Na adolescência, Sónia Quintela foi campeã nacional de natação nas modalidades de 400, 800, 1500. Aos 37 anos decide dedicar-se ao Triatlo, juntamente com o marido, Pedro Quintela e, os dois, juntam-se à equipa Compeed Tri-Oeste, onde competem até hoje.

Campeã nacional de Triatlo em 2008/09 e ibérica em 2009, a triatleta acaba de regressar da Florida, onde participou no seu primeiro Ironman.

Actualmente, Sónia vive no Ribatejo, onde se divide pelas aulas que lecciona, pelos árduos treinos de triatlo e pela vida em família, com dois filhos pequenos.

Recém-chegada da prova Ironman, como define a sua performance, uma vez que foi também a sua grande estreia?
Foi uma performance satisfatória, mas estava à espera de melhor de mim própria. Durante a corrida tive alguns problemas do aparelho digestivo, que me levaram a desidratar e a não conseguir comer. Por consequência, comecei a perder força e acabei por chegar à meta desidratada e em hipotermia.
De qualquer forma, encaro este Ironman como o primeiro de muitos. A sensação de vitória de ter conseguido terminar a prova e ter ficado em 16ª, de um total de 135 atletas do meu escalão, é muito boa e encorajadora.

E porque se denomina Ironman em vez de Ironwoman?
O primeiro Ironman foi organizado por um casal, em que quem conseguisse terminar o desafio no menor tempo possível seria a pessoa mais forte, sendo que na altura a prova levava alguns dias. Como foi um homem que ganhou ficou denominado de Ironman.

Considera que estamos perante provas consideradas mais masculinas ou tratasse apenas de uma coincidência?

Pode ser considerada uma prova mais masculina, na medida em que para se fazer um desafio deste nível é necessário uma grande preparação física, o que acarreta muitas horas de treino. Na nossa sociedade, a mulher tem a seu cargo muitas responsabilidades, que lhe são inerentes e às quais o homem por vezes não contribui, ficando assim com menos tempo para se dedicar a uma prova destas.
Ainda assim, ao nível profissional temos atletas femininas com resultados muito bons.

Como surgiu o bichinho do desporto na sua vida?

Desde pequena sempre fui um pouco arrapazada, sempre joguei à bola com os meus amigos, fiz hipismo e patinagem artística. Até ao dia em que fui para a natação e comecei a competir. Sempre fui muito competitiva, como se costuma dizer “nunca gostei de perder, nem a feijões”, por isso dediquei-me a 100% e tive um treinador que puxou muito por mim, e que ainda hoje esta no meu coração (o Francisco Alves). Tudo o que alcancei a nível desportivo devo-lhe a ele e aos meus pais que sempre me apoiaram.
Na natação obtive excelentes resultados e fui Campeã Nacional aos 400, 800 e 1500m livres durante muitos anos. Acabei por ter de abandonar a competição devido a uma lesão característica dos nadadores, uma tendinite no ombro.
Em relação ao Triatlo, começou por brincadeira. As atletas do clube a que ainda pertenço não tinham equipa feminina e convidaram-me e eu aceitei logo. Nas primeiras provas fiquei nos últimos lugares, e admito que tive quase a desistir, mas não, comecei a treinar e com a ajuda do meu treinador, o Hélder Milheiras, fui atingindo alguns resultados razoáveis e ganhando coragem e motivação para continuar.
Acabei por entrar para a equipa Compeed Tri-Oeste, onde me encontro ainda hoje, alcançando lugares no pódio e com distinções internacionais (campeã ibérica de triatlo longo em 2009).

E quando é que decidiu que queria levar mais a sério esta vocação?

Foi quando comecei a fazer triatlo de longa distância e senti que ainda muito a dar ao meu clube, à equipa Compeed Tri-Oeste e a mim própria. É uma prova para atletas mais velhos e põe à prova as capacidades individuais do atleta, na medida em que não é permitido drafting, isto é, não podemos andar na roda de ninguém e consequentemente usufruir de outros atletas.

Natação, ciclismo e corrida...como se prepara para estas provas diariamente?

Treino todos os dias duas vezes por dia, alternando as modalidades: um dia corrida e natação, outro ciclismo e natação e noutro faço as três modalidades juntas para treinar a transição da bicicleta para a corrida. Isto porque os músculos que trabalham na bicicleta não são os mesmos da corrida e é fundamental trabalhar o corpo para o que vamos fazer na prova.
Para o Ironman da Florida treinei durante 12 semanas seguidas, entre 25 a 28 horas semanais, sem interrupções.

E como concilia esta actividade com a maternidade?

Não é fácil, mas com dedicação conseguimos tudo. O meu marido também participa em provas de Triatlo, tendo inclusive participado no Ironman da Florida comigo, e normalmente treinamos juntos. Deste modo, aproveitamos maioritariamente os tempos escolares dos nossos filhos para treinar, sendo que conto também com a ajuda preciosa da minha mãe. Quando é totalmente impossível conciliar, alternamos e vamos treinar um de cada vez.

Não há muitas mulheres a dedicarem-se assim ao desporto. Pelo menos em Portugal. Será uma razão cultural?

Acredito que sim, que é mesmo uma questão de cultura, sendo que, no geral, as mulheres são um pouco mais desinteressadas pelo desporto. Mas, esta situação está a mudar e, hoje em dia, no Triatlo por exemplo, temos vindo a aumentar consideravelmente o número de atletas femininas.

Considera-se verdadeiramente uma "mulher de ferro"?

Considero que sim! Consegui terminar a prova e, a partir daí, sou uma “mulher de ferro”, tal com o nome da prova o indica.

Conta já com distinções internacionais, qual o seu grande sonho?

O meu sonho neste momento é ser qualificada para o Hawaii, local onde se realiza a final mundial do Ironman, e onde me poderei encontrar entre as melhores do mundo. Vou treinar com todo afinco, assim tenha saúde para o fazer!