Ao contrário de muitos médicos, para Joaquim Seixas Martins
seguir esta profissão não era um sonho de criança nem, tão pouco, uma
tradição familiar.

Confessa que, no fundo, não tinha qualquer aproximação às
outras profissões e ser médico parecia-lhe uma boa opção na dualidade entre
fazer algo de que gostasse e ser útil às pessoas. «A vida é muitas vezes um acaso
e um caminho que se vai fazendo», explica.

Ser médico pode ter sido um acaso, mas ser cirurgião foi uma escolha bem
ponderada. «A cirurgia é, para mim, uma especialidade muito gratificante porque
vê-se o resultado automaticamente. E, para além disso, a cirurgia plástica,
reconstrutiva e estética é um campo muito abrangente, que permite a aplicação
de diversos tipos de técnicas e conhecimentos». É essa abrangência
que o prende no serviço público e privado ao mesmo tempo.

Hoje, para além de ser diretor clínico e fundador da Clínica Atlanta, mantém
o serviço no Hospital Egas Moniz, em Lisboa. Porque «se deixasse de estar
num hospital público, a fazer cirurgia reconstrutiva, a minha capacidade cirúrgica
ficaria reduzida a 20% daquilo que sei fazer e do que aprendi ao longo
dos anos», desabafa. E são essas duas valências, a reconstrutiva e a estética, que Joaquim
Seixas Martins quer manter.

Para além disso, conta-nos que, em hospital, trabalha-se em equipa e «a cirurgia plástica é muito versátil, principalmente pela
variedade de procedimentos que são requisitados». Tanto pode ser uma cirurgia

pós-obesidade, como uma cirurgia da mão ou um problema de queimaduras
graves. Já na Clínica Atlanta, o mais requisitado são lipoaspirações, abdominoplastias
e mamoplastias.

Quase 14 anos depois da inauguração da sua clínica, Joaquim Seixas Martins
pretende continuar a operar até aos 70 ou 80 anos. Isto porque, apesar de a
cirurgia imprimir «algum stress e pressão» e «exigir uma grande dose de auto-confiança», é um trabalho de precisão, interativo e prazeroso. «Acredito que as
pessoas que trabalham até aos 70, 80 anos têm realmente prazer naquilo que
fazem. E eu não penso sequer em reformar-me», confessa.

O que mais gosta no seu trabalho?

Não há nenhuma cirurgia de que goste mais. Há
algumas que não são tão interessantes mas, de
uma forma geral, não tenho um campo preferido.
Gosto da cirurgia em si. De fazer uma coisa e ver
o resultado. De modificar a pessoa.

Já operou alguém próximo de si?

Sim, já. Há cirurgiões que não gostam de o fazer
ou acham que não devem. Se eu não souber fazer,
não faço. Mas, se eu souber fazer, faço. A não ser
que saiba que há um colega meu melhor nesse
campo e aí recomendo.

Algum paciente o marcou de forma especial?

Depende, há sempre pedidos bizarros... Mas lembro-me de uma paciente que vinha fazer a cirurgia
de que talvez menos gosto, que é a cirurgia pós-obesidade. Tinha 25 anos, havia perdido 60 quilos,
depois de pôr uma banda gástrica e ficou com
imensas peles. Lembro-me de ela dizer «Quando
era gorda, eu não estava mal comigo mesma. Os
outros é que estavam e não me aceitavam. Mas
agora sou magra e tenho nojo de mim». E ouvir
uma rapariga tão nova a dizer isto é, de alguma
forma, impressionante.

Veja na página seguinte: O que faria se não fosse cirurgião plástico

O que seria se não fosse cirurgião plástico?

Não sei bem. Não penso muito nisso.

Quando me candidatei
à faculdade, a minha terceira opção era Economia
mas, se agora, não pudesse mais fazer cirurgia,
ia fazer outra coisa qualquer.

Acho que é
bom estar intelectualmente ocupado, mas gosto
muito da parte manual, de trabalhos de precisão,
de mexer nas coisas.

O que faz no seus tempos livres?

Antes, nas férias, gostava muito de ir para a Beira-Alta, para a terra dos meus pais, e ajudar na
agricultura, na jardinagem... E acho que isso é
muito importante na formação de uma pessoa.
Agora, aqui em Lisboa, não consigo fazer nada disso.
Mas gosto muito de apanhar sol, ler livros de
estudo, fazer desporto, correr.

Percurso profissional

Licenciado em medicina pelo Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Joaquim Seixas Martins especializou-se em medicina plástica reconstrutiva e estética pela Ordem dos Médicos. É assistente hospitalar de carreira médica hospitalar. É ainda sócio titular da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa da Academina Portuguesa de Medicina e membro associado da Federação Ibero-Latino-Americana de Cirurgia Plástica.

Texto: Ana Catarina Alberto