«Crime e castigo», um romance de Fiódor Dostoiévski, considerado por muitos o maior escritor russo de sempre, narra a história de Rodion Românovitch Raskólnikov, um jovem estudante que comete um assassinato e que se vê perseguido pela sua incapacidade de lidar com o delito. Há pouco mais de cinco anos, o livro publicado originalmente em 1866 serviu de inspiração ao conceito de um novo boutique hotel internacional em São Petersburgo, a segunda maior cidade da Rússia e a quarta maior da Europa.

Sonya, filha de um funcionário público a quem a personagem principal do livro doou dinheiro, acabaria mesmo por dar nome ao Hotel Radisson Sonya. Composta por 171 quartos e suites, esta unidade hoteleira de quatro estrelas manteve a elegante e sedutora fachada original de dois edifícios antigos da Liteyny Prospekt, uma das avenidas tradicionais do centro da cidade. Aproveitou o enredo para se diferenciar de outros dos hotéis da cidade e reformulou todo o seu interior.

Aproveitou o processo para criar quartos confortáveis, modernos e urbanos, onde não falta sequer um exemplar da famosa obra. Mas, mesmo que não a folheie, é impossível passar à margem de uma novela que acaba por estar presente em todos os pormenores do hotel, mais escuro do que o habitual. A justificação é simples. «Esse romance é um livro sombrio, que conta uma história de transformação», explica Shirlynn Lim. Este hotel assenta nisso.

«A decoração joga com diferentes cores, texturas, estilos e materiais, misturando tecido com metal e flores com aço. Nalguns quartos, o teto está mesmo inacabado para dar uma ideia de progressão contínua», acrescenta a diretora-geral do hotel, de origem asiática, que trocou a chuva de Londres pelo frio de São Petersburgo. É uma das muitas mulheres que trabalham no Hotel Radisson Sonya. «75% dos colaboradores são do sexo feminino. Trabalham bem», justifica.

Os quadros que intrigam os hóspedes

O serviço do hotel é afável e eficiente. A aposta na formação tem sido grande e exigente. «Os russos não têm por hábito sorrir a quem não conhecem. É uma questão cultural. Eu comparo-os com uma cebola. É preciso ir tirando as várias camadas para chegar ao seu interior. No início, não foi fácil incutir a ideia de que é importante que sorriam para os hóspedes», refere Shirlynn Lim.

Muitos, quando entram na unidade hoteleira, olham intrigados para o sofá em forma de guarda-joias negro com flores que decora o bar junto à receção. Em frente ao elevador, além dos canddeiros vistosos, é a capa de uma das personagens do livro que atrai as atenções. Nos quartos, as cores russas, os tecidos e os padrões evocam o ambiente que marca a narrativa de Fiódor Dostoiévski.

O mobiliário que perpetua o espírito do escritor

As secretárias que os decoram e que rivalizam com as camas grandes e fofas são quase réplicas da que o escritor usava para escrever e as paredes estão decoradas com quadros que, seguindo o espírito da história, representam sempre apenas partes de corpos. «Muitas vezes interrogam-nos porque é que isso acontece», revela a diretora-geral do hotel. A alcatifa em tons de verde escuro e bege com grandes flores é outro dos pormenores decorativos dos quartos da unidade hoteleira.

Um hotel que inclui ainda cinco salas de conferência que ocupam uma área total de 280 metros quadrados, com dimensões que oscilam entre os 21 metros quadrados (com capacidade para 15 pessoas) e os 142 metros quadrados (que podem acolher até 90). Dispõe ainda de um ginásio exclusivo para o uso dos hóspedes, que funciona entre as seis da manhã e as onze da noite e que está equipado com sauna e banho turco.

Depois de um intenso dia de passeio pela cidade, nada como uma pausa revigorante para relaxar e recuperar energias. Até porque São Petersburgo é uma metrópole vibrante e sedutora, que se enche de vida ao raiar do dia. Um destino perfeito para quem não dispensa o melhor da vida urbana dos dias de hoje mas também procura os vestígios arquitetónicos e culturais de um passado grandioso.

