A Associação SORRIR tem como missão promover e salientar a importância de sorrir para a saúde, não pela ausência de doença, mas enquanto bem-estar físico, mental e emocional.

O movimento O MAIOR SORRISO DO MUNDO nasce em 2013 para reforçar esta mensagem e representa alegria, amor, saúde e bem-estar.

Figuras públicas e empreendedores aderiram à causa e partilharam os seus testemunhos. Conheça a história de Nilton.

O que é que o faz sorrir?

Nilton: A surpresa. Uma das regras do humor versa precisamente nisso. Tudo o que me apanhe desprevenido. Eu sou muito chato em termos de humor porque estou sempre à espera de desconstruir a piada, às vezes vou ver um espectáculo de humor e estou a tentar perceber o que vem a seguir. Quando me surpreendem e quando me trocam as voltas é quando eu sorrio e rio mais depressa.

Aquilo que o faz sorrir é o que o faz feliz?

Nilton: O que me faz feliz é acima de tudo ver os outros felizes e eu estar feliz, estar bem, estar em paz. Eu tenho alguma preocupação com o ser humano, irrita-me e fico infeliz quando vejo as pessoas mal dispostas, detesto a má disposição ou as pessoas que não estão bem com elas próprias e atacam os outros. A sociedade ainda precisa de evoluir para termos uma sociedade “normal”.

O que é uma “sociedade normal”?

Nilton: É uma sociedade que é tolerante, que não se ataca só porque sim, e hoje com as redes sociais vivemos tempos estranhos em que se arrasa uma pessoa facilmente nas redes sociais, por acaso funciono contracorrente quando vejo ataques diretos contra alguém nas redes sociais, não alinho e não alimento isso.

Sente que os portugueses se riem de tudo o que diz?

Nilton: Não e nem quero ser unânime. Quando falas para tanta gente, como é o meu caso, eu tenho em média 1 milhão e meio de pessoas a ouvir-me de manhã na RFM.

Mas é o humorista mais seguido em Portugal no Facebook

Nilton: Eu espero que as pessoas sorriam ou fiquem felizes com alguma coisa que eu faço, mas não tenho pretensão de agradar a toda a gente. Tenho uma página com mais de 500 000 seguidores, extingui a página “Eu amo você” com mais de 800 000 seguidores, a página da RFM tem quase 900 000 fãs, no twitter estou nos 10 primeiros que têm mais seguidores a nível nacional, por isso estou a falar para muita gente, não posso ter a pretensão de achar que todas as pessoas vão achar piada ao que escrevo ou ao que digo.
Acho que as pessoas nas redes sociais levam tudo muito a sério. Com cãezinhos e gatinhos está tudo bem, tudo o resto as pessoas falam mal.

Seguiu a carreira de humorista porque isso o fazia sentir bem ou porque o fazia bem ver os outros a sorrir?

Nilton: Em primeiro lugar faz-me sentir bem tudo o que eu quero na vida. Eu só faço o que me apetece e isso tem a ver com um estado de espirito. Tive que batalhar muito para ter tudo o que tenho hoje e trabalho muito. Trabalho 20 horas por dia mas sempre com a máxima: sorrir com o que faço e estar feliz com o que faço e se fizer os outros felizes, melhor.

Saiu um estudo que revela que os portugueses estão a sorrir cada vez menos, também foi divulgado que o consumo de antidepressivos bateu o record em Portugal no ano passado, que conselho pode dar aos portugueses que perderam o sorriso?

Nilton: Nós perdemos o sorriso ao longo da vida. Um estudo diz que as crianças riem 300 vezes por dia e os adultos entre 15 a 30 vezes. O conselho acima de tudo é para não se levarem tão a sério. Todos nós temos altos e baixos na vida. O segredo é tentar sempre rir com isso. A minha mãe, por exemplo, teve cancro da mama há 7 anos e sempre tentámos levar as coisas “a brincar”. Lembro-me da minha mãe sair do recobro a perguntar se lhe tiraram as maminhas, porque teve cancro da mama e eu disse: “não, cortaram-te foi os bracinhos, mãe”. (risos) Eu sou assim, costumo dizer que tenho a boca mais rápida do que o cérebro e brinco muito com isso.
Tento fazer todos os meses 2 espetáculos de solidariedade e vejo situações extremas, vejo miúdos com paralisia cerebral e que precisam de cadeira de rodas, situações graves de pessoas com cancro e as pessoas aderem muito quando alguém precisa de ajuda.
Agora vou tentar ajudar um miúdo aqui em Lisboa que está há 4 anos no IPO. E são situações bem piores do que alguém que me rodeia e vejo essas pessoas com problemas graves a sorrir. Há pessoas que deviam fazer um reset, pensar que há pessoas com problemas muito piores do que os delas.

