A consulta de medicina do viajante é uma consulta médica sobretudo preventiva. Pode, eventualmente, ter que ser curativa, se existirem problemas durante ou após a viagem. Corretamente implementada, compreende, portanto, três fases. A primeira ocorre ainda antes da viagem, a segunda durante a viagem e a terceira depois da viagem, que pode exigir um acompanhamento maior em função do destino. A maioria dos viajantes, contudo, só faz a consulta pré-viagem porque, habitualmente, não necessita de consulta durante nem depois, por não ter havido razões, em termos de saúde, para preocupações de ordem médica.

Na consulta antes da viagem avaliam-se os riscos pessoais. Por contacto com águas e alimentos em ambientes com mau saneamento básico, de doenças transmitidas por insectos, de segurança, de infeções de transmissão sexual e de doenças em situação epidémica nas zonas de destino. Estabelecem-se ainda as formas de prevenção dos riscos identificados, incluindo vacinações, medicações profilácticas ou terapêuticas e, sobretudo, informação e conselhos ao viajante para que seja ele a ter consciência dos riscos e, assim, mais facilmente evitá-los.

É o comportamento do viajante, e não as vacinas ou profilaxia, que evita a maioria das doenças. A escolha de um especialista em medicina do viajante é fundamental quando necessitamos dessa consulta. Se puder ter um acompanhamento desse médico durante a estadia nos locais de risco (através de contacto telefónico ou e-mail), o viajante sentir-se-á mais seguro. E se, finalmente, confiar no médico que o aconselhou em consulta de préviagem, saberá que pode recorrer a esse médico no regresso, para avaliação clínica, diagnóstico e tratamento de possíveis doenças com que tenha contactado durante a sua viagem.

Quando há necessidade de um acompanhamento constante

Na consulta antes da viagem, o médico deve estabelecer três áreas de estudo e intervenção:

- O viajante

Importa avaliar e, se necessário, estabilizar o seu estado de saúde, de modo a não ter limitações na sua viagem.

- O destino

O médico deve conhecer todos os riscos a que o viajante pode estar sujeito nos locais para onde se desloca, que doenças são mais prevalentes, quais as suas principais formas de transmissão (por água ou alimentos, por insetos, por contacto interpessoal).

- Os riscos

Definir os perigos para a saúde de cada viajante em função da  interação entre a pessoa e esses locais, incluindo atividades vai desenvolver e quais os riscos que comportam.

Texto: Jorge Atouguia (infecciologista)