Marrocos é um país repleto de cor, odores e movimento que se entranham para nunca mais nos largar. Sob uma espécie de encantamento vindo dos minaretes das mesquitas, passeámos por Tânger, Chefchaouen, Fez e Marraquexe. A si cabe-lhe, apenas, escolher o seu destino. A reportagem é da jornalista Rita Caetano, que apenas tinha estado umas horas em Casablanca e que lhe conta, neste roteiro, o que mais a surpreendeu em cada uma das cidades que visitou.

Tânger: Entre dois continentes

Não é difícil perceber por que razão Tânger inspirou tantos nomes das artes internacionais, entre os quais, Eugène Delacroix, Henri Matisse e Tennessee Williams. É verdade que a cidade branca está a crescer e até tem um certo ar europeu, o que não é de estranhar se pensarmos que por aqui passaram conquistadores portugueses, espanhois e ingleses e, já no século XX, foi uma zona internacional, ponto de encontro de expatriados de toda a Europa.

No entanto, essa atmosfera europeia fica à porta da cidade antiga. Entrar na kasbah é recuar até ao século XII, altura da sua fundação. Hoje, é um bairro residencial pitoresco repleto de riads, hotéis marroquinos de charme, onde se tem apostado na reabilitação urbana. Se for descendo vai entrar na Medina quase sem dar por isso e há uma rua imperdível, a dos Alfaiates, colorida pelos fios que estão a ser enrolados nos carrinhos, como se estivessem a enrolar um papagaio de papel e que mais tarde vão dar origem às famosas echarpes, tapetes e túnicas marroquinas.

Espreite o trabalho dos artesões nos teares manuais, deixe-se embrenhar nas ruelas, onde pode comprar desde vegetais a fruta, passando pelo peixe e pela carne, e perca-se na zona de quinquilharias, têxteis e prata. Procure o Silver Jewelery Bazar e suba ao terraço para ver a cidade de outra perspetiva. No petit socco, uma espécie de centro nevrálgico da medina, tome um chá de menta.

Aproveite e observe a mesquita construída sobre as ruínas de uma antiga catedral portuguesa e saia desta encruzilhada pelo grand socco, a praça dominada pela mesquita Sidi Bou Abid. Para ficar, opte pelo El Minzah Hotel, um hotel de cinco estrelas pertíssimo da medina. A arquitetura do edifício é hispano-mourisca, tal como toda a decoração. Preços a partir de 133 € por noite. Para comer, a nossa sugestão vai para El Korsan, um dos restaurantes do El Minzah Hotel.

Este espaço é uma verdadeira imersão na gastronomia e na cultura local, pois há um grupo a tocar música marroquina e uma bailarina de dança do ventre a dançar. As pastillas (entrada) são imperdíveis. Nos arredores da cidade, não faltam motivos de interesse. A oeste de Tânger está situado o Cabo Espartel mas, antes deste, encontra as Grutas de Hércules, onde, reza a lenda, o herói da mitologia descansou depois de ter aberto o estreito de Gibraltar, que fica a apenas 15 quilómetros.

As grutas estão a abertas ao público (a entrada custa 0,45 €) e, lá dentro, o facto mais curioso é a abertura para o mar que desenha na perfeição o continente africano. Se o Cabo Espartel é banhado pelo Oceano Atlântico, a este o Cabo Malabata está já em território mediterrâneo e entre estes dois mares há muitas praias para desfrutar. Em Tânger, é ainda obrigatório tomar um chá de menta no Café Halfa, uma autêntica varanda, construída em vários patamares, para o mar.

Fazer jogging na marginal da cidade, a Avenida Mohammed VI, que se prolonga ao longo da praia, é outra das experiências imperdíveis, tal como visitar o Museu da Kasbah (a entrada é irrisória e custa apenas 0,90 €), situado no Dar el-Makhzen, para conhecer um pouco mais da história de Marrocos.

Chefchaouen: A aldeia em tons de azul

A 600 metros de altitude, incrustada nas montanhas Rif, Chefchaouen surge pintada de azul e branco como se fosse saída de um contos de fadas. O branco, dizem os entendidos, combate o calor e o azul evita que as moscas entrem dentro das habitações. A explicação é simples mas nem isso lhe tira o encanto. Contrariamente às outras cidades marroquinas, onde convém estar atenta a pontos de referência para não se perder, aqui perca-se literalmente.

Suba e desça as ruas e vielas e as suas escadarias e acredite que facilmente volta à praça central e não vai haver beco que lhe escape. Entre nas lojinhas, pare para falar com a população que está sempre disposta a dois dedos de conversa. Por aqui toda a gente fala espanhol e até repetem várias palavras em português, como fixe, batata frita, Lisboa, Porto e Cascais, que são algumas das mais repetidas. Vai ouvir, vezes sem conta, que Chefchouen foi construída para impedir que a conquista portuguesa e espanhola avançasse por Marrocos adentro.

A resistência começou na kasbah, uma espécie de fortaleza em tom ocre com 11 torres e jardins luxuriantes. Não se admire que quando ouvirem o chamamento, os comerciantes deixem de vender para ir à mesquita. O melhor sítio para ver essa azáfama é sentar-se numa das esplanadas da praça principal, a Uta El-Hammam. Rapidamente, vai perceber que esse é o único momento em que se denota alguma pressa dos locais, de resto o tempo aqui passa devagar e a descontração é a palavra de ordem.

Para comer, sugerimos o restaurante La Lampe Magique. Tem uma atmosfera especial e está localizado na praça Uta El-Hammam, onde tudo acontece em Chefchaouen. Prove, por exemplo, a tagine de borrego. Para ficar, existe a recente Maison d'HÔte Touitar Hamid, inaugurada em 2013. Abriu mesmo no centro de Chefchaouen com uma decoração a lembrar as mil e umas noites. Há quartos privados e camaratas, todos com casas de banho privadas. O terraço é o ponto de encontro dos hóspedes. Preços a partir de 20 € por noite.

Nos arredores, a paisagem também é sublime. Está no local certo para desfrutar de um turismo de natureza, pois chefchaouen está localizada junto ao parque nacional de talassemtane e ao parque regional de Bouhachem, nos quais é possível fazer caminhadas para observar a flora e a fauna da zona. De volta à aldeia, não deixe de ir até à nascente e ver as lavadeiras a lavar a roupa no rio e nos tanques públicos.

Comprar uma peça do artesanato local, único em Marrocos, que se caracteriza por gorros e camisolas de lã, bem como colchas e tapetes é outra das ações fundamentais. Ir ao festival Alegria Achamalia, que se realiza em julho, é outra das nossas sugestões, caso visite o país por esta altura.

Fez: A cidade da fé

É a mais antiga das cidades imperiais de Marrocos e é também a capital espiritual do país e isso sente-se em toda a Medina, que se divide por 9.400 ruas, um autêntico labirinto que vale a pena descobrir. Entre pela Bab Boujloud, a porta azul e verde, que vai dar diretamente à zona de mercado, onde pode encontrar tudo o que precisa para confecionar uma refeição, desde carne, a peixe, passando por legumes, especiarias e ovos.

Mais à frente, pode apreciar o artesanato, as roupas, os perfumes, os óleos, os incensos, os doces, tudo dividido por áreas, mas antes disso entre numa das poucas mesquitas abertas a não muçulmanos, a Madraça Bouinaniya, que foi em tempos uma escola corânica. Na praça Nejarine, não deixe de reparar na fonte e entrar no Foundouk Nejjarine, um antigo albergue que hoje é o Museu da Madeira.

Do terraço terá a oportunidade de ver a cidade do alto. Aconselhamos a repetir a experiência no Palácio Mnebhi, um dos edifícios mais bonitos de Fez. Não perca ainda a oportunidade de passar pela universidade mais antiga do mundo, El Qaraouiyine, curiosamente fundada por uma mulher no século IX e, nas suas redondezas, espreite o Mausoléu Moulay Idriss, um lugar de peregrinação, onde está sepultado o fundador da cidade. Não pode passar da porta, mas é um local com uma carga mística muito forte.

Acabe o passeio na Praça Seffarine e sente-se a ouvir a música saída das ferramentas dos trabalhadores que trabalham o ferro. Acredite, é um autêntico concerto. O Palais Faraj Suites & Spa, um palácio do século XIX foi transformado num hotel de charme com uma vista incrível para a medina, com preços a partir de 190 € por noite, é uma boa opção para dormir. Para jantar, tem o L'Amandier. Está localizado no Palais Faraj e é um excelente restaurante de cozinha tradicional. Aconselhamos a tagine de vaca com amêndoas.

Nesta cidade, é obrigatório ir ao palácio real e passar a mão por uma das sete portas para ter sorte, bem como ir ao bairro dos curtumes, onde famílias trabalham a pele a céu aberto. O cheiro é desagradável mas, se não o fizer, a visita a fez fica incompleta. Ir ao festival das músicas sagradas, que se realiza em junho, e que é um bom exemplo do ecumenismo que se vive em Fez.

Nos arredores, visite Ifrane, a 60 quilómetros de Fez, no Médio Altlas e vai sentir-se na Suíça. Nesta pequena localidade, as casas são em forma triangular e a natureza verdejante domina a paisagem. No inverno é uma famosa estância de ski e a sua universidade, Al Akhawayn, é uma das mais prestigiadas do país.

Marraquexe: A urbe rosa

É a cidade mais turística de Marrocos e onde mais se nota o binómio modernidade versus tradição, que a torna simultaneamente cosmopolita (na cidade nova) e exótica (na parte antiga). Comece a sua visite pelo Jardim Majorelle (a entrada custa 4,45 €), conhecido pela vegetação vinda dos cinco continentes e pelos seus edifícios de um azul intenso. Foi fundado pelo pintor francês Louis Majorelle e depois recuperado por Yves Saint Laurent e Pierre Bergé. Os jardins albergam ainda o Museu Berbere.

Entre depois na Medina e, de souk em souk, vá aprendendo a regatear e deixe, por exemplo, que a ensinem a colocar o lenço à moda local. Entre na Madraça Ben Youssef (a entrada custa 4,45 €) e visite todo o edifício, incluindo os aposentos dos jovens estudantes. Visite também o palácio M'Nebhi, que alberga o museu de Marraquexe. Não perca também as ruínas do Palácio El Badii, uma das maravilhas do mundo muçulmano, bem como o Palácio Bahia e os Jardins de La Menara.

Ao final do dia, todos os caminhos vão dar à Praça Jemaa el Fna, Património Oral e Imaterial da Humanidade, onde acontece um espetáculo único, que junta contadores de histórias, aguadeiros, encantadores de serpentes, cantores, dançarinos e amestradores de macacos. Todos eles dão um colorido ímpar à praça e constroem uma autêntica banda sonora que torna este local muito especial. Por trás desta agitação surge o maior restaurante do mundo ao ar livre e que é responsável por uma autêntica explosão de cheiros, fumo e cor.

Para ficar, o Hivernage Hotel & Spa, um hotel moderno com uma localização excelente no Bairro Hivernage, é uma boa opção. Daqui poderá deslocar-se a pé para o palácio La Mamounia, a Praça Jamaa el Fna e para a medina. Preços a partir de 169 € por noite. Para almoçar ou jantar, sugerimos Dar Moha, um antigo riad foi transformado num restaurante de nova cozinha marroquina, onde a tradição e a modernidade se juntam num casamento perfeito de sabores. Prove a tagine de frango com cuscuz de vegetais mas antes delicie-se com a salada marroquina.

Na cidade, é ainda obrigatório comer na praça Jmaa el fna numa das barraquinhas que ao fim do dia transforma aquele local num dos maiores restaurantes ao ar livre do mundo. Ver o pôr do sol do terraço do Café Glacier com vista para a mesquita La Kotobia, o edifício mais alto da cidade, é outro dos imperdíveis, bem como a Praça Jmaa El Fna, que começa a ferver nessa altura. Outro dos atrativos é ir ao palais Jad Mahal, um restaurante e um clube com uma decoração irrepreensível e um exemplo de marrocos dos tempos modernos.

Nos arredores, também existe património a ter em conta. A150 quilómetros situam-se as cascatas de Ouzoud, em pleno Atlas, com uma queda de água de 110 metros e onde se pode tomar banho. A sul de Marraquexe pode visitar um conjunto de pinturas rupestres. O Parque Nacional de Toubhal é o local ideal para quem gosta de fazer trecking. Se é o seu caso, não hesite.

Texto: Rita Caetano