O que é que falta aos portugueses que não analisam aquilo que se passa à volta deles, que acham que vivem um drama…

Nilton: Se calhar faz falta bater no fundo. Quando bates no fundo, tudo o que é para cima parece-te bem. Falta-nos alegria, somos um povo depressivo, lamentamo-nos muito e eu não sou assim.

Qual é que foi a maior adversidade pela qual já passou?

Nilton: A maior adversidade na realidade não tenho memórias dela, que foi ter de sair de Angola com os meus pais aos 4 anos, por causa da guerra e tanto os meus pais como o meu avô perderam tudo quando vieram para Portugal, mas não tive noção do que se estava a passar.
Por exemplo, saí de casa com 17 anos, mas a dar-me bem com os meus pais, não foi um ataque de rebeldia. Eu queria ser DJ e vi um anúncio no jornal Expresso a pedirem DJ’s para o Algarve, fui trabalhar para lá com essa idade.
Já anteriormente com 13 anos queria uns ténis da Nike, a minha mãe não me deu o dinheiro e fui trabalhar para as obras quinze dias na Páscoa para conseguir os ténis que eu queria. No Verão ia sempre trabalhar para conseguir as coisas que queria, mas sempre alegre, porque queria conquistar as minhas coisas, para tirar a carta, para comprar uma mota… Nunca tive outra atitude que não era o de querer as coisas, mas trabalhar para as conquistar.  

Porquê é que não seguiu a carreira de DJ?

Nilton: Fui DJ 12 anos. Gostava de ter tirado arquitectura e sempre gostei muito de desenhar, comecei a analisar as falhas das discotecas na decoração e foi assim que comecei a fazer decoração, depois acabei por criar uma empresa de design de interiores. Mas eu sempre quis escrever e em 1997 fiz a primeira experiência e comecei a apostar na comédia. Quando eu começo no Levanta-te e Ri já vivia da comédia numa lógica empresarial, que hoje em dia continua a ser a minha quota de mercado maior. Em 2003 já tinha um DVD gravado, no mesmo ano que começa o programa Levanta-te e Ri.

Ao longo da sua vida profissional qual foi o momento que trouxe mais sorrisos?

Nilton: No Levanta-te e Ri tínhamos uma carga menor em cima porque éramos mais despretensiosos, mais relaxados, não sabíamos o que era aquilo, nem o sucesso que estávamos a ter, eramos muito ingénuos. Essa foi uma fase muito feliz. Fiz muitos amigos que continuam até hoje, como o Francisco Menezes, Aldo Lima, Bruno Nogueira, Óscar Branco e o Eduardo Madeira.

Se pudesse contar uma história que gostasse que os seus netos lessem um dia, sobre o que seria?

Nilton: Sempre acatei aquilo que a minha mãe me disse, que não sou um individuo sozinho e sou tudo o que me rodeia. Fui DJ 12 anos e nunca experimentei drogas, não bebia álcool, nunca bebi café. Costumo dizer que sou um totó.
Também tenho uma postura de vida de ajudar o próximo, tenho orgulho nisso e gostaria de passar isso para o meu filho e para os que mais vierem, que é acima de tudo sentirem que és uma alma boa e que consegues fazer bem aos outros.

O que é que lhe falta fazer?
Nilton: Falta-me escrever. Eu chamar-lhe-ia um “livro grosso” que seria… as pessoas olhavam e diziam: “olha, ele escreveu um livro tão grosso, com tantas páginas” (risos). Também gostava de experimentar artes plásticas, tenho jeito, mas falta-me o tempo para isso.

Entrevista: Mafalda Agante

Mafalda Agante

Associação Sorrir