as suas coleções em Paris, lhe abriu portas?

Eu fui para Paris há 19 anos sozinha e assim estive durante vários anos. Um dia, o Portugal Fashion convidou-me para fazer um contrato de exclusividade com eles e passar a desfilar com o apoio deles. Foi importante financeiramente durante muito tempo. Neste momento, já desde 2015, estou em Paris de forma independente outra vez. Os últimos quatro desfiles foram assumidamente organizados por mim, sem qualquer apoio.

Apresentou 38 coleções em Paris, uma das capitais mundiais da moda. Há muita recetividade da parte do mercado internacional à marca Fátima Lopes?

Paris recebe os criadores que o são verdadeiramente. Os criadores únicos e originais costumam dizer que a moda não tem nacionalidade. Eu, felizmente, conquistei o respeito e o meu lugar no mundo da moda em Paris.

Sente que é mais valorizada no mercado internacional do que no mercado nacional? Há diferenças a esse nível? Quem é que sente que compreende melhor o seu trabalho?

Não me posso queixar. Evidentemente há mais imprensa especializada de moda no estrangeiro do que em Portugal, por isso tenho mais retorno mediático em termos de moda lá fora. Portugal sempre me recebeu de braços abertos e eu só tenho que agradecer a todos o apoio e a divulgação do meu trabalho, que sempre tive e continuo a ter.

Daqui a 25 anos como é que imagina a moda?

A moda é cíclica. Não acredito em muitas diferenças. Com certeza que haverá muitas novidades em termos de materiais, mas o design irá evoluir normalmente, como até agora.

Imagina-se a fazer 50 anos de carreira ou um dia destes deixa a moda e começa a fazer outra coisa qualquer?

Imagino-me a fazer 50 anos de carreira e muitos mais. Enquanto for viva e tiver saúde, irei trabalhar no que gosto e no que sei, que é criar a minha moda.

Texto: Margarida Figueiredo e Luis Batista Gonçalves (edição) com Paulo Costa (fotografia)