Rodeada por jardins e vinhas, em Lousada, no norte de Portugal, a Casa de Juste tem uma história que soma mais mais de 600 anos. Na propriedade, que pertence à família dos Riba Douro, existe uma unidade de alojamento de agro-turismo, uma fábrica de produtos gourmet produzidos com ingredientes locais criteriosamente seleccionados e espaços para a organização de banquetes e casamentos, workshops de culinária, degustações da gastronomia local, visitas e piqueniques. Além da beleza natural da paisagem envolvente, onde os sons da natureza exuberante se aliam às fragâncias dos extensos jardins, destaca-se a construção em granito maciço.

Fernando Guedes, proprietário do espaço e mentor dos jardins da propriedade, não se cansa de os elogiar. A sua experiência em jardinagem começa aos 19 anos a cuidar da manutenção de um dos espaços verdes da família. Hoje em dia, juntamente com a mulher, gere os destinos do empreendimento. E é nos jardins da propriedade que passa grande parte do seu tempo. Veja a galeria de imagens da Casa de Juste.

«A minha afinidade com os jardins começou muito antes do projeto dos jardins desta casa ter iniciado. A Casa de Juste pertence à família da Ana, a minha mulher, desde o século XV, sendo sempre um morgadio, cuja principal atividade era a agricultura tradicional da região entre Douro e Minho. Quando herdámos parte da propriedade e adquirimos as restantes partes, com 12 hectares, decidimos que um dos principais atrativos de interesse para atrair turistas seria criarmos um grande espaço ajardinado que se iria substituir ao espaço exterior à quinta com uma paisagem bastante alterada», recorda Fernando Guedes.

A evolução que o passar dos anos trouxe

O projeto inicial era bastante mais pequeno do que o atual, existindo só um pequeno jardim no pátio interior da casa principal e algumas caminhos bordejadas de buchos. «Mas, à medida que os visitantes foram chegando, apercebemo-nos que era necessário criar um circuito em que as pessoas pudessem passar mais algum tempo e chegassem a fim da visita satisfeitos. Assim, surgiu um percurso com um quilómetro na totalidade», esclarece o empresário.

«Foi muito importante a minha experiência anterior para se conseguir que esta aventura, com meios financeiros bastante restritos e num país em que os pequenos jardins não são valorizados, tenha chegado aos dias de hoje», sublinha mesmo Fernando Guedes. «De facto, na minha origem familiar, sou descendente de duas famílias proprietárias de grandes jardins, o que foi fundamental para a minha experiência. Do meu lado paterno sempre vivi e convivi com dois espaços de grande importância», refere.

Desses tempos guarda na memória a Quinta da Aveleda com os seus jardins à inglesa e a Quinta de Fiães ou de Santo Inácio, casa de verão da família Vanzeller Guedes, onde existe uma das maiores colecções de camélias, num jardim típico do norte. «Simultaneamente, do meu lado materno, as duas grandes casas dos Condes de Riba d’Ave, meus avós, foi onde ganhei a maior experiência, sendo a primeira a Quinta do Barão, em Carcavelos, com um jardim típico do século XVIII com azulejaria do tempo do Marquês do Pombal», recorda.

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As (outras) vivências por detrás da Casa de Juste

Na memória tem também o grande jardim da casa mãe em Riba de Ave, que foi criado pelo mesmo paisagista dos jardins da Casa de Serralves, no Porto. «Tive a sorte de, quando tinha 19 anos, a minha avó me ter pedido para acompanhar a manutenção deste grande espaço. O jardim da Casa de Juste é fruto de toda esta vivência em conjunto com o entusiasmo e energia da minha querida Ana, que me apoia e incentiva, tal como todos os voluntários e colaboradores que trabalham neste projeto», agradece Fernando Guedes.

«Os meus agradecimentos vão para a arquiteta Teresa Chambel, a arquiteta Inês Pereira de Lima, o head gardener Chris Crowder e a sua equipa de voluntários ingleses e o professor Scoth Chamberlim e a sua equipe de voluntários americanos», sublinha. «As espécies que existem neste jardim são bastante variadas mas são, sobretudo, as que melhor se adaptam ao clima e solos ácidos, como é o caso de azáleas, rododendros, hortênsias, peónias, ervas aromáticas, camélias e diversas árvores», diz.

Ao longo dos anos, foram plantadas na quinta cerca de 10.000 árvores. «As ideias iniciais partem sempre numa primeira fase duma iniciativa entre mim e a Ana, uma vez que estamos sempre presentes no jardim e vamos sentindo as diferentes necessidades. O segundo passo passa por discuti-las com os técnicos para as projectarem e as porem em práticas. Este jardim está sempre em movimento, uma vez que nunca está totalmente finalizado», reconhece.

O (outro) jardim que encanta o gestor da propriedade

Uma intervenção maior em 2010 permitiu a reestruturação de espaços construídos 10 anos antes. «As horas passadas num espaço desta dimensão são muitas, nunca havendo fins de semana. Também variam de acordo com as estações, sendo o inverno o período mais calmo. É difícil calcular as horas exactas mas penso que representam uma média de três por dia», assume Fernando Guedes, apaixonado por espaços ajardinados que enchem o olho.

«O jardim público de que mais gosto em Portugal é o Palácio da Pena, não só pelo jardim mas pelo entusiasmo com que este projeto foi criado. Costumo visitá-lo sempre que possível, dada a distância. No estrangeiro, costumo visitar sobretudo jardins em Inglaterra, uma vez que os nossos voluntários são responsáveis de grandes jardins ingleses», refere ainda, entre outras confissões.

«A ferramenta que mais uso em jardinagem penso que será a tesoura de poda. Mas utilizo um pouco de tudo, dada a diversidade de trabalhos que são necessários fazer todos os dias», refere. Costuma adquirir plantas no Horto Viveiros de Castromil e na Quinta de Villar d' Allen. «O melhor presente de jardinagem que recebi foi a instalação de um sistema de rega em toda a área do jardim, através do Sistema de Incentivo Financeiro EEGrants», esclarece o gestor da propriedade.