A Síndroma da Classe Económica é o nome por que é conhecido o
quadro clínico de uma trombose venosa profunda, provocada por
coágulos sanguíneos com origem nas veias dos membros inferiores.

Estes coágulos são causados pela imobilidade dos membros inferiores
durante um período de tempo prolongado.

A posição de sentado,
mantida durante muitas horas, provoca uma importante redução
na velocidade do retorno do sangue venoso das pernas para o
coração. Quando estamos em repouso os músculos não se contraem,
não ajudando as veias, através dessa contracção, a empurrar o
sangue das pernas na direcção do coração.

Por outro lado, a compressão
da cadeira sobre os músculos da barriga da perna ou sobre a
parte posterior do joelho contribui igualmente para a diminuição
do retorno do sangue venoso dos membros inferiores.
Esta síndroma foi inicialmente descrita como um problema relacionado
apenas com as viagens de avião (não só na classe económica, mas em
qualquer classe), mas hoje sabe-se que viagens de comboio, autocarro
ou mesmo de automóvel podem também causar o mesmo problema.

A situação é mais complicada no avião porque o ar é muito seco. Existe
uma maior desidratação e, por isso, o sangue, mais viscoso, pode coagular
mais facilmente.

Existe também a tendência para dormir por longo
tempo numa mesma posição, sob efeito de medicamentos ou depois de
ter ingerido bebidas alcoólicas, que, por si só, aumentam a desidratação.
Os sintomas podem surgir no prazo de horas, dias ou semanas após a
viagem.

Clinicamente, a trombose venosa profunda caracteriza-se por
dor, aumento de volume e da temperatura na pele no membro afectado.
Dor torácica, falta de ar, cianose (lábios e leito das unhas arroxeados)
são sinais que podem aparecer na embolia pulmonar.
A maioria dos viajantes, porém, apresenta poucos ou nenhuns sintomas.
Os casos graves, que podem levar à morte, são muito raros.

Principais factores de risco

  • Ficar sentado mais de quatro horas, em cadeiras apertadas que comprimam
    os membros inferiores (especialmente a barriga da perna)
  • Desidratação por baixa ingestão de líquidos, excesso de álcool ou pela
    baixa humidade da cabine
  • Idade superior a 40 anos
  • Altura superior a 1,80 m
  • Viajantes com veias varicosas nos membros inferiores
  • Viajantes do sexo feminino a tomar contraceptivos orais

Viajantes com problemas de saúde, sobretudo cardíacos ou neoplásicos,
que se submeteram recentemente a cirurgias, com antecedentes
prévios de trombose nos membros inferiores ou embolia pulmonar ou
que tiveram fracturas recentes nos membros inferiores devem consultar
o seu médico assistente e/ou um médico especialista em Medicina do
Viajante.

Prevenção

  • Usar sapatos macios para movimentar o pé dentro do sapato
  • Usar meias de algodão, sem elásticos
  • Não usar cintas ou peças íntimas que comprimam a área abdominal e
    pernas
  • Quando sentado, movimente os tornozelos e os pés. As companhias
    aéreas propõem exercícios. Execute-os e repita-os durante a viagem;
    Levante-se e caminhe no avião, pois isso estimulará o retorno do
    sangue para o coração
  • Faça movimentos de alongamento sempre que estiver em pé
  • Coloque um pequeno volume no soalho do avião para apoio dos pés
  • Evite bebidas alcoólicas e mantenha uma ingestão líquida apropriada
  • Use meias elásticas medicinais. Melhoram o fluxo sanguíneo venoso e
    diminuem a possibilidade de trombose venosa
  • A aspirina inibe o processo de formação de coágulos sanguíneos, mas
    não há prova científica da sua utilidade na prevenção da trombose venosa
    profunda em
    viajantes. Alguns
    autores defendem
    o uso em adultos,
    na dose de 250 mg,
    pouco antes da
    partida

Texto: Jorge Atouguia (infecciologista especialista em Medicina do Viajante)