A génese deste parque iniciou-se em maio de 1991 com a aprovação do Plano Parcial do Norte de Oeiras, um plano que delimitava uma área com cerca de 25 hectares para o futuro Parque Urbano e Desportivo de Oeiras. Seria um corredor verde, de «separação entre Oeiras e Paço de Arcos, que a partir do Viaduto do Espargal integrava a norte, o alto do Puxa-Feixe, como ponto culminante de valorização da paisagem local», pode ler-se no documento. Em 1997 começa a delinear-se a criação de uma alameda de homenagem aos poetas do séc. XX.

O projeto, que partiu da ideia original do poeta David Mourão-Ferreira e do escultor Francisco Simões, contou com a força impulsionadora de Isaltino de Morais, então presidente da Câmara Municipal de Oeiras. Com o tempo, o conceito de parque urbano vai-se sedimentando e, em vez de uma alameda, propõe-se um âmbito mais alargado de homenagem aos poetas portugueses e aos dos países da lusofonia, com total empenhamento de Francisco M. Caldeira Cabral.

Nasce assim o Parque dos Poetas, um projeto com 60 esculturas de 40 diferentes artistas, celebrados em jardins-pétala, que derivam dos ramos da alameda, espinha dorsal do parque, que o estrutura e percorre de norte a sul. Veja a galeria de imagens deste jardim que atrai anualmente milhares de pessoas ao concelho. Estas foram as diferentes fases da obra:

- 20 poetas para o século XX

Em 2003, é inaugurada a primeira fase do parque, com uma área de 10 hectares e 20 esculturas do mestre Francisco Simões, para 20 poetas do século XX. A Alameda dos Poetas adquire aqui um sentido mais formal, da qual derivam os jardins temáticos e uma composição de fontes, com rochas e brumas de nevoeiros, numa exaltação do oriente. Nesta fase, além de equipamentos desportivos, temos uma fonte cibernética, um anfiteatro, palco de inúmeros espectáculos, zonas infantis, parque de merendas e amplos espaços de recreio livre.

- Dos trovadores aos poetas da renascença

Em 2013, dez anos depois, foi inaugurada a segunda fase do parque, com cerca de quatro hectares, com poesia, escultura e 13 jardins dedicados aos poetas, homenageando-os desde o início da nacionalidade com os trovadores (século XII) até aos poetas do renascimento (século XVII). Estão aqui representados D. Dinis, Gil Vicente e o Frei Jerónimo Baía, entre outros, com destaque para o poeta Luís de Camões.

A sua obra surge numa representação simbólica da famosa Ilha dos Amores, da Gruta de Camões e das suas ninfas, esculpidas por Mestre Francisco Simões. Nesta fase, as esculturas são de 13 diferentes artistas, com diversas correntes estéticas, valorizando o património do parque.

- Dos poetas do barroco aos poetas do romântico

18.07.2015. A data marca a inauguração da terceira e última fase do parque. A mais complexa e com maior investimento orçamental, com uma área de oito hectares. Completam-se assim os 22 hectares de zonas verdes. Aqui se exaltam os poetas do período barroco (século XVII), da Arcadia (século XVIII), até ao fim do período romântico (século XIX). Poetas como Correia Garção, a marquesa de Alorna, Alexandre Herculano e Guerra Junqueiro, entre outros, constam deste troço de parque.

Também estão representados poetas da lusofonia, tais como Drummond de Andrade (Brasil), Alda Lara (Angola), Adé (Macau), Vasco Cabral (Guiné), entre outros. São, ao todo, 27 jardins dedicados à poesia, com a participação de 26 escultores, com variadas linguagens estéticas, bem como de diferentes nacionalidades.

