Liberdade e autonomia são sinónimos de viagens em autocaravana, um tipo de turismo que está a crescer. Nós contamos-lhe duas histórias de quem se rendeu a este meio de transporte. Uma autocaravana oferece umas férias com flexibilidade inigualável, itinerários inteiramente personalizados, que podem ser alterados a qualquer momento, e viagens de última hora. Por outras palavras viajar com a casa às costas é uma liberdade única, que Sandra Ribeiro, Rita Bragança e Leandro Fans já não dispensam.

A primeira viaja pelo nosso país de autocaravana alugada durante as férias, os outros dois estão numa viagem à volta do mundo a bordo de um furgão transformado e movido a óleo vegetal. Há já muito tempo que Sandra Ribeiro queria experimentar fazer férias em autocaravana e mal surgiu a oportunidade foi à aventura. «Tinha a ideia de que era umaforma livre de viajar e isso confirmou-se», assegura.

«É maravilhoso chegar a uma praia ao fim da tarde e ficar logo por ali, jantar sob as estrelas, a ouvir as ondas e, no dia seguinte, abrir a porta e mergulhar no mar. A sensação de chegar a um lugar lindo e pensar é já aqui que ficamos hoje é impagável», descreve. Por enquanto só viajou de autocaravana em Portugal, o passo seguinte é fazer uma grande viagem de autocaravana pela Europa, mas o sonho é a Austrália ou Nova Zelândia. «Talvez quando a crise melhorar», diz.

Se a liberdade e a autonomia são as grandes vantagens da autocaravana, Sandra Ribeiro aponta os custos como desvantagem. «O aluguer diário de uma autocaravana, mais o combustível, e eventualmente a diária de um parque de campismo, faz com que este tipo de férias não seja exactamente barato. Por outro lado, nem sempre é permitido parquear fora de parques e isso pode obrigar a fazer mais quilómetros do que os previstos à procura daqueles», sublinha.

Quanto a percursos, Sandra Ribeiro recomenda viajar de Troia a Odeceixe. «Há locais lindos onde se pode parar e gozar o prazer e a liberdade de viajar em autocaravana», refere e é aí que encontra «a praia mais bonita de Portugal, a da Aberta Nova» e «parques de campismo com excelentes condições», como é o caso do «da Galé, nas proximidades da praia Aberta Nova, ou o do SITAVA, perto de Vila Nova de Mil Fontes». Indispensáveis, conta, são «os cobertores para se poder ver as estrelas cadentes à noite».

À volta do mundo

A experiência de Rita e Leandro, um casal luso-uruguaio, é completamente distinta. Resolveram transformar um furgão numa autocaravana movida a óleo vegetal (que batizaram de Amarela) e dar a volta ao mundo. Estão na estrada desde abril do ano passado com o Green Brick Road Project que é, como diz a Rita, «uma direção a um futuro mais sustentável» e a escolha do meio de transporte também está associado a esse motivo. «Queríamos que a nossa viagem de aprendizagem ecológica tivesse também uma mobilidade ecológica», desabafa.

Além disso, são muitas as vantagens de viajar com a casa às costas e a principal para Rita é «a liberdade. Podemos escolher onde vamos e quanto tempo ficamos sem nos preocuparmos com o alojamento ou refeições. Temos ficado em lugares incríveis. Provavelmente, se estivéssemos a viajar de outra forma nem nos teríamos dado conta que existiam». Desvantagens? «Talvez o tempo que se dedica à manutenção e às limpezas, mas até isso é um preço muito baixo para a liberdade que a Amarela nos dá», considera.

24 meses em 50 países

O plano inicial era viajar durante 24 meses e passar por 50 países, mas, entretanto, tudo mudou. «Assim que saímos de Lisboa e começámos a visitar quintas percebemos que para aprendermos o que procuramos precisávamos mesmo de mais tempo. Só na Grécia já estamos há um ano e foi fundamental ficar aqui este tempo para ver o ciclo completo das estações, o que para quem está a aprender sobre agricultura biológica e permacultura é muito importante», acrescenta. A outra mudança tem a ver com o facto de a Amarela não poder acompanhá-los à Ásia.

«Tínhamos de ter o carnet de passage en douane, documento obrigatório em muitos países asiáticos e africanos, que custa cerca de 20 mil euros. Depois de momentos de intensa frustração, decidimos que o projecto continuará mesmo assim e em outubro saímos para a Índia. Iremos de comboio de Atenas a Teerão ou até mesmo à Índia, se for possível atravessar a fronteira com Paquistão», refere. Na fase seguinte do projeto, na América do Sul, esperam voltar ao volante da Amarela.

As aventuras da Amarela

O itinerário foi escolhido segundo o tipo de trabalho que queriam fazer e dentro dos limites da autocaravana. «Para o início da viagem, escolhemos países com clima, flora e fauna semelhantes a Portugal, por isso, mantivemo-nos pelo sul e visitámos Itália, Grécia e Turquia. Esta escolha também foi vantajosa para a Amarela porque deu-nos a oportunidade de nos irmos habituando ao seu ritmo e às suas manhas», que têm dado azo a episódios engraçados, dos quais Rita destaca um.

«Estávamos de regresso da Turquia em novembro e, no final do dia, por causa do cansaço, não demos tempo suficiente para o motor purgar o óleo vegetal usado. De manhã, a carrinha não pegava e estávamos apeados no meio do nada, munidos de algumas refeições de esparguete e algum (pouco) combustível, sem telemóvel nem internet», recorda. A aventura demorou todo o dia e incluiu várias viagens de bicicleta ao centro da aldeia, onde tentar comunicar com o mecânico de tratores grego foi outro feito.

«A ele juntou-se outro aldeão e juntos decidiram que a solução seria esperar pelo outro mecânico de tratores que viria a meio da tarde. A carrinha ficou sem bateria de tanto tentar pegar e a bicicleta do Leandro ficou com os dois pneus furados dos vários percursos à aldeia. Finalmente, chegou o dito mecânico e, em meia hora, estávamos de motor a rolar, aos abraços e aos beijinhos aos aldeões. A causa da birra foram resíduos no motor que dificultava o arranque mas nada de grave e, claramente, a Amarela tinha razão e orgulhamo-nos de dizer que ao fim de sete mil quilómetros nunca nos deixou mal», remata.

Texto: Rita Caetano