Existem duas grandes razões para que o viajante de longa duração possa ter riscos acrescidos, quando comparado com um tempo de estada curto.

Quanto mais tempo estamos em áreas de risco para doenças tropicais, maior é a probabilidade de contatarmos com essas doenças e quanto mais tempo estamos num país estrangeiro, mais nos adaptamos aos hábitos e cultura locais.

Esta adaptação é tanto mais fácil quanto mais próximos, culturalmente, estão esses países. O viajante português
sente-se muito mais à vontade em países de expressão portuguesa, sobretudo africanos, que em países anglófonos ou francófonos.

Riscos da adaptação

Apesar de benéfica em termos sociais, profissionais e culturais, a adaptação pode ter aspetos negativos sobre a saúde do viajante. Sentir-se adaptado pode fazer com que se sinta preparado para lidar com as doenças endémicas da região. Este é um engano frequente e que pode ter consequências graves.

Só se está preparado (através da resposta eficaz e efetiva do sistema imunológico) para resistir às doenças tropicais, na sua grande maioria infeciosas e transmissíveis, após contacto prévio com as bactérias, vírus e parasitas responsáveis por elas. Se o viajante é oriundo de um país onde não existe nenhum desses agentes infeciosos, nunca estará naturalmente preparado para lhes resistir, mesmo que faça muitas viagens e tenha estadas prolongadas no país tropical de destino.

Falhas na proteção

A proteção dos viajantes que se deslocam a zonas de risco passa por diferentes níveis. O conhecimento é o primeiro a falhar. Se somos jovens e saudáveis não gostamos de pensar em doenças e o aconselhamento deixa de ser prioridade. O segundo nível a falhar é o da quimioprofilaxia, que consiste na administração de medicamentos em doses mais baixas que as usadas em tratamento como forma de proteção.

Esta é uma das principais formas de prevenção da malária ou paludismo, doença que pode ser muito grave em quem nunca a teve. No entanto, a maioria dos viajantes jovens e saudáveis não gosta de tomar medicamentos e
abandona-os rapidamente após algum tempo de estada. O terceiro nível a falhar é o das vacinas.

Estas normalmente produzem uma imunidade específica durante um certo período de tempo e o viajante esquece-se de fazer a revacinação após terminado o prazo. Também existem falhas relacionadas com a qualidade do aconselhamento e consultas de medicina do viajante: muitos viajantes são vacinados sem indicação ou sem necessidade.

Plano personalizado

Quando se passeia por um deserto, existem várias formas de proteção a adotar que devem ser discutidas com um especialista em medicina do viajante.

Para isso, deve marcar a sua consulta num médico da especialidade que falará consigo sobre as medidas de proteção individual contra as doenças por águas e alimentos e contra as picadas de insetos. Verificar as vacinas recomendadas para o país de destino e a reavaliação dos períodos de validade vacinais é também essencial.

Todas estas medidas devem ser analisadas e conversadas entre o viajante e o médico, que deve ter a possibilidade de o apoiar durante a estada no país tropical e após o regresso, para que tenha uma viagem sem riscos.

Deserto seguro

O infeciologista Jorge Atouguia indica os cuidados especiais a ter ao viajar pelo deserto:

- Recorra aos serviços de um guia local. É a melhor forma de assegurar que conhece o trajeto e eventuais alternativas, em função de acontecimentos inesperados (acidente, falha técnica de viatura e/ou problema de saúde).

- Tenha atenção ao armazenamento, conservação e reserva de víveres, sobretudo frescos e água.

- Adapte o seu equipamento pessoal às condições geológicas e climatéricas.

- Opte por locais de pernoita isentos de animais, sobretudo insetos voadores ou terrestres. É preferível uma tenda corretamente fechada do que um abrigo local.

- Leve um estojo de primeiros socorros e farmácia, para qualquer problema de saúde que possa surgir

- Nas viagens prolongadas pode estar indicado não fazer a quimioprofilaxia anti-malárica, mas o viajante deve saber o que fazer se tiver sintomas da doença. Analise esta hipótese com o seu médico.

Texto: Jorge Atouguia (especialista em medicina do viajante)