Rodeada de familiares, médicos e amigos, Sónia Brazão apresentou no Teatro de São Luiz, em Lisboa, o livro “Não Desisto” – um relato na primeira pessoa de tudo o que aconteceu depois da explosão (quase fatal) em sua casa, em 3 de Junho último. Minutos antes do evento, a atriz conversou com o SapoMulher e revelou o seu maior sonho: “Ficar com a pele totalmente bem”.

Qual foi a motivação para escrever este livro, “Não Desisto”?

Foi um desafio. A editora Livros d’Hoje pediu-me para escrever este livro e eu aceitei. Serviu sobretudo para exorcizar todo este drama que se abateu sobre a minha vida. O meu objetivo é dizer às pessoas que neste processo todo também há coisas positivas. É doloroso mas se servir para dar esperança a alguém, fico feliz.

Continua a ir ao hospital de São José visitar os doentes internados na Unidade de Queimados, onde você esteve?

Ainda na segunda-feira passada estive lá para cantar os “parabéns a você” a uma das queimadas que também foi vítima de uma explosão. Passei a ter contacto com uma realidade que eu desconhecia, que a maioria de nós desconhece, e ainda bem.

Sente que cresceu com esta experiência?

Cresci imenso. A vida hoje tem outro sabor porque ali, no hospital, foi o meu segundo nascimento. A partir do dia 3 de Junho tive de aprender tudo de novo, a mastigar, a respirar, a andar, a ir à casa de banho, a deixar as fraldas, a superar a dor, embora nunca me deixassem sofrer muito. Foram muito atenciosos comigo, apesar de qualquer movimento ou qualquer aproximação a mim fosse sinónimo de dor.

Ainda se lembra do sofrimento?

É incrível como é o cérebro humano, mas eu já não tenho memória da dor. Lembro-me sim do momento em que consegui respirar sozinha. Esse foi um momento de grande felicidade.

Quando estava a escrever o livro, também se comovia como agora?

Sou de lágrima fácil e quando recordo o que me aconteceu, ainda me comovo. De tal forma que ainda não consegui ler o livro depois de ele ter sido editado, só li as provas que me fizeram chorar ainda mais. E rir. Também me ri com o livro…

Quanto tempo demorou a escrevê-lo?

Não foi escrito todo de seguida, fui escrevendo conforme podia, seguindo sempre a orientação da editora, que também me ajudou. Demorei sensivelmente dois meses e meio.

Alguma vez imaginou que ia escrever um livro?

Nunca. E muito menos por este motivo.

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Ficou com vontade de escrever mais?

Fiquei. Gostava de escrever um conto para crianças, gosto de escrever contos, mas ainda tenho muito que caminhar neste percurso da escrita.

Fisicamente já está bem?

A mobilidade sim. A pele não. Ainda tenho muitas bridas ao longo de todo o corpo, por isso vou todos os dias ao hospital fazer tratamentos à pele. Em breve vou começar com um tratamento de despigmentação nas zonas mais afetadas e, possivelmente, algumas partes ainda terão de ser submetidas a cirurgia.

Está preocupada com as sequelas das queimaduras?

Quando estava no hospital pensava mais nisso. Agora nem tanto. Estou conformada, se ficar com algumas cicatrizes, paciência, são as marcas da vida!

E o trabalho?

Ainda não estou preparada. Nem consigo ir a reuniões. Nem sei se o meu caminho será por aqui. Por enquanto não posso apanhar sol, tenho de ir ao hospital todos os dias, é difícil assumir qualquer compromisso com estas limitações e muito menos fazer televisão. Mas teatro, hei-de fazer toda a vida!

Está lindíssima. Já recuperou o seu amor-próprio?

Todos os dias recupero um bocadinho. Tenho amigos fantásticos que me ajudam.

Já gosta de se ver com o cabelo curto?

No início custou-me muito mas agora já estou habituada. Acho que foi das coisas que mais me custaram!

Qual é o seu maior sonho?

Ficar com a pele totalmente bem.

Está feliz?

Sempre fui feliz, já fiz muita coisa, dancei, cantei, representei e todos esses momentos me deram muita alegria. A felicidade não é um estado, a felicidade é feita de momentos. E este momento, em que estou a apresentar o meu livro, é de grande felicidade. E espero continuar a ter muitos momentos de felicidade pela vida fora.

(Texto: Palmira Correia)

(Fotos: Bruno Raposo)