Maria Botelho Moniz estreou-se como atriz na série online ‘T2 para 3’. Desde sempre apostou na formação como complemento para o sucesso, mas continua a lutar diariamente para vingar neste meio. Estreia-se agora no papel de apresentadora após ter sido a vencedora do casting do programa Curto Circuito.

Quando surgiu a vontade de seres atriz?
Eu não me lembro de não querer ser atriz. Lembro-me de mim muito pequenina, com cerca de quatro ou cinco anos, a apontar para a televisão e dizer que queria estar ali dentro. Cresci com isso na cabeça. Como é óbvio como qualquer criança quis ser bailarina e veterinária e muitas outras profissões, mas muito porque tinha vergonha de dizer que o que realmente queria era ser atriz. Como nunca ninguém dizia na escola que queria ser atriz eu também não queria dar essa resposta, porque achava estranho ser diferente.

E o que fizeste para seguir esse teu sonho?
Mudei-me para a escola americana para ficar com um inglês perfeito, ou pelo menos melhor para depois com 18 anos poder ir viver para os EUA e tirar lá o meu curso superior. Fui muito influenciada pela série “Fame” e sempre acreditei que era numa escola como aquela que eu me ia sentir bem.

É o mundo artístico que te fascina em geral e não somente a carreira de actriz?
Sim. Sou uma grande fã de teatro musical. Não sou uma excelente cantora mas gostava de ser. Todo o mundo artístico é de facto fascinante… Até se entrar nele! Depois as coisas mudam, tudo se torna mais difícil e os nossos olhos já não veem a mesma coisa. Mas senti-me concretizada em fazer as coisas desta forma.

Porquê que escolheste ir para fora e qual a maior diferença que sentiste em relação a Portugal?
Há muita coisa diferente. Eu pesquisei muito e simplesmente achei que o programa do Conservatório dos EUA se adequava muito mais ao que eu queria fazer. É um programa muito mais abrangente: aprendi a cantar, dançar, fazer maquilhagem e cabelos, a lutar com armas, fiz mil e uma coisas e saí de lá muito mais preparada. E pode parecer estranho mas lá eu tinha muito mais trabalho do que aqui.

Então porque decidiste voltar?
Eu voltei simplesmente porque fiquei sem visto. Eu acabei o curso, o governo americano ofereceu-me um ano de visto para procurar trabalho lá, mas como ator tu vais trabalhando mas nunca tens um contrato fixo e por isso tive de me vir embora. Também não me arrependo ter voltado, fez-me bem o choque com a realidade. Eu só conhecia o meio artístico nos EUA, aqui em Portugal não sabia nada por isso tive de começar do zero.

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Quanto tempo demorou até conseguires o primeiro trabalho em Portugal?
Um ano e meio. Só passado este tempo surgiu a oportunidade do “T2 para 3”, uma série online do Sapo. O dinheiro era pouco, a produção era pequena, nós atores fazíamos tudo, desde guarda-roupa a cabelo. Mas tivemos a sorte de termos um público muito fiel, cerca de 50 mil pessoas que nos viam diariamente. E até hoje há pessoas que vêm ter comigo na rua e me dizem “Tu és a Patrícia do T2, eu via-te todos os dias”, e isto é das melhores coisas de se ouvir. Foi um projeto pioneiro por ter sido a primeira série a ser feita em exclusivo para online em Portugal, e tenho muito orgulho em ter feito parte deste projeto.

E sentes que neste projeto, devido aos poucos recursos que tinham, conseguiste aplicar um pouco do que aprendeste nos EUA?
Claro que sim. Nos EUA há aquelas mega produções de milhões, mas isso simplesmente não chega a toda a gente. Todas as produções que trabalhei eram produções independentes, ou seja, filmes com pouco dinheiro, por isso desde sempre aprendi a desenrascar-me. Eram lutas diárias, em que tínhamos de batalhar para conseguir sucesso num pequeno papel.

Ainda tens uma ideia um pouco romântica da profissão de atriz?
Tinha! Mas já caí na realidade.

Quando é que isso aconteceu?
Quando voltei dos EUA! Antes de ir, com 18 anos, apanhei o princípio da ‘Geração Morangos’, mas não fiz nenhum casting porque queria aprender antes de me pôr à prova. Tenho como princípio não tentar fazer coisas sem antes aprender a fazê-las.

Isso significa que para ti a formação é essencial?
Sim! Na minha opinião é completamente essencial mas acredito que isso se esteja a perder hoje em dia, com muita pena minha.

