Raúl Violante era o representante da quinta geração à frente de uma empresa de artigos em madeira que, face às dificuldades económicas, foi obrigado a fechar portas.

«A situação já era delicada e as exigências da ASAE, que criou a ideia que tudo o que era de madeira era proibido na cozinha, da colher de pau