Vera Nobre da Costa, presidente da Associação de Amigos do Jardim Botânico da Ajuda e cronista da revista Jardins abre as portas do seu esconderijo sagrado e revela (mais) alguns segredos dos seus sucessos com as plantas.

É um jardim para olhar, porque
funciona como paisagem
de fundo da casa.
E para passear, porque tem uma área
suficientemente grande e diversificada
para causar surpresas a quem o descobre.
"Por estes dois aspectos, trata-se de um espaço muito
completo", assegura a proprietária.

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Um jardim para olhar e para passear. É desta forma simples
mas objectiva que Vera Nobre da Costa, descreve o seu jardim. Depois de anos e anos a escrever sobre as histórias
que têm marcado as suas experiências
de jardinagem, na crónica que assina na
última página da revista, Vera Nobre
da Costa abriu as portas do seu refúgio
e mostra a colecção vegetal que os leitores
têm vindo a conhecer e a acompanhar
desde 2002.

Na realidade, não se trata de um
jardim único mas sim de três zonas
ajardinadas. A primeira, acompanha
a fachada da casa e divide-se em duas
áreas. Uma delas situa-se junto ao muro, em jeito de
maciço. A outra, separada pelo caminho
serpenteante que conduz à maior
área ajardinada, forma um denso tapete
verde. É o espaço dedicado à filosofia Feng Shui com caminhos sinuosos
e canteiros com plantas acidófilas, entre
as quais se destacam cameleiras e
azáleas.

Seguindo por este caminho, encontramos
o jardim de aromáticas, estrategicamente
colocado junto à cozinha.
Coentros, salsa, alfazemas e muitas outras
aromáticas e culinárias permitem
ter sempre à mão colheita própria para
os temperos dos pratos.

Veja na página seguinte: O que se esconde para além da horta

É também aqui
que Vera Nobre da Costa tem um espaço
dedicado aos ensaios com sementeiras.

No final deste corredor de aromáticas,
quase como por magia, o horizonte
põe a nu um enorme relvado marcado
por um acentuado declive travado
por três lanços de escadas em pedra.

No centro do relvado, que envolve parte da fachada da habitação principal, destaca-se a piscina
de contornos assimétricos com a
curiosa particularidade de se encontrar
adornada por um canteiro de proporções
avantajadas, plantado com Euryops,
criando um ponto de vista com
muito interesse.

Zonas de surpresa

Concebido pelo paisagista Francisco
Caldeira Cabral, do projecto inicial
deste jardim poucas espécies ainda resistem.
As características climatéricas
da zona e as particularidades do terreno,
obrigaram Vera Nobre da Costa
a promover alterações de fundo.

"Foi
uma necessidade para conseguir ter o
jardim sempre bonito. Resolvi seguir
duas regras. Primeira, não complicar
e plantar apenas o que se dá bem nesta
zona geográfica, tendo em conta as
áreas de plantação (se tem mais sol ou
mais sombra, mais ou menos humidade) e a qualidade do solo", revela.

"Tenho uma encosta
que é só pedra e havia que tirar
partido disso. Depois, segui algumas
regras básicas que aprendi em cursos
(nos mini-cursos da Ajuda), em livros
e a ver outros jardins", refere.

"A segunda, ter sempre dois pontos de
vista. O do olhar de longe e o do olhar
de perto. Isto é, criar zonas de surpresa
mantendo a harmonia do jardim", acrescenta ainda.

Uma das zonas de surpresa alcança-se a partir de um lanço de escadas
que conduzem a um recatado ponto de
estadia com vista privilegiada sobre a
piscina.
Noutra zona do terreno encontra-se
implantado um outro jardim, este com
características completamente diferentes. Trata-se de um pomar Zen de baixa manutenção,
onde convivem cerejeiras, pereiras,
ameixoeiras, oliveiras, laranjeiras e limoeiros.
Assente numa manta de geotex
coberta por gravilha cor de salmão,
tem a particularidade de cada árvore
se encontrar rodeada por quadrados
formados por tijolo, matéria esta que
também delimita toda a área do pomar,
formando um conjunto cromático fora
do vulgar.

Veja na página seguinte: O que Vera Nobre da Costa cultiva na sua estufa

O pomar Zen beneficia da
protecção de uma grande encosta repleta
de vegetação espontânea.
E é junto ao pomar que se encontra
a estufa. Encomendada em 2003 no
Chelsea Flower Show, um dos maiores festivais de jardinais do mundo,
alberga a colecção de orquídeas e destaca-se pelo design sóbrio que se integra
na perfeição na paisagem envolvente.

Vera Nobre da Costa não esconde o
orgulho que tem no seu jardim. Quando
se lhe pergunta qual o jardim preferido
as palavras saem de imediato. "Em
Portugal, o meu, claro, porque o resultado
é produto do meu trabalho".

Em
segundo lugar, o Jardim Botânico da
Ajuda, ao qual tem vindo a dedicar grande parte do seu tempo. Já no que diz respeito ao estrangeiro,
as preferências vão para o Japão, o
Ryoan-ji e o Saiho-ji, em Kyoto.
Um dos locais mais aprazíveis do jardim
é o terraço que funciona como prolongamento
da sala de estar e que goza
de magnífica vista sobre toda a área relvada.

Texto: Luís Melo