No teu caso a formação no estrangeiro compensou?
Sim e não. A formação compensa sempre de alguma forma porque nos dá bases. No entanto no meu caso enquanto eu estava a fazer formação nos EUA Portugal estava a viver o grande ‘boom’ dos jovens atores, causado principalmente pelos ‘Morangos com Açúcar’. Perdi um pouco este comboio… Mas quando voltei achava que ia ser bem sucedida, exatamente por estarem a apostar nos jovens talentos, mas estive um ano e tal sem trabalho. Depois acabou por surgir o “T2 para 3” e depois disso consegui o papel na novela “Podia acabar o mundo”. Com esta personagem achei que era a partir daí que as coisas iam mudar porque foi uma personagem muito completa e que exigiu muito de mim. Ela teve cancro, fez abortos, esteve a morrer, sobreviveu, casou, tudo aconteceu… Mostrei todas as emoções possíveis e imaginárias e depois estive mais um ano e meio sem gravar!!! Depois desse período surgiu o convite para fazer o papel de Alice em “Laços de Sangue”.

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Achas que se a tua personagem tivesse tido outro rumo terias tido outra hipótese de provar o teu valor como atriz?
Eu sabia desde o início que a minha personagem ia morrer, porque era a morte dela que despoletava toda a ação da novela. Mas obviamente que tive pena porque apesar de só ter feito seis ou sete episódios tive uma preparação enorme para esta novela. Mas no final de contas e apesar de tudo foi uma grande honra fazer parte de um projeto como este, com a parceria da Globo.

E como foi a passagem da Maria atriz para a Maria apresentadora?
Foi depois de ter terminado os ‘Laços de sangue’. Não tinha trabalho, não tinha projetos de trabalho nem convites e por isso tive que começar a lutar outra vez. Um dia liguei a televisão na SIC Radical e estava a passar o anúncio para o casting. Não pensei duas vezes e inscrevi-me. Eram dois mil candidatos e eu fui passando por todas as eliminatórias e fui conseguindo ficar. Fiquei nos 24 finalistas e acabei por ser a selecionada.

Como reagiste à notícia de ser a vencedora do CC Casting deste ano?
Fiquei muito contente, mesmo. Sabia a importância que este casting tinha e que se o vencesse a minha vida ia mudar e tomar um novo rumo. Logo depois de ficar contente, fiquei nervosa! O Curto Circuito é um programa com muita história e já passaram por lá nomes incontornáveis da televisão, agora está nas nossas mãos dar continuidade a um programa tão mítico como este.

Como estás a viver esta nova fase como apresentadora?
Tem sido muito bom e estou-me a divertir muito! Começar lado a lado com o João Arroja e fazermos quase todos os programas juntos tem ajudado a criarmos uma química dentro e fora do estúdio. Estou feliz com a oportunidade que me deram e espero estar à altura da aposta que fizeram em mim. Vou dar o melhor todos os dias e esperar que tudo corra bem, vou aproveitar ao máximo este tempo no Curto Circuito.

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De que forma este novo passo pode influenciar o rumo da tua carreira?
Este programa é considerado uma das grandes rampas de lançamento na televisão, já o foi para muitos dos apresentadores anteriores. Estar em direto duas horas todos os dias dá uma estaleca enorme, aprendemos logo a trabalhar com imprevistos a todo o momento, a lidar com telefonemas menos agradáveis dos quais não podemos fugir, a ter atenção a uma série de coisas ao mesmo tempo e sobretudo a termos uma concentração imensa durante as duas horas de programa. O Curto Circuito pode influenciar o rumo de qualquer carreira, se o trabalho for bem feito e se o fator sorte estiver do nosso lado, porque não é qualquer pessoa que tem a experiência de diretos, especialmente diários, como nós estamos a ter no Curto Circuito. Acredito que uma boa prestação neste programa pode levar as pessoas longe.

Estás zangada com a representação?
Não, zangada não. Mas se me perguntares o que quero fazer o resto da vida não tenho dúvidas que é representar. Simplesmente as coisas não estão fáceis e devemos aproveitar todas as oportunidades que surgem pois essas mesmas oportunidades podem-nos abrir portas. Além de que nesta área somos como um polvo, temos que saber um pouco de tudo, por isso a apresentação é mais uma aprendizagem para mim.

Qual é o teu maior sonho de carreira enquanto atriz?
Posso sonhar alto? O meu sonho é o sonho de qualquer ator: fazer parte de uma grande produção que tenha sucesso internacional e com isso conseguir pôr o meu nome no mapa. Também gostava muito de fazer uma longa metragem de época, só fiz trabalhos na época contemporânea e gostava muito de vestir aqueles corpetes e saias longas, e interpretar uma personagem de leque na mão.

Gostavas de ter um contrato de exclusividade ou preferes a emoção de não saber o dia de amanhã?
Assinava já amanhã!!! Estamos em crise, gosto muito da ideia de freelancer mas isso é muito bonito para quem já tem uma carreira estabelecida e que tenha muitos trabalhos. Eu não sou uma dessas pessoas, luto diariamente pelo meu lugar ao sol e por isso se alguém me garantisse trabalho eu não precisava de pensar duas vezes. É uma segurança para um ator.

Sentes-te preparada para continuar a lutar pelo teu sonho?
Sim… Há dias mais instáveis que outros e em que nos vamos abaixo, mas há dias em que acordamos confiantes e é nesses que temos de lutar ainda mais.

Por Patrícia de Sá Oliveira

*Esta entrevista foi escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico