O tempo é de férias. Para todos aqueles que procuram destinos tropicais e desejados há muito, todo o cuidado é pouco. Há que desfrutar e aproveitar todos os momentos, seja em lazer ou em estadias profissionais.

Para prevenir todos os riscos que se podem cruzar consigo durante uma viagem, existem consultas do viajante em vários hospitais do país que podem ser essenciais para que os dias fora de Portugal sejam de sonho e não se transformem num pesadelo.
Nem todas as pessoas a conhecem ou sentem alguma vontade de a frequentar.

Talvez porque desconheçam o conjunto de informações relevantes que irão adquirir e os riscos que podem evitar se marcarem uma consulta do viajante. A sua importância é sobejamente conhecida.

“Trata-se de uma consulta de riscos em que se pretende estabelecer o risco que determinado viajante terá ao deslocar-se para determinadas zonas”, esclarece o Dr. Jorge Atouguia, especialista em doenças infeciosas e em Medicina Tropical do Instituto de Medicina Tropical e diretor clínico da Clínica de Medicina Tropical e do Viajante.

Na consulta, é necessário saber quais são as suas condições de saúde, quais são os riscos que existem no(s) destino(s) que irá visitar e quais são as atividades que o viajante vai desenvolver que poderão aumentar ou diminuir o risco. “Vivemos num local específico durante a maior parte do ano, temos hábitos regulares e o nosso organismo está adaptado a essa realidade”, acrescenta o infeciologista.

Quando uma determinada pessoa se desloca, seja em trabalho, seja em lazer, é importante prevenir que adoeça durante a estadia de forma a não comprometer a sua ida e o seu regresso.

Jorge Atouguia defende que “esta consulta é indicada sobretudo para sensibilização das pessoas para as formas de prevenção dos riscos que podem surgir. Felizmente, já começo a receber muitas pessoas na consulta, não só para fazer vacinas mas para perceber, na prática, quais os riscos associados à viagem. Todos os anos podem surgir novos riscos para o mesmo destino porque as situações epidemiológicas dos viajantes estão sempre a mudar e porque em qualquer momento pode surgir um novo surto epidémico, sobretudo nos destinos tropicais.”

Isto significa que ainda que o leitor viaje regularmente para um mesmo local, não está isento de riscos. “Esta é uma ideia errada. Quando viajamos com muita frequência para uma mesma área, sobretudo nos países de expressão portuguesa, vamos pensando que estamos cada vez mais seguros e vamo-nos adaptando ao destino e já nos sentimos em casa”, explica Jorge Atouguia reforçando que “se formos para a China e para a Tailândia, já nos lembramos mais facilmente de eventuais riscos”.

Doenças comuns em algumas viagens
A diarreia do viajante é claramente a doença mais frequente. Alguns destinos, devido às suas condições de ecossistema, são mais quentes e húmidos e com menores condições de qualidade alimentar. Refira-se ainda o problema da falta de água potável em alguns destes destinos.

“De seguida, temos a malária que é uma doença menos frequente mas que pode evoluir para formas muito graves e até mesmo para a morte sobretudo para quem nunca teve a patologia”, esclarece Jorge Atouguia. É uma patologia que pode evoluir muito rapidamente e o problema chave está nas pessoas que nunca a contraíram. “A pessoa que já teve várias vezes a doença durante a vida foi criando algum tipo de imunidade e os sintomas diminuem de intensidade.

As pessoas que nunca tiveram malária devem ter sempre o máximo de cuidado do ponto de vista da infeção”. O mosquito responsável pela transmissão da malária pica à noite, entre o pôr e o nascer do sol. Dá pelo nome de anopheles e invade os quartos dos viajantes sem pedir autorização. “Por isso, pedimos às pessoas para terem alguns cuidados com os quartos onde vão ficar instalados. Devem ser muito bem protegidos, e, de preferência, ter ar condicionado, ventilador e/ou rede mosquiteira”, esclarece o infeciologista.

Na África subsariana, pode sempre haver risco de contração da malária pois a maior parte dos países são endémicos mas na Ásia o risco depende se as zonas são rurais ou urbanas. “A malária não é uma questão de países mas sim de locais. É a diferença entre ter de se fazer ou não a prevenção adequada”, defende Jorge Atouguia.

De salientar alguns problemas dermatológicos resultantes das picadas de insetos. O viajante deve usar roupas que cubram o corpo. “As moscas podem picar e produzir lesões dolorosas e dependendo dos locais para onde as pessoas vão, podem ter contacto com escorpiões ou aranhas sendo as preocupações são acrescidas.”

Do dengue à febre-amarela
O dengue é também uma doença relevante para o viajante sobretudo se se viaja para países com surtos epidémicos. “Neste momento, com o começo das chuvas, tem-se assistido ao aumento de dengue em algumas regiões do Brasil e já vai surgindo na índia e no Sudeste Asiático”, adianta Jorge Atouguia.

O dengue provoca febre, dores ósseas, dores articulares, cansaço extremo mas é uma doença autolimitada e benigna (para quem nunca teve a doença anteriormente).

“O problema é que se a pessoa voltar a ser infetada por um serotipo diferente de dengue poderá desenvolver manifestações hemorrágicas, o que significa que não convém ter a doença pois as vezes subsequentes podem ser muito mais complicadas do que quando se contrai dengue pela primeira vez. Há poucos países onde existe apenas um serotipo da doença”, salienta o infeciologista.

A febre-amarela não constitui grande preocupação porque existem regras internacionais de sanidade que obrigam a que os viajantes sejam vacinados contra a doença. “Poderá ser um risco importante para as pessoas que vivem nas zonas endémicas e que não estão cobertas pela vacina”, adianta Jorge Atouguia.

Farmácia de viagem e bom senso. Sempre!
- Deve levar sempre consigo os produtos que usa por rotina. “Aconselha-se ainda que levem os medicamentos que os médicos prescrevem para prevenção de algumas doenças endémicas, como por exemplo, a malária, quando assim se justifica ou para doenças que possam surgir. Os outros medicamentos que os viajantes devem transportar estão relacionados com as atividades a desenvolver nos locais de destino”, defende o especialista em Medicina Tropical.

- Além disso, é importante não esquecer os repelentes para proteção dos mosquitos e protetores solares se vão para zonas onde vão estar expostos ao sol.

- O pânico pode também originar o descanso excessivo. “Passa-se de um extremo para outro com relativa facilidade. Somos muito de excessos entre o super pânico e o super alívio, o que pode ser perigoso. Devemos estar sempre alerta”, conclui Jorge Atouguia.

- As doenças de transmissão sexual são muitíssimo relevantes para determinados grupos etários e géneros. “Ainda há muito turismo sexual sobretudo para pessoas com estadias de média / longa duração”, alerta o especialista. 

- “É importante que as pessoas se mantenham alerta depois do regresso porque há manifestações que só surgem passado algum tempo da transmissão da doença ou da infeção”, defende Jorge Atouguia. Ou seja, o facto de não terem contraído determinada doença durante a estadia não significa que o viajante esteja isento de risco após o regresso.

Onde ir?
A maioria dos hospitais já tem esta consulta e o Instituto de medicina Tropical também. Pode ainda dirigir-se à Clínica de Medicina Tropical e do Viajante, onde Jorge Atouguia dá consulta pelo número de telefone 213 225 621.

Texto: Cláudia Pinto

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