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Paladares de inspiração russa que podem ser saboreados no quarto

Além de quartos standard, o Hotel Radisson Sonya disponibiliza habitações de classe executiva, que têm pequenos luxos uma máquina de café Nespresso no quarto e ainda contemplam a oferta dos jornais do dia. O destaque maior vai, no entanto, para os alojamentos de topo, como a Suite Ego. Com vista para a animada Liteyny Prospekt, retrata a paixão do heroi de «Crime e castigo», Rodion Românovitch Raskólnikov, por Napoleão.

Já a Rebirth Suite, mais tranquila, está virada para o pátio interior dos edifícios. Para além do quarto, todas elas incluem uma sala de estar e uma sauna finlandesa. Também inspirado no livro, o bar e o restaurante Metamorfos, que apesar de interligados são espaços independentes, são outro dos pontos de descoberta obrigatórios do hotel. As ementas são apresentadas como se de um livro se tratassem.

Têm um prólogo, um epilogo e capítulos com a descrição de sabores que incluem especialidades locais e pratos de influência internacional, modernos e contemporâneos, preparados sob a supervisão do chef Igor Vlasov, como é o caso do salmão marinado em vodca com espargos e vinagreta de mostarda, da sopa borscht (à base de beterraba), do famoso bife stroganoff e do frango à Kiev, uma receita de origem ucraniana que continua a ser muito popular por terras russas.

Muitos deles podem mesmo ser encomendados e saboreados no quarto em total tranquilidade, antes ou depois da leitura de um dos muitos livros que povoam a biblioteca do hotel, uma estante sombria no piso térreo da receção que, entre outras obras de relevo, nacionais e estrangeiras, disponibiliza a obra de Fiódor Dostoiévski em várias línguas.

Foi dessas páginas que foram extraídas as citações que acompanham os números das habitações, correspondendo o primeiro número de cada uma delas ao capítulo do livro que integram. Os corredores que lhes dão acesso, igualmente escuros e sombrios, também exibem letras e expressões, conferindo um ar distintivo ao hotel.

As atrações turísticas que não pode perder em São Petersburgo

As preocupações ambientais que norteiam a administração deste hotel já lhe valeram a atribuição da certificação Green Key. Localizado a cerca de 10 minutos da estação de metro de Chernyshevskaya, é a escolha ideal para uma viagem de negócios ou para umas férias naquela que é muitas vezes apelidada de Veneza do norte, declarada Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, uma cidade moderna e vibrante onde o presente e o passado convivem tranquilamente.

A lista de atrações mais próximas inclui o Museu Hermitage, a Fortaleza de Pedro e Paulo e a Catedral de Santo Isaque, a maior e mais impactante catedral ortodoxa de São Petersburgo. De estilo neoclássico, foi mandada construir pelo czar Alexandre I. Não muito longe fica também o deslumbrante Teatro Mikhailovsky, inaugurado em 1883. É uma das mais antigas salas de ópera e de bailado do mundo.

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Outras atrações turísticas a não perder

Inicialmente gerido por uma equipa de performers francesa, o Teatro Mikhailovsky teve vários nomes durante o período de vigência da União Soviética. Situado em pleno Largo das Artes, no coração cultural da cidade, numa zona de teatros, museus e salas de espetáculos, é muito procurado pelos turistas, tal como a Catedral do Sangue Derramado. Também conhecida como Igreja da Ressurreição do Salvador sobre o Sangue Derramado é um dos monumentos mais visitados e um dos ícones arquitetónicos do país.

Para além das suas imponentes e coloridas abóbadas, integra mais de 7.500 metros quadrados de mosaicos. Há mesmo quem diga que não há outra que tenha mais em todo o mundo. Mandada edificar numa das margens do Canal Griboedova,foi construída entre 1883 e 1907, num processo de demorou cerca de 24 anos e que ultrapassou, em muito, o orçamento inicialmente definido para o efeito.

Não corre, porém esse risco ao optar por este boutique hotel da cadeia Radisson fundada em 1909 em Minneapolis, nos Estados Unidos da América (EUA) e batizada com o nome do explorador francês do século XVII Pierre-Esprit Radisson, que disponibiliza quartos a partir de 3.520 rublos, cerca de 81 €. Um preço que não reflete a qualidade desta unidade hoteleira, uma das mais interessantes da cidade.

Texto: Luis Batista Gonçalves