Viajar para conhecer escolas, casas, parques ou hospitais abandonados não faz parte do turismo de massa, mas há quem o faça. São conhecidos como exploradores urbanos e são uma espécie de subcultura do turismo. Fred Szabries, artista plástico norte-americano e autor do livro "The Forbidden Tourist" é uma dessas pessoas e partilhou connosco o fascínio que sente por estes lugares fora do circuito normal dos viajantes comuns.

Os locais mais improváveis para um turista visitar
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Sítios como o Monte Palace, o hotel fantasma nas proximidades da Lagoa das Sete Cidades, nos Açores, uma das novas atrações turísticas de São Miguel, mas repletos de história e que têm a vegetação como única moradora, pelo menos, oficialmente. Para compreender melhor o que o motiva, veja a galeria de imagens ao lado.

O interesse de Fred Szabries por edifícios antigos e históricos começou ainda durante adolescência. Mais tarde, as constantes viagens para expor os seus trabalhos como artista plástico e pintor contribuíram para fazer crescer o gosto por este tipo de turismo. "Sempre que sabia que ia estar perto de um edifício interessante, planeava a visita para o fotografar" e, assim, foi "acumulando as fotografias, os incidentes e as aventuras", como revela, que deram origem ao seu livro.

A explicação para o título é simples. "Por vezes, tenho permissão para visitar esses locais, noutras não, mas de qualquer forma são espaços que estão vedados à maioria das pessoas e passo muito tempo a explorá-los em vez de ter umas férias típicas, logo considero-me um turista proibido", esclarece.

Recordações do passado

Recuemos então no tempo. O primeiro edifício abandonado que visitou foi o "Vinoy Hotel, em St. Petersburg, Florida, em 1973, que foi restaurado em 1990", conta. Enquanto os amigos queriam apenas viver alguns momentos de emoção, ele levou a sua máquina fotográfica e lembra-se de ter passado horas a ver os menus antigos do restaurante, os registos dos hóspedes e os livros lá deixados pelos turistas.

"A história, o cheiro do edifício, os rangidos e, sobretudo, a incrível arquitetura intrigavam-me. Apesar de ter ficado muito contente com a recuperação do edifício, uma vez que a reabilitação é sempre preferível à destruição completa e já vi muitos edifícios majestosos a serem destruídos, sempre que lá vou continuo a sonhar com o hotel abandonado e vazio", sublinha.

Escolhas pessoais

Fred Szabries já visitou centenas de edifícios abandonados, entre os quais hospitais, cemitérios, escolas, hotéis e morgues, mas para o livro escolheu apenas 13. "Selecionei os que têm uma arquitetura mais significativa e os que poderiam ser mais interessantes para que as pessoas os vissem através dos meus olhos", confessa.

O artista plástico não consegue, no entanto, escolher um como favorito. "Cada um deles é especial e único à sua maneira. É como escolher a nossa música ou prato preferidos, depende do estado de espírito em cada momento", afirma. No entanto, diz que o Northampton State Hospital, no Massachusetts, nos EUA, "foi de longe o local mais bonito" onde já esteve. "É uma obra-prima em decadência. É uma sinfonia visual de cores, variedade e mistério", afirma.

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O local que Fred Szabries mais gostou de visitar

O local que mais gostou de visitar até hoje foi Swamp Rocket, na Florida, também nos EUA. Para lá chegar, é preciso caminhar durante 15 minutos numa estrada cheia de obstáculos e, depois, encontra-se um buraco de 55 metros que alberga um foguetão, de 30 metros de comprimento, feito para ir à Lua, mas que nunca chegou ao seu destino. "É simplesmente maravilhoso", assume.

"Nunca vi nada assim, no entanto, não é nada fotogénico", realça ainda. Para ser explorador urbano, Fred Szabries diz que é preciso ter "muito conhecimento sobre os locais, um bom plano e acima de tudo coragem". O artista plástico tem amigos em todo o mundo com os mesmos interesses com os quais partilha informação e o mesmo credo.

"Tal como os exploradores da natureza, a nossa máxima é tirar apenas fotos e deixar só pegadas", refere. "É uma ética forte com a qual concordo plenamente", desabafa. "Considero que vandalizar e grafitar estes locais é uma autêntica profanação", remata ainda.

Como Fred Szabries prepara as suas visitas

O início é sempre igual. "Começo por ler sobre a história do local", confessa. "Estudo os mapas de satélite e os planos de edifícios que encontro", diz. "Sobretudo quando viajamos com o tempo muito apertado, ter informação atualizada pode fazer a diferença entre uma missão bem ou mal sucedida", adverte Fred Szabries.

"Tenho uma corrente de amigos espalhados pelo mundo que têm os mesmos interesses e partilhamos os nossos conhecimentos", refere ainda. "Levo sempre uma lanterna, um telemóvel, água e a câmara fotográfica (com pilhas extra), um tripé também é muito útil, porque muitos destes locais são muito escuros e, como costumo tirar fotos ao longo do dia no mesmo sítio, sem um tripé é impossível", acrescenta.

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Quer embarcar nesta aventura?

3 conselhos de Fred Szabries para que nada falhe:

1. Peça permissão para entrar nos locais. Mesmo que pareçam abandonados, estes espaços podem ter um dono, que pode ser uma pessoa, o estado ou uma associação. Se entrar sem licença pode ser preso.

2. Nunca vá sozinho, alguns dos edifícios podem estar instáveis e serem perigosos. Se cair e estiver sozinho, pode ficar numa situação complicada.

3. Tenha também atenção a animais selvagens que por lá possam estar e a pessoas que tenham ocupado o local.

Texto: Rita Caetano e Luis Batista Gonçalves (edição digital) com Fred Szabries (artista plástico)