Os últimos números internacionais não deixam a menor margem para dúvidas. O consumo mundial dos seres humanos excede em 20% a
capacidade de renovação dos recursos naturais do planeta.

Estamos, portanto a contrair uma dívida ecológica que não
poderemos controlar a menos que se implementem medidas que
restaurem o equilíbrio entre nosso consumo de recursos naturais
e a capacidade da terra para renová-los.

É unânime, hoje, que a desertificação rural que
se viveu com a migração da população jovem
para os meios urbanos em busca de melhores
oportunidades, trouxe muitas desvantagens
ao nível de abandono da atividade agrícola, do
envelhecimento da população nos meios rurais, da
perda de biodiversidade, ao aumento dos incêndios
florestais. O que fazer perante esta discrepância
entre cidades e meios rurais?

Criar a sua própria horta é, sem dúvida, uma forma
de contribuição para o desenvolvimento sustentável
a vários níveis, tais como o seu regular acesso
direto a produtos frescos mais saudáveis, menos
dependente de energias fósseis, assim como ser uma grande vantagem ao nível de qualidade de
vida, pois ao cultivar ao ar livre, está também
a fazer exercício físico e contribuir para a
sua terapia mental, originando um bom
escape ao stress do quotidiano, melhorando
o seu bem-estar físico e mental.

Um dos
maiores benefícios indiretos é sem dúvida a
sua ação para a manutenção da paisagem
que é um bem público e de todos e para a
manutenção e valorização da biodiversidade
dos ecossistemas agrícolas. Nesta época de
crise, acentuam-se estas iniciativas pois para
além das vantagens anteriores, há também
a da poupança na aquisição dos produtos
hortofrutícolas e eventualmente a criação de
alguma receita com a venda de excedentes.

Passatempo terapêutico

O fenómeno das hortas urbanas surgiu
nos países do norte da Europa, durante a
segunda metade do século XIX.
Na Alemanha, existem hortas urbanas
desde 1864. Na Dinamarca, o país europeu com a maior percentagem de hortas
urbanas, esta tradição remonta ao século
XVIII. Embora atrasado, em relação a
alguns países europeus, Portugal também
regista esse movimento.

Nos últimos anos começaram a surgir
hortas nos mais variados contextos.
Improvisadas na berma das estradas ou
ordenadas em projetos municipais, as
hortas fornecem necessidades económicas,
são um passatempo terapêutico e podem
ser uma ferramenta de inclusão social. Prova do crescente interesse que as hortas
urbanas suscitam é a promoção, por parte
das autarquias, de espaços comunitários.
Existem inúmeros exemplos de locais aos
quais poderá recorrer na procura do seu
talhão para cultivo.

Tipologias de hortas

Existem diversas tipologias de hortas,
de acordo com a sua finalidade e o tipo
de agentes envolvidos, nomeadamente hortas
comunitárias, escolares, familiares,
urbanas, terapêuticas, pedagógicas
e sociais.
No entanto, existem algumas
características que são comuns. Quanto à dimensão, normalmente, são divididas em talhões, têm pequena escala para permitir a doação
ao zelador/horticultor. No que toca à proximidade, são localizadas, geralmente, próximo das famílias, escolas ou comunidades.

Veja na página seguinte: Os produtos agrícolas produzidos

Nestas hortas são produzidos diferentes tipo de produtos agrícolas vegetais (legumes, frutas,
tubérculos, cereais, entre outras culturas).

Além disso, a instalação de hortas e o compromisso do seu cultivo regular contribui para a produção
regular dos produtos ao longo do ano.

Estas hortas, cada vez mais comuns, destinam-se sobretudo ao autoconsumo dos zeladores embora possa haver doação
a entidades de solidariedade social e/ou venda dos produtos em excesso.

Os custos de produção são mais reduzidos, devido às taxas cobradas de aluguer serem
simbólicas ou mesmo nulas, devido aos custos de mão de obra uma vez que são hortas
em regime de voluntariado. Finalmente, no que toca aos métodos produtivos amigos do ambiente, é de salientar que maioria é cultivada com técnicas mais amigas do ambiente, promovendo-se
a consciência cívica para a agricultura biológica, sustentável, com a inclusão da
compostagem dos resíduos das próprias hortas, com a não utilização de adubos
químicos ou de outros produtos com efeitos perniciosos para o ambiente e saúde.

Com estes benefícios espero ter conseguido suscitar o
interesse do leitor para criar a sua própria horta, ou aderir
a algum dos projetos que esteja a começar perto de si.
As hortas serão sem dúvida um benefício do amanhã.
Experimente.

Texto: Natália Costa (engenheira agrária e membro da Comissão da Manutenção da APEV - Associação Portuguesa de Espaços Verdes)