É uma hora de viagem entre o porto de Civittavechia, onde os barcos de cruzeiros atracam, e Roma, a cidade pluri milenar que nos ocupa o imaginário desde tenra idade, quando começámos a ser levados até lá pelas histórias de Astérix e Obélix, de Alix e depois de Spartacus, Ben-Hur e tantos outros heróis e figuras míticas.

À medida que nos aproximamos da cidade de Rómulo e Remo, entre as construções dos dias de hoje, vão aparecendo outras, feitas de ruínas de tijolo burro e pedra, que marcam o tempo vivido aqui e o fazem descer a um passado remoto, perdido nos séculos, a uma Era em que desde as margens do Tibre se dominava uma boa parte do Mundo conhecido, à força de impôr a Pax Romana a povos “bárbaros”. É por estas memórias da Roma Antiga que se tropeça na Roma Moderna, mas a cidade tem muito mais que apenas vestígios da sua glória passada, ela é desenhada também pelas muitas maravilhas que os italianos criaram desde a queda do Império Romano até aos nossos dias.

Qualquer visita a Roma não pode deixar de incluir os monumentos principais, que são tão conhecidos que dispensam apresentações. Entre eles incluem-se o Vaticano, o Fórum e Coliseu Romanos, as Piazzas de Spagna e Navona, a Fontana di Trevi, o Pantheon. Ainda que sejam incontronáveis, estes são também os locais de visita mais turísticos e também por isso mais congestionados. Qualquer guia turístico os pode descrever profunda e profusamente, portanto o roteiro deste artigo vai levar-vos mais além do óbvio, na certeza de que é aí que está a verdadeira essência da cidade e os seus tesouros mais interessantes para os viajantes, ainda que não para os turistas.

Roma é uma cidade para se conhecer a pé, por entre piazzas e vias, tropeçando em chiesas e palazzos e descobrindo os segredos escondidos dos olhos mais superficiais. A cada passo Roma deslumbra e surpreende-nos com encantos tantos, ritmos quase bucólicos, quotidianos tradicionais com a banda sonora de vespas a assobiar, e muitas pessoas bonitas que nos enchem os olhos de moda e estética. Como diziam num certo programa italiano, a maior passerele da vida é a rua, e isso em Roma adquire um sentido muito particular.

Passear em Roma dá gosto, até porque a cidade é uma das capitais da gastronomia da Europa, com milhares de trattorias e gelaterias que alimentam os sentidos. O bairromais interessante para mangiare é sem dúvida o Trastevere, uma zona de ruas estreitas, pavimentadas com macadame e recheada de casas medievais. É também o bairro onde à noite os romanos vão sair nos muitos bares que o povoam. Nos meses estivais as ruas enchem-se de esplanadas e em cada recanto aparece um bar que convida ao famoso aperitivo italiano, que começa no fim da tarde e se prolonga noite dentro. 

Além de Trastevere existem outros bairros mais ³desconhecidos² que mostram uma Roma ainda mais genuína. É o caso de Garbatella, Rione Monti e Coppedè, desenhado pelo arquitecto do mesmo nome no início do século XX, e que hoje ainda preserva o carácter que definia esse período da história de Itália, no qual o fascismo começava a dar os primeiros passos. As impressionantes casas e palácios, de fachadas ricamente decoradas, são postais ilustrados de uma das épocas em que mais se exacerbou  em cada recanto aparece um bar ucuras, as minhas tensais, pelo mundo e o seu desconhecido, pelas pessoas em geral, pelas minhaso orgulho de ser italiano, uma espécie de era Neo-Romana.

A sugestão de um monumento menos óbvio mas que merece uma visita cai no Museu Ara Pacis, que existe para homenagear o altar de Pacis, a deusa da Paz. O templo foi erguido para celebrar o regresso de Augustus a Roma, depois da sua campanha vitoriosa pela Gália e Hispânia. O museu vale pelo altar em si mesmo, ricamente ornado de estátuas e figuras em baixo relevo, mas também pelas coleções temporárias que vai recebendo e, last but not least, pela recente intervenção arquitetónica do americano Richard Meier, que substituíu a estrutura protetora original, erguida a ordens de Benito Mussolini.

Mas Roma tem mais que apenas  passado, a cidade tem também jóias de arquitetura contemporânea, a mais brilhante e arrojada das quais é possível que venha a viver milhares de anos, como as suas rivais romanas. Trata-se do Museu Nacional de Arte do Século XXI, o MAXXI. O edifício alberga uma coleção permanente e exposições temporárias mas vale essencialmente pela arquitetura, da vencedora do Pritker Award, Zaha Hadid. A arquiteta desenhou um complexo sistema de rampas, escadas e pontes, que encaminham os visitantes através das peças de arte, numa viagem improvável, surpreendente e recheada de irreverência. É um contraste total em relação ao que esperamos encontrar em Roma mas talvez também por isso merece uma visita.

Antiga ou Moderna, no interior ou a vaguear pelas suas vias e piazzas, Roma é uma cidade deslumbrante para se conhecer, um destino imperdível para todos quantos querem conhecer o Mundo. Os muçulmanos devem ir a Mecca uma vez na vidaŠ A Roma devem todos ir uma vez na vida, independentemente da sua religião ou origem.  

Miguel Júdice

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