As merecidas férias estão finalmente à porta. Depois de muitas horas fechado no escritório a imaginar-se num sítio paradisíaco, eis que a realidade promete dar uma tréguas à sua imaginação.

Malas feitas e destino escolhido, só falta pôr-se a caminho. E é aqui que, para muitas pessoas, a adrenalina da viagem sofre um revés.

A alegria de chegar é ensombrada por aquele que é conhecido como o mal do viajante, os enjoos.

Mensagens trocadas

No carro, num barco ou num avião, «os enjoos relacionados com a deslocação resultam de uma descoordenação na interpretação das mensagens que chegam aos olhos, recetores vestibulares do ouvido interno e propriocetores, isto é, as terminações nervosas que dão ao cérebro a localização do corpo», revela Jorge Seixas, professor auxiliar no Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT).

Todas as informações percecionadas pelos sentidos têm de ser interpretadas pelo cérebro para, aí, se determinar a localização do corpo, e é exatamente nessa descodificação da mensagem que surgem os problemas. «Embora não se trate de um problema grave, sintomas como as náuseas, o mal-estar estomacal (com ou sem vómito), a palidez, os suores frios, a apatia, a sonolência ou mesmo o pânico são muito desagradáveis», acrescenta.

Fator psicológico

Se, quando se prepara para viajar, não consegue deixar de pensar na
perspetiva de vir a sentir-se maldisposto durante a viagem, saiba que
essa postura pode contribuir para o agravamento dos sintomas. «Os fatores psicológicos, como o medo e a ansiedade ou, por
exemplo, a fobia do próprio meio de transporte onde se circula são
fatores potenciadores dos enjoos», esclarece o professor.

Talvez por isso as crianças entre os três e os 12 anos e as
mulheres grávidas sejam o grupo mais afetado por este problema. Determinadas doenças, «como o Síndrome de Menier ou medicamentos
também estimulam esse tipo de reação do corpo», assegura Jorge Seixas.

Em viagem

Este problema pode manifestar-se tanto num barco, como num carro ou avião, já que o que está na sua origem são os balanços que a deslocação proporciona.

Existe um conjunto de práticas que se pode adotar para minimizar os efeitos, aconselha Jorge Seixas. Num carro, o segundo meio de transporte onde é mais frequente enjoar, deve evitar-se a oscilação visual, seja fechando os olhos ou fixando-os num ponto estático fora do veículo. Num avião ou barco, é também pertinente escolher os lugares que estejam sujeitos a uma menor oscilação.

Comuns a todos os meios de transporte são as recomendações para não ingerir alimentos de digestão difícil e evitar determinados odores, como os perfumes e o cheiro a comida e de certas maquinarias.

Medicação é exceção

Os enjoos são uma resposta normal do organismo e há situações em que podem ocorrer a quase todas as pessoas. Como exemplifica o professor, «num avião comercial incide apenas em cerca de um por cento dos passageiros, mas num navio, em plena tempestade, pode afetar 100 por cento das pessoas».

Se, depois de aplicar algumas técnicas, os sintomas persistirem, pode recorrer a medicamentos anti-vertiginosos e
anti-histamínicos. A toma deve ser feita três a quatro horas antes da viagem, pois o efeito é essencialmente preventivo e perde eficácia depois do enjoo estar presente. No entanto, importa referir que «este tipo de fármacos tem efeitos adversos, como a sonolência e até uma exacerbação das manifestações, pelo que se o indivíduo costuma melhorar após vomitar, não aconselho a sua utilização», alerta o professor.

Truques para uma viagem tranquila

No carro

- Não leia

- Acompanhe a condução

-
Não olhe para dentro do veículo

- Peça ao condutor que evite
acelerações e travagens bruscas e repentinas

No avião

-Elimine o estímulo visual
- Fixe a
atenção em qualquer actividade intelectual (exceto ler)
- Sente-se
nos lugares do meio

No barco

- Evite os lugares mais suscetíveis aos
efeitos da flutuação
- Fixe o olhar no horizonte
- Evite cheiros
fortes
- Procure locais com uma boa ventilação

Texto: Sandra
Diogo
com Jorge Seixas (professor auxiliar no Instituto de Higiene e Medicina Tropical)