Veja na página seguinte: As principais atrações deste jardim

O que há para ver no Parque dos Poetas

Estas são algumas das principais atrações deste jardim:

- Templo da Poesia

Nesta fase estão contemplados, além dos jardins temáticos, equipamentos de referência, com especial destaque para o Templo da Poesia, uma obra icónica no parque e no concelho de Oeiras. Um farol na liderança cultural, um local de encontro, de estudo e reflexão sobre a literatura e poesia de língua portuguesas, assim como da ecologia e arte dos jardins. Com uma arquitetura vanguardista, possui um anfiteatro, restaurante e salas de exposições.

- Anfiteatro Almeida Garrett

O anfiteatro designado Almeida Garrett será, também ele, local de convívio e cultura, com capacidade para cerca de 600 pessoas.

- Alto do Puxa-Feixe

No Morro do Puxa-Feixe, beneficiando da vista sobre a Foz do Tejo, aparecem-nos motivos clássicos e simbólicos, como é o caso da Pirâmide-Mirante, inserida num labirinto circular. O caminho da cultura não é fácil. Há que percorrê-lo mas, chegados ao topo, o prémio é muito estimulante…

- Poetas da Lusofonia

Os jardins dos poetas dos países ou territórios de expressão ou cultura portuguesa divergem do miradouro e da alameda alinhada com o Bugio, na foz do rio Tejo. Estão representados poetas do Brasil, de Moçambique, de Angola, da Guiné-Bissau, de Cabo Verde, de Macau, de Timor, de São Tomé e Príncipe e de Goa.

A conceção paisagística do parque

Este parque deve ser entendido como um espaço de recreio e de homenagem à cultura portuguesa. Ao deambularmos pelos jardins, poderemos fazer uma leitura mais profunda desta paisagem, que reflete uma estreita relação entre a poesia e a arte dos jardins, quer através da escultura, quer de toda uma simbologia ambiental, que se traduz na composição do parque. A arte dos jardins é uma disciplina abrangente e integra diversas formas de expressão artística, como a escultura, a música e o teatro, a dança, a pintura e a fotografia… Procurámos nesta composição do Parque dos Poetas abrir espaços de expressão para todas as artes e correntes artísticas.

A vegetação como elemento aglutinador

A diversidade botânica está aqui patente, pois tivemos o sonho de aqui fazer nascer um jardim botânico. «A Flora d’os Lusíadas» do Conde de Ficalho, de 1880, serviu de base para as plantações e composição do jardim e do horto botânico, alusivo ao poeta Luís de Camões. O bosque mediterrânico reveste as encostas do templo da poesia e todos os jardins temáticos possuem a vegetação relacionada com a poesia ou com o poeta, recriando ambientes que estimulem a curiosidade botânica e florística.

Foi a obra de uma vida enquanto arquitetos paisagistas, à qual dedicámos mais de 15 anos de estudos e projetos. Embora tivéssemos outros projetos em mãos, a este voltávamos sempre. Era o mais ambicioso, pois unia a arte paisagista, a poesia, a escultura e a arquitetura. «Aprende-se muito mais nos bosques do que nos livros; as árvores e os rochedos ensinar-vos-ão coisas que não se ouvem em outros sítios. Vereis com os vossos olhos que se pode extraír mel das pedras e azeite dos mais duros rochedos», escreve São Bernardo em «Livro da natureza».

A ficha técnica do projeto

Francisco M. Caldeira Cabral e Elsa Matos Severino são os arquitetos paisagistas autores do parque, sendo que a arquitectura e conceção do Templo da Poesia é da responsabilidade de João Ó Bruno Soares, com projeto de arquitetura Intergaup, de Diogo de Lima Mayer e Vitor Sambado. O projeto de estruturas, águas e esgotos Sipca tem a assinatura de Jorge Lipari Pinto e Fernanda Félix e o projeto de eletricidade e instalações especiais Eace, com João Cristóvão e Maria João Azevedo como engenheiros associados. O projeto de rega foi desenvolvido pelo engenheiro Ferreira da Costa.

Texto e fotografias: Elsa Matos Severino