Os tratamentos imunossupressores realizados nos casos de leucemia diminuem a resposta imunológica, reduzindo a atividade de algumas das nossas células, sobretudo das que têm uma grande capacidade de divisão e multiplicação.

O seu efeito pode ser mais marcado nas neoplasias do sangue, já que se tenta que limitem o crescimento de células sanguíneas anormais, mas pode afetar também a multiplicação das células necessárias para a defesa do organismo face a agressões externas.

O risco aumenta se viajamos para zonas diferentes das que estamos habituados e onde pode haver contacto com doenças (sobretudo infeciosas) para as quais não temos defesas. Existem medidas de proteção conhecidas para os microrganismos que
provocam a malária, o dengue, a febre amarela, a maioria das diarreias
do viajante, o tétano, a poliomielite, a raiva, mas todas requerem um
bom funcionamento da resposta imune.

Imunidade

A função das vacinas é obrigar o organismo a produzir anticorpos específicos contra o agente infecioso, sem boa resposta imune, não os produzimos, logo não ficamos protegidos. Os medicamentos preventivos (caso da malária) porque atenuam os sintomas, mas não impedem o desenvolvimento da doença.

As medidas para evitar o contacto com os micróbios (caso das doenças diarreicas) porque a sua eficácia depende muito da forma como o viajante tem consciência do risco. Sem boa resposta imune, os sintomas podem ser mais agudos e evoluir mais depressa para uma doença grave.

Escolher o destino

As pessoas com doenças oncológicas podem e devem viajar, mas devem escolher criteriosamente os destinos, dependendo da fase da doença, de terapêuticas atuais ou recentes e das características da doença ou do tratamento. Devem evitar todos os destinos que exigem vacinação, sobretudo com vacinas com vírus vivos, e os que representam risco de transmissão da malária.

A escolha do destino deve ser feita em conjunto com os especialistas em medicina do viajante e em oncologia, de modo a serem bem definidos os riscos e as estratégias a adotar. O tempo de estada e as condições da habitabilidade no destino são importantes ao equacionar potenciais problemas.

É essencial uma avaliação conjunta dos riscos de cada viagem com os médicos responsáveis pela sua saúde. Em fases menos dependentes de medicação imunossupressora pode ser possível reavaliar os riscos. Os destinos com temperaturas mais extremas (exposição solar, neve) representam riscos menores, desde que com bom senso e cumprindo as medidas de proteção nessas situações.

Texto: Jorge Atouguia (especialista em medicina do viajante)