A Associação SORRIR tem como missão promover e salientar a importância de sorrir para a saúde, não pela ausência de doença, mas enquanto bem-estar físico, mental e emocional.

O movimento O MAIOR SORRISO DO MUNDO nasce em 2013 para reforçar esta mensagem e representa alegria, amor, saúde e bem-estar.

Figuras públicas e empreendedores aderiram à causa e partilharam os seus testemunhos. Conheça a história de Cristina Baptista.

O que é que a faz sorrir?

Cristina Baptista: Há imensas coisas que me fazem sorrir: um sorriso, as pessoas, apreciar a natureza, o mar. O sorriso é algo fascinante, é transformador.

Quais são os seus sonhos?

Cristina Baptista: Um país mais sorridente. Pessoas mais sorridentes.

Como é que se faz isso?

Cristina Baptista: Durante anos na minha consulta de ortodontia as pessoas procuravam um sorriso bonito. Depois de 20 anos a construir sorrisos enquanto ortodontista e professora universitária na busca da beleza de um sorriso, senti a necessidade de criar uma visão integrada, que alia a dimensão física, através da componente clínica, à dimensão emocional com atividades que promovem vitalidade e alegria.

O médico pode dar sorrisos esteticamente perfeitos, mas está nas mãos de cada paciente trabalharem a beleza do seu sorriso. Aconselhava os meus pacientes a realizarem atividades que os fizessem sorrir e foi assim que nasceu em 2004 a Associação Sorrir. Depois percebi que tinha de estudar mais para perceber a beleza de um sorriso e comecei a estudar neurociência. Os pais levavam os filhos às consultas para terem um sorriso bonito, para colocarem aparelho, mas pensei que tinha de se fazer também algo nas escolas e é assim que nasce a Smile Dance nas Escolas.

A Smile Dance nas Escolas é um projeto vencedor da Missão Sorriso. Quais são os próximos passos?

Cristina Baptista: Com a Missão Sorriso é possível equipar escolas do ensino básico que não têm sistemas de som e que são importantes para se aplicar a Smile Dance que é transmitida aos alunos através de professores e técnicos de saúde. O que gostaríamos era que isso pudesse ser acessível a todas as crianças do ensino básico.

Quais são os principais objetivos da Smile Dance nas Escolas?

Cristina Baptista: Utilizamos a neurociência aplicada numa atividade que os faz sorrir e dançar, associando os benefícios de ambos e que lhes permite vivenciar aspetos de socialização, tais como fazer amigos, lidar com a rejeição, como lidar com os medos, valorizar os talentos, celebrar a vida, como liderar ou trabalhar em cooperação. Para além disso, trabalhar o afeto liberta dopamina, a dopamina aumenta a capacidade cognitiva, torna as crianças mais afetuosas, o que diminui o bullying. O objetivo é passar a mensagem de que é importante sorrir, que é também o papel d’ O Maior Sorriso do Mundo. Com O Maior Sorriso do Mundo temos a expetativa de angariar fundos para equipar ainda mais escolas e poder fazer a formação a um nível nacional, de uma ferramenta que é simples. A alegria e uma atitude mais amorosa geram saúde, não pela ausência de doença, mas enquanto promoção do bem-estar físico, mental e emocional, alcançando assim uma sociedade mais saudável, com mais amor. É este sonho que me move.

Que conselho dá aos portugueses que perderam o sorriso por qualquer motivo?

Cristina Baptista: É sempre difícil dar conselhos. Conheço pessoas que têm motivos para chorar e sorriem e pessoas que têm motivos para sorrir e choram. É muito difícil sorrir quando se está numa fase complicada, mas é possível, porque há quem consiga. É um trabalho interior, procurar o sorriso. Eu consegui e consigo todos os dias.

Seja um sorriso “verdadeiro ou falso”, o cérebro liberta endorfinas. As pessoas devem treinar o sorriso para obterem a sensação de “bem-estar”?

Cristina Baptista: Ter a capacidade contemplativa de perceber a beleza da vida é um sorriso que vem de dentro para fora. Eu vou sorrir com os olhos para algo que aprecio. Quando sorrimos com os olhos, libertamos dopamina. O sorriso é uma escolha, precisamos de valorizar o que temos. Devemos ter a consciência de que existem motivos para celebrar a vida, sempre!

Qual a maior adversidade que teve?

Cristina Baptista: Aos 27 anos tive uma trombose da ilíaco-femoral profunda, ou seja um “aglomerado” de sangue entupiu a veia principal da perna. Eu era magra, tinha tensão e colesterol baixos. Submeti-me a exames exaustivos, que revelaram que tenho défice hereditário de anti-trombina III – uma substância que faz o sangue ficar mais líquido. Mas se eu tenho este défice desde que nasci, pensei o que teria causado uma trombose precisamente nesse dia. Vivia um “quadro” emocional bastante difícil. Como não soube parar a tempo, o meu corpo encontrou a maneira de o fazer, literalmente, já que no hospital tinha de ter a perna levantada e a cabeça baixa – não podia, sequer, ler ou ver televisão. Só podia comer, dormir, pensar e sentir. Refleti sobre o que queria para mim e quais eram as minhas prioridades. Neste período não gostava de ter visitas. Ficava pior depois de saírem, lia-lhes nos olhos o pensamento, “tão nova para ficar numa cama”. Questionava “porquê eu?” e chorava. Afligia-me que pudesse deixar o meu filho sem mãe, com 3 anos acabados de fazer. Chorava de impotência quando ele me abraçava e dizia “quando voltamos para casa, mãe?”. No meio do desespero, também tinha a consciência de ter tido muita sorte, a verdade é que podia ter morrido quando, afinal, estava a olhar para o meu filho que brincava aos pés da cama. Só me sentia bem sozinha, a pensar no que queria fazer depois de sair daquela cama, o que é que tinha a aprender com aquela doença, o que queria mudar na minha vida.

Como é que ultrapassou essa situação?

Cristina Baptista: A minha atividade preferida era imaginar uns “glutões” como os do detergente do filme publicitário que adorava ver na infância. Aqueles bonecos verdes que comiam as nódoas eram agora os meus “glutões” – que visualizava a “comerem” o meu trombo e a “desentupir a canalização”. Fazia-o para passar o tempo mas também porque a ideia me agradava. Afastava tudo o que me deixasse triste ou pessoas pessimistas e pensava o mais possível em coisas divertidas. Tinha diálogos internos positivos, incentivava-me a mim própria e, quando conseguia algo de que antes não era capaz, felicitava-me com palmadinhas nas costas. E, acima de tudo, incentivava-me a sorrir. Ao fim de 2 meses voltei a andar e recomecei a fazer uma vida quase normal. Ainda hoje, apesar de ter sido muito difícil lidar com uma trombose aos 27 anos, sinto-me muito grata pela oportunidade que me foi dada. Anos mais tarde consultei um cirurgião vascular que me disse: ”é impossível você ter tido uma trombose, são anos e anos a ver pernas e as suas não têm sequelas” – mas os exames pedidos não mentiam. Quinze anos depois da trombose, a pedido do banco, fiz uma ressonância magnética do trombo. Misteriosamente, tinha desaparecido. Não restavam quaisquer vestígios. Dizem os médicos que é um milagre.