São cada vez mais as mulheres que viajam sozinhas. Umas são completamente independentes e organizam tudo sem ajuda, outras recorrem aos serviços de agências de viagens, atentas a este nicho de mercado. a única regra é deixar os homens em casa. Paula Cosme Pinto, jornalista e escritora, começou a viajar sozinha há cerca de oito anos um pouco por acaso mas gostou da experiência e, durante algum tempo, adotou o lema «Não contar com ninguém para viajar». Assim, todos os anos, organizava a sua viagem, e se alguém queria, juntava-se a ela, se não ia sozinha. Indonésia, Laos, Malásia, Argentina, Itália e Malta foram alguns dos países onde esteve sozinha e o balanço é muito positivo.

«Gosto muito de viajar sozinha, embora goste mais de o fazer acompanhada, no entanto, não me privo de viajar só por não ter companhia», conta. E foi isso que lhe aconteceu nas suas primeiras férias a solo. «Arranjei uma viagem muito barata para Malta e vi-me sem companhia. Tive algum receio mas acabou por ser uma das melhores viagens da minha vida. Fiz couchsurfing numa casa com vista para o mar e, durante aquela semana, integrei a família e o grupo de amigos do rapaz que me recebeu. Se não tivesse ido sozinha não teria estado tão aberta a conhecer tanta gente», diz.

E, na sua opinião, essa é uma das grandes vantagens de viajar sozinha. «Quando vamos com mais alguém, fechamo-nos, mas sozinhos sentimos necessidade de comunicar e não há nada melhor do que conhecer o local onde estamos através da experiência de quem lá vive», sublinha. A opção de Paula Cosme Pinto é partilhada por cada vez mais mulheres em Portugal. Viajar é abrir horizontes e descobrir um mundo novo, poucas coisas são tão enriquecedoras, por isso, pense bem se quer mesmo ficar em casa só por não ter companhia para viajar. Sozinha ou inserida num grupo numa viagem organizada por uma agência, parta sem hesitar.

Regras de segurança

A segurança era a grande questão de Paula Cosme Pinto antes de começar a viajar sozinha, mas assim que começou a fazê-lo percebeu que «há muito respeito e até um certo paternalismo pelas mulheres que viajam sozinhas tanto por parte dos locais como de outros viajantes». A jornalista aconselha «uma grande dose de bom senso, algum planeamento e respeitar as tradições». «Se estiver num local onde não me sinto confortável, saio imediatamente e já me senti mais insegura em Paris do que na Indonésia», exemplifica.

A jornalista escolhe as suas viagens um pouco por choque cultural. «Gosto de me sentir um pouco perdida e de não perceber a língua, é uma sensação libertadora e preciso de um choque desses todos os anos», confessa esta apaixonada por viagens e pela descoberta de paisagens apaixonantes e inspiradoras. A sua lista já incluiu destinos como África ou Vietname e Camboja. Paula Cosme Pinto também já viajou só com amigas mas também já incentivou outras a partirem à aventura sozinhas. Um desses casos é Carolina Reis, também jornalista.

«Viajava muito, mas nunca o tinha feito sozinha até que há três anos resolvi ir aos Estados Unidos fazer um curso de jornalismo em Pittsburgh e aproveitar a viagem para visitar Miami e Nova Iorque». Na altura, «ninguém estava disponível para viajar, mas incentivada pela experiência da Paula, resolvi ir», conta. Os seus únicos receios era sentir-se sozinha e não ter como tirar fotografias a si própria, mas ambos foram infundados. «Logo no primeiro dia, conheci uma rapariga alemã que ainda hoje é minha amiga e quanto às fotografias ou usava o temporizador ou as próprias pessoas perguntavam se queria que me tirassem fotografias», revela.

A experiência foi de tal maneira gratificante que Carolina Reis passou a tirar três semanas de férias só para ela e, depois dos Estados Unidos da América, já foi à Malásia, a Singapura, ao Sri Lanka e ao Dubai. «Viajar sozinha é daquelas coisas que quero fazer para sempre. É um tempo que tenho só para mim e dá para explorar muito mais os sítios onde vou». Quando a entrevistámos, planeava uma deslocação a São Tomé e Príncipe com uma amiga, devido a um projeto de voluntariado que está a desenvolver. A quem se queira aventurar sozinha, diz para «não ter medo do desconhecido e a regra de segurança número um é não fazer nada que não fizessem também em Lisboa», afirma Carolina Reis.

Veja na página seguinte: Os preços dos pacotes só para elas

O apoio das agências

Paula Cosme Pinto e Carolina Reis são viajantes independentes. São elas próprias que organizam a sua viagem através da internet, no entanto, as agências de viagens estão atentas a esta tendência e algumas até têm programas só para mulheres. Em Portugal, o mercado não está tão desenvolvido como nos Estados Unidos da América, Itália ou Espanha, mas «a Vibo Viagens Expo Sul tem três pacotes especificamente para mulheres: Travel & Shop, Travel & Spa e Travel & Discovery, com preços que variam entre os 250 € e os 3.500 €», revela Andreia Augusto, chefe de loja.

