Dono de uma biodiversidade enorme, Portugal é um país onde, salvo raras exeções, as belezas naturais ainda são muitas. Por isso, antes de fazer as malas e partir para o estrangeiro pondere conhecer a fundo o que a natureza nacional tem para lhe oferecer. Pelo caminho, proteja-a e passe a palavra. Cá e lá fora! Em turismo ou até como modo de vida… Porque também há cada vez mais pessoas a trocar a cidade pelo campo…

Surge agora uma nova tendência, mais próxima da natureza e mais sustentável que começa a ter adeptos um pouco por todo o mundo. São inúmeras as histórias de quem larga empregos na cidade e se instala no campo, na serra, na praia, para reduzir o stresse e usufruir da calma que este modo de vida inspira.

As comunidades sustentáveis, as ecoaldeias, entre outros projetos, proliferam um pouco por todo o lado, ao mesmo ritmo que inúmeras pessoas se vão cansando da vida citadina e percebem que a natureza lhes dá tudo o que precisam. É um novo regresso ao estilo de vida simples, que também se materializa em muitos dos (novos) empreendimentos turísticos que têm surgido em Portugal nos últimos anos, como é o caso das Casas do Lupo, na Lapa do Lobo, nos arredores de Nelas.

Mais a sul, no Alentejo, por exemplo, encontramos em Odemira uma ecoaldeia na verdadeira aceção da palavra, uma vez que já tem cerca de 100 habitantes, apesar de serem quase todos estrangeiros. Como esta, outras lhe seguem os passos em vários locais do país e são já quase 50 os projetos ligados a quintas e pequenas aldeias que aderem a esta filosofia de vida.

Um desejo de mudança que se converteu em projeto de vida

O casal Atzar e Xenia, ambos de 57 anos, espanhóis de nascimento, viviam e trabalhavam em Barcelona, mas tinham o sonho de mudar a sua rotina. Começaram por procurar comunidades próximas da cidade, mas não encontraram algo que os satisfizesse. Viraram-se para a Galiza, mas foi em Portugal, perto de Cabeceiras de Basto, no distrito de Braga, que encontram o local ideal para instalar o seu projeto, a Ecoaldea Vegetariana Espiral.

Xenia, a esposa, relembra que, quando decidiu deixar o trabalho de bióloga que tinha em Barcelona, começou a fazer formações sobre saúde, psicologia, alimentação para as aplicar na sua vida. A ecoaldeia, que ocasionalmente também recebe turistas, ainda só tem oito habitantes. O casal e os seus dois filhos, de onze e 15 anos, a par de um outro casal que entretanto aderiu a este projeto, igualmente com dois filhos, de 12 e 17 anos, mas procura atrair mais interessados, divulgando a aldeia a nível internacional, num máximo de 50.

«As pessoas que vierem para a comunidade terão de partilhar as nossas ideias», advertem. Sustentabilidade, vegetarianismo, educação respeitosa e espiritualidade são as regras que defendem. «Só assim fará sentido», garantem. A ideia é que o espaço seja auto-sustentável, com a prática de permacultura, integrando plantas, animais, construções e pessoas de forma construtiva e harmoniosa.

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Turismo de natureza em Portugal

Se o caso da ecoaldeia é a forma mais radical de uma vida próxima e em função da Natureza, é verdade que não precisa ir tão longe para usufruir do que o planeta tem para nos oferecer. Comece por mergulhar na natureza aos poucos, fazendo uma desintoxicação digital de forma gradual, tirando férias ao ar livre, na montanha, nos parques, nas florestas, nos rios, sempre com um foco pedagógico e de conservação dos espaços naturais.

Leve as suas crianças a fazer atividades diferentes, interagindo com a flora e com a fauna, conquistando-os aos poucos. Em pouco tempo, elas deixarão de reclamar com a falta do Wi-Fi, da rede de telemóvel e das consolas de jogos. Portugal é muito rico em património natural e, apesar de ser um país pequeno, tem uma diversidade invejável, seja de plantas e árvores, seja de animais e de vida marinha.

Conhecê-los, de forma respeitável, ajuda a preparar as gerações futuras para a importância de manter esta herança. É um excelente destino de turismo de natureza, que começa a ter muita procura, sobretudo por turistas do norte da Europa que procuram algo mais do que simplesmente o sol e as praias nacionais.

Por isso, antes de fazer malas e partir para um destino exótico além fronteiras, venha conhecer o que Portugal tem de bom para oferecer. A escolha é tanta e tão diversificada, que apenas nos é possível facultar aqui algumas sugestões para iniciar o seu percurso ecológico.

Os números da conservação da natureza

Cerca de 21 por cento do território nacional é formado por áreas classificadas, com fortes valores naturais e uma biodiversidade invejável. Segundo dados do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF ), existem cerca de 500 agentes certificados para a prática de atividades de turismo de natureza.

Em 2015, foram realizadas cerca de 715 visitas guiadas pelo território nacional, sendo que o número de visitantes ascendeu a quase 30 mil. Os meses de março, abril, maio e junho são, habitualmente, os mais procurados para este tipo de actividades, por oposição aos meses de maior calor, tradicionalmente mais associados à praia do que ao campo.

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As preocupações com a natureza que vêm de fora

Julia Roberts é a Mãe Natureza, Harrison Ford é o Oceano, Penelope Cruz é a Água, Lian Neeson é o Gelo, Reese Witherspoon é a Casa e Kevin Spacey é a Floresta Tropical. São estes os papéis principais dos pequenos filmes protagonizados por estes famosos atores de Hollywood que dão a cara pela campanha «Nature is Speaking», da organização internacional de defesa da Natureza, a Conservation International.

Não lhes darão acesso direto a um Óscar, mas são, com toda a certeza, os mais importantes das suas vidas, já que poderão mudar o rumo do mundo. Com esta campanha, a organização quer chamar a atenção para a conservação e proteção do meio ambiente, utilizando, para isso, o mote de que «os homens necessitam da natureza, mas esta não necessita dos homens». A participação de ídolos cinematográficos é fundamental para espalhar a mensagem, já que estes têm o poder de a tornar viral.

Também Leonardo DiCaprio é um fervoroso defensor do planeta, do ambiente e dos animais, tendo sido nomeado pela ONU como mensageiro da paz, e através da sua fundação, apoia projetos de defesa do património natural em mais de 40 países. O papel de Hugh Glass, no filme « The Revenant», que lhe valeu um Óscar, ajudou a promover a ideia da necessidade da conservação da natureza já que é um filme de sobrevivência passado inteiramente ao ar livre. Por uma vida simples.

Texto: Helena C. Peralta com Luis Batista Gonçalves (edição online)