O uso de inseticidas na cabine de passageiros do avião é uma medida de saúde pública incluida nos regulamentos de saúde internacionais. O objetivo é eliminar os insetos transmissores de doenças, sobretudo mosquitos, que possam ter entrado na cabine.

Há três formas de efetuar esta eliminação de mosquitos através de inseticidas. A primeira consiste pulverização do interior do avião, com os passageiros a bordo, com inseticidas de ação rápida, logo após o fecho das portas e antes da descolagem.

A segunda é feita com a pulverização do interior do avião em terra, antes de os passageiros subirem a bordo, usando um inseticida em aerossol, seguida por um tratamento adicional durante o vôo, com um inseticida em spray de ação rápida, pouco antes da aterragem. E a terceira consite na aplicação regular de inseticida residual em todas as superfícies internas da cabine, exceto nas áreas de preparação de alimentos.

Quando se aplica

São os países de destino, através das autoridades nacionais e internacionais de Aviação Civil, que exigem a implementação deste procedimento nos aviões provenientes de locais onde há doenças transmitidas por mosquitos. Os casos mais comuns são voos de regiões tropicais, para o bloqueio de transmissão da malária e da febre amarela, infeções graves e potencialmente fatais.

Nos últimos anos, porém, outras doenças transmitidas por este tipo de vetores têm assumido cada vez mais importância, nomeadamente o dengue (com surtos epidémicos sazonais na América Central e do Sul, Ásia e Oceania), o chikungunya (com surtos epidémicos de grande magnitude nas ilhas do oceano Índico, Índia, Indochina e Sudeste Asiático) e a febre do Nilo Ocidental, transmitida por mosquitos, que entrou nos EUA no final da década de 90. 

Esta doença viral ocupou, em três anos, todo o continente norte-americano, provocando uma epidemia com alta morbilidade e mortalidade. Atualmente, executa-se este procedimento da pulverização da cabine nos
aviões do Funchal para Lisboa, Porto ou Faro, para evitar a chegada do
mosquito Aedes aegypti a Portugal continental.

Sem alarmismos

Os passageiros ficam, muitas vezes, preocupados com a sua exposição ao inseticida, durante e imediatamente após a pulverização.

Eles devem ser informados e tranquilizados pela tripulação, sendo explicado que a utilização do inseticida, daquela forma, é um procedimento seguro. O cheiro pode ser desagradável, podem surgir sintomas respiratórios, normalmente se existe alguma ansiedade associada ao viajar de avião.

Mas, objetivamente, não parece haver qualquer risco de tóxicidade para os passageiros ou tripulantes pela utilização dos métodos e produtos recomendados para a eliminação dos mosquitos a bordo.

Mosquitos

O transporte de mosquitos vetores de doenças de um ponto para outro do globo apresenta dois riscos:

Risco de infeção

O mosquito está infetado, sobrevive à viagem e, após a chegada, pica (e infeta) pessoas que estão no aeroporto ou residentes nas áreas circundantes. As pessoas podem desenvolver quadros gravíssimos de doença, quer pelas características da infeção, quer pelo atraso no diagnóstico e tratamento. É o caso de surtos de malária nas proximidades de aeroportos, em países não-endémicos. Todos os anos, por exemplo, são diagnosticados entre seis e dez casos de malária em residentes na periferia do aeroporto Charles De Gaule, em França.

Risco de colonização

O mosquito não está infetado, sobrevive no local da chegada, efetua posturas e estabelece-se como espécie autóctone. Este é um dos principais problemas das alterações climáticas e da globalização. Se há condições para um mosquito vetor de uma doença endémica de uma região tropical se estabelecer noutra região, surge o risco de transmissão local. Temos o exemplo da Madeira, onde existe o Aedes aegypti, vetor de doenças como o dengue, a febre amarela e o chikungunya. Contudo, ainda não há risco de transmissão dessas infeções na Madeira, pois os mosquitos não se encontram infetados.

Texto: Jorge Atouguia