Marcámos encontro na loja vintage “A Outra Face da Lua”, em plena baixa lisboeta, onde FF é capaz de “perder facilmente a cabeça”, por se identificar com o estilo das roupas expostas. Ficámos a conhecer melhor o intérprete de “Saffra”, um disco que pretende ser uma “exceção à regra”.

“Saffra” remete-nos para um passado musical com a qualidade das orquestras, com uma musicalidade que entra e fica a bailar no ouvido. É um disco adulto, que não esperaríamos de uma pessoa de apenas 27 anos. Sente isso?
Eu sinto isso, mas acima de tudo e felizmente, o público sente isso. Este disco não é o meu primeiro, mas sinto-o como se fosse de facto o arranque da minha carreira como cantor, porque este é o meu caminho, é por aqui que eu quero ir. É um disco muito pensado, muito planeado, feito com muito cuidado, com muito carinho. Para mim este disco tem a minha idade, na medida em que representa todas as minhas influências e percorre tudo o que eu sempre escutei musicalmente.

E o resultado foi uma excelente safra?
Eu acho que sim, embora não me fique muito bem dizer isso. Mas este disco representa-me enquanto cantor, é a minha alma de artista, remete-me para as minhas memórias musicais de infância.

Que são?...
São Hermínia Silva, Carlos do Carmo, Simone de Oliveira, Amália Rodrigues e tantos outros grandes nomes do fado que eu ouvia em casa dos meus pais, mas sobretudo em casa dos meus avós, e pelos quais sempre nutri imenso respeito e admiração.

Escolhas musicais pouco comuns para a sua geração, concorda? E atualmente o que ouve?
Escolhas musicais sempre influenciadas pela minha família, que sempre foi apaixonada por música. A minha avó cantava imenso fado, não de uma forma profissional, mas em casa no dia-a-dia. Havia um fado, que está no meu disco, o “Fado da Sina”, que só ela cantava, não deixava que mais ninguém lá em casa o cantasse. Dizia que podia trazer má sorte aos filhos. Era aquela coisa de mãe, que quer sempre as dores dos filhos para si e protegê-los de tudo. Atualmente continuo a escutar o mesmo tipo de música, a que acrescentei Dulce Pontes e outros cantores que admiro.

Dulce Pontes, com quem gravou uma das canções de “Saffra”, o “Blues Transmontano”. Foi fácil convencê-la a participar no seu disco? Sendo um admirador sentiu uma responsabilidade acrescida?
Curiosamente foi muito fácil. Nós temos sempre aquela ideia de que as pessoas que admiramos são inatingíveis e afinal a Dulce Pontes estava à distância de uma mensagem. Eu mandei-lhe uma mensagem a expor o projeto e o meu pedido e ela aceitou logo. Fiquei muito feliz, não só por cantar com ela, que admiro desde miúdo, mas porque percebi que, afinal, ainda há gente muita generosa nesta indústria. Por perceber que os “grandes” estão perfeitamente disponíveis para ajudar e apoiar quem está a começar.

Não é que esteja propriamente a começar… Começou a cantar com onze anos no “Bravo, Bravíssimo” e nunca mais parou.
Sim, mas nessa altura não tinha grande noção da responsabilidade, era miúdo, estava ali a fazer uma coisa que adorava, que era cantar. Nem percebi muito bem a dimensão daquilo.

Algumas figuras públicas, como o Goucha e a Simone de Oliveira, teceram-lhe os maiores elogios, não só à sua voz, mas à qualidade de “Saffra”. Orgulhoso?
Como não? O mais possível, até porque a Simone é uma das minhas referências. Aliás, nos meus espetáculos canto uma versão da “Desfolhada”, que tem tudo para transitar para o próximo disco e que é sempre muito bem recebida pelo público. Curiosamente descobrimos que a “Desfolhada” nunca foi gravada por um homem, tem sido sempre uma canção feminina.

A maior parte das pessoas começou a conhecê-lo quando apareceu nos “Morangos Com Açúcar”. Tinha 18 anos, já era mais crescido. Que memórias tem dessa época?
As melhores. Tínhamos um excelente ambiente nas gravações, eu tinha acabado de sair da Escola de Teatro de Cascais e consegui conjugar as duas coisas de que mais gosto, cantar e representar. Depois aconteceu tudo muito depressa, a série, a personagem que saltou da série, que gravou um CD, que gravou um videoclipe no Coliseu… Acho que foi tudo demasiado depressa, não havia grande tempo para pensar. De repente parecia que toda a minha carreira já estava parametrizada, sequenciada…

O seu caminho agora é completamente diferente…
Foi preciso parar, voltar a assentar os pés no chão e repensar tudo o que eu queria fazer com a minha vida.

E chegou à “Saffra”, que do “boom” comercial que foi o seu primeiro CD (“Eu Aqui”, 2006) tem pouco?
Não tem nada mesmo. A “Saffra” não é um CD comercial nem é esse o objetivo. O objetivo é mostrar-me enquanto cantor e identificar os meus gostos e o meu estilo musical.

É um cartão de visita?
É. É isso mesmo, um cartão de visita.

Qual seria o convite profissional de sonho que lhe podiam fazer agora?
Ter a Dulce Pontes a cantar comigo ao vivo, num dos meus espetáculos.

E fora de Portugal? Broadway?
Não, neste momento não. Já foi, na altura em que estive a trabalhar no “Melhor de La Féria”. Agora… sei lá… gravar com os grandes maestros internacionais, cantar com as orquestras… O mundo é o limite.

E a televisão? Depois de sair dos “Morangos Com Açúcar” ainda fez uma novela, “Feitiço de Amor”, mas a partir daí só o vimos em “A Tua Cara Não Me é Estranha”. Não tem saudades de representar?
No fundo, estar no programa “A Tua Cara Não Me É Estranha” também foi representar, porque tinha de entrar nas diversas personagens. E quando trabalhei com o Filipe La Féria também conjuguei as duas coisas. Mas se quero concentrar-me na música não me posso dispersar, tenho de estar focado.

Quem muitos burros toca…
Algum tem de ficar para trás. É um bocado isso, não conseguiria estar a fazer bem e a dar o meu melhor nas duas coisas neste momento, por isso, agora é música. É o meu caminho, tenho de apostar tudo nele.

E fora do trabalho, quem é, afinal, o FF?
Não sei como responder a essa pergunta. Sou uma pessoa normal, acho eu. Um bocado “morcego”, porque gosto do silêncio da noite para trabalhar, para escrever… Deito-me às cinco, seis da manhã e levanto-me tarde. É mais fácil para mim ter uma conversa decente às três da manhã do que às três da tarde.

Escolhemos mal o horário desta conversa (16 horas)?
(Risos). Não, acho que não, até está a fluir.

Se abrirmos o seu frigorífico o que encontramos?
Muita coisa. Iogurtes, queijo, fruta, saladas, legumes para sopa, sumos…

Cozinha?
Nada. No máximo faço uns ovos mexidos, mas sou ótimo a fazer compras de supermercado.

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