Da celebração do vinho e da paisagem da vinha nasceu em Montemor-o-Novo um resort turístico que não para de receber elogios. E não é só porque integra a arquitetura na natureza típica do Alentejo. Esta unidade hoteleira de excelência desenvolveu um programa turístico de baixa densidade, centrado no conceito de wine resort. A imagem pretendida para a paisagem deste projeto não é a recriação de uma paisagem rural.

É, sim, uma paisagem funcionalmente diferente, por razões que se prendem com uma utilização contemporânea e sofisticada. A partir de uma pré-existência motivadora e justificadora de todo um conceito de intervenção, a atividade vitivinícola e o culto pela apreciação e prova do vinho, estabelece-se uma área nuclear, unificadora e de presença constante, que é a vinha. As zonas públicas são definidas áreas com plantações herbáceo-arbustivas.

Foram colocadas em frente a cada alojamento, funcionando como um buffer entre espaços públicos e privados, com definidos espaços de plantação de árvores e arbustos. Estas espécies botânicas ocupam espaços rasgados no pavimento em calçada aos quais se associa mobiliário urbano, muitos deles com uma vista privilegiada para o jardim da vinha, outro dos atrativos desta unidade hoteleira.

O acesso ao empreendimento, que muitos portugueses procuram, não poderia ser mais fácil. Acede-se diretamente através do parque de estacionamento ou pelo edifício. Esta zona é caracterizada por uma sucessão de terraços vinhateiros e percursos, estruturados por muretes de pedra. Nestes terraços pretende-se a criação de uma coleção de castas de diferentes regiões vinícolas.

A vinha e as uvas

A vinha e um grande lago são alguns dos aspetos mais marcantes deste complexo hoteleiro de 22 suites, que também integra um restaurante, o único da região do Alentejo que já foi, por mais do que uma vez, distinguido com uma estrela Michelin, graças ao saber e aos sabores propostos pelo chef Miguel Laffan. Outra das atrações do resorte é o seu spa, o Spa Vinothérapie da Caudalie.

A marca francesa que tira partido do poder rejuvenescedor e hidratante da uva nos produtos que comercializa está por detrás dos reputados tratamentos estéticos que desenvolveu e que fazem as delícias de muitos dos hóspedos dos espaços.  Um espaço de 800 metros quadrados concebido por Márcio Kogan, outro nome reputado, usando pedra natural e madeira para manter os materiais naturais da região.

Terraços verdes adjacentes a cada alojamento

A zona envolvente da piscina, que tem servido de cenário a muitas selfies e até a algumas produções fotográficas nacionais e internacionais, é caracterizada por um espaço aberto onde a piscina se funde com o relvado, no qual se definem duas áreas de estadia distintas. Em frente a cada unidade de alojamento são definidos terraços ajardinados estruturados por muretes de pedra.

Os muretes associados à vegetação e a um salto de cota de cerca de meio metro em relação ao percurso que faz a distribuição dos hóspedes pelas unidades, permitem alcançar a privacidade e conforto desejada. Através da criação de espaços intimistas em contraposição com o restante jardim, é sugerida a ideia de espaços partilhados e espaços privados. Independentemente da escolha, todos são sinónimo de relaxamento e evasão.

 

A vegetação que rodeia o empreendimento

O elenco de vegetação proposta é quase na sua maioria constituído por espécies de árvores, arbustos e herbáceas autóctones, e por isso adaptadas às condições edafo-climáticas do território. A utilização de vegetação agrícola, essencialmente pomares (laranjal, olival e amendoal) e vinha, constituem práticas agrícolas existentes em todo país e nesta região específica, inclusivamente em propriedades contíguas a esta.

A introdução destes vários tipos de vegetação irá, no futuro, contribuir para uma maior diversidade de habitats com um acréscimo significativo da biodiversidade. Pelo menos, essa é a expetativa e o forte desejo da equipa de arquitetos paisagistas do PROAP, Estudos e Projetos de Arquitetura Paisagista, que tem desenvolvido outros trabalhos nesta linha em várias regiões do país.

Os materiais privilegiados 

O granito apresenta-se como o principal material inerte que compõem este projeto. Assume-se como constituinte principal dos muros de pedra que delimitam socalcos, canteiros e percursos. Os percursos feitos em macadame, permitem a circulação pedonal dos hóspedes mas também a circulação de pequenas viaturas. A drenagem é assegurada por uma tripla fiada de cubo de granito na lateral dos percursos.

Texto: João Nunes, Iñaki Zoilo e PROAP - Estudos e Projetos de Arquitetura Paisagista com Luis Batista Gonçalves (edição digital)