«Marraquexe, Istambul, Tailândia, Malásia, Vietname, Sri Lanka, Praga e Roma são os destinos mais procurados e, em todos eles, há mulheres a ir sozinhas ou então com amigas», refere Andreia Augusto. O operador turístico Soltrópico também está atento a este mercado emergente e, de acordo com o diretor comercial, Nuno Anjos, têm constatado um «aumento de procura de viagens por mulheres sozinhas e grupos de mulheres, especialmente, para Marraquexe, Istambul, Ilha do Sal, Rio de Janeiro, Tailândia, Dubai, Bali, Açores e Madeira, com preços a variar entre os 235 € e os 1.399 €».

O mesmo tem sucedido na Agência Abreu, embora não tenha um programa desenhado especificamente para o universo feminino. «Entre essas viagens vêm ganhando relevo as despedidas de solteira para destinos lowcost. No topo das preferências estão as chamadas citybreaks, ou seja, cidades europeias com estadas curtas de dois ou três dias, que custam em média 170 € a 250 €», revelam os responsáveis da agência.

Aventuras e cruzeiros

Na Papa-Léguas, uma agência de aventura, também não há nenhum produto específico para mulheres. «No entanto, aparecem algumas que, por opção ou por não se juntar mais ninguém à data de partida, partem em viagem sozinhas. Entre o nosso público, as mulheres sempre estiveram em maioria. Viajar com um grupo de amigas também é uma situação que ocorre, mas não em regime de exclusividade. Há amigas que se inscrevem em grupos onde vão mais pessoas» revela Artur Pegas, diretor-geral da empresa.

A Global Sea Travel, uma agência de viagens mais direcionada para o turismo de cruzeiros, também vê nas mulheres «um mercado extremamente interessante e que irá crescer certamente», como revela o diretor Fernando Santos. «Temos sido contactados por mulheres que querem viajar sozinhas ou com amigas para despedidas de solteira ou para comemorar o fim da universidade», exemplifica. A razão é simples. «A bordo de um navio não há tédio e todas as valências (spas, restaurantes, discotecas, piscinas, ginásios) estão a uma curta distância», sublinha.

Fernando Santos diz também que as próprias companhias estão atentas a esta tendência. «Há algumas que já têm preços para ocupação single dos camarotes e o navio Norwegian Epic tem uma zona específica para quem está a viajar sozinho com cabines mais pequenas e zonas de convívio exclusivas», assegura mesmo este responsável.

Veja na página seguinte: As diferenças entre as portuguesas e as espanholas

Mais portuguesas a viajar

As portuguesas estão a viajar cada vez mais e, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) relativamente a 2011, 53% dos viajantes nacionais são do sexo feminino e 56% tinham menos de 45 anos. As estatísticas de turismo, relativas ao mesmo ano, mostram que dos 372 mil portugueses a viajar para o estrangeiro, 196 mil são mulheres e algumas partem à aventura sozinhas.

E as espanholas?

Na vizinha Espanha, o mercado está mais desenvolvido e há agências específicas para mulheres, como a Focus on Women, que já teve clientes portuguesas. A agência, fundada por Alice Faveau, especialista em economia árabe e viajante incansável, oferece «uma maneira diferente e humana de viajar para conhecer o mundo através do olhar feminino», revela Lupe Escoto, codiretora. Os programas são diversos, desde fins de semana em casa rurais na Península Ibérica, a escapadelas de quatro a 10 dias às capitais europeias e Marrocos, passando pelas grandes viagens, de 15 dias, ao Japão, Índia, Vietname, Peru e Madagáscar.

A grande maioria das viajantes que procuram a Focus on Women vão sozinhas mas há também amigas e irmãs a viajar juntas. «As vantagens são muitas», como explica Lupe Escoto, que acredita que estas viagens «não se esquecem facilmente, pois conhecer o ponto vista das mulheres que vivem nos locais é uma proposta única no setor e oferece uma visão e experiência diferente e enriquecedora».

Vai viajar sozinha?

Estes são os sites obrigatórios que não deve deixar de consultar:

- Journeywoman.com
Um site muito completo sobre tudo o que precisa de saber para viajar sozinha.

- Roadtripdivas.com
Um grupo de amigas norte-americanas conta as suas aventuras em viagem.

- Women-traveling.com
Agência de viagens online só para mulheres que queiram viajar em grupo.

- Adventurewomen.com e Callwild.com
Agências de viagens para mulheres que gostam de turismo de aventura.

- Womentraveltips.com
Dicas de uma viajante experiente para todo o tipo de viagens que as mulheres procuram.

Texto: Rita Caetano com Andreia Augusto (chefe da loja Vibo Viagens Expo Sul), Artur Pegas (diretor da agência de viagens Papa-Léguas), Fernanda Santos (diretor da agência de viagens GlobalSea Travel), Lupe Escoto (codiretora da Focus on Women) e Nuno Anjos (diretor comercial da Soltrópico)