Julia Ramalho, Julia Cota e Mistério são três dos grandes nomes da arte popular de Barcelos que integram um leque de mais de duas dezenas de artistas da cidade minhota, presentes na exposição «Do sagrado ao profano... no figurado de Barcelos», que pode ver no espaço cultural A Arte da Terra, localizado junto à Sé de Lisboa, até 16 de setembro de 2012. Promovida em colaboração com o município local, a mostra reúne trabalhos do figurado de Barcelos (produção certificada) e obras do espólio do museu de olaria da cidade.

O tipo de arte exposto, que se afirma como uma forma de expressão popular, remonta ao início do século passado, altura em que surgem em Portugal novos conceitos de preservação cultural, nomeadamente nas áreas artísticas, nas quais o artesanato de Barcelos assume um papel de relevo enquanto manifestação artística popular. São peças que, segundo a organização da mostra, são «sinónimo de múltiplos saberes, por vezes obtusos e análogos na sua aparência, mas distintos na sua natureza».

No final dos anos da década de 1950, um pouco como resultado de um crescente reconhecimento artístico por parte de alguns intelectuais da época, nomes como Rosa Ramalho, Ana Baraça, Rosa Côta ou Mistério lideram uma mudança artística e entram no universo do sagrado, com a produção de de peças que retratavam cenas da vida de Jesus Cristo e da Virgem Maria, dos padroeiros e procissões, como expressão máxima de credos, temores, devoções e superstições do povo.

Rapidamente essa nova corrente adotou símbolos e imagens presentes na mensagem evangelizadora da Igreja como forma de expressar e retratar as tradições religiosas do povo na sua forma mais autêntica. «Estas obras não foram nem são usadas para actos sagrados ou veneração publica», explica, no entanto, a organização da exposição.

«Eram fruto de um imaginário de uma cultura religiosa fortíssima e estavam lado a lado com diabos e outras figuras profanas», sublinham ainda os promotores da mostra de arte popular minhota, que pode ser vista todos os dias, entre as 11h e as 20, na Rua de Augusto Rosa, número 40, em Lisboa. A entrada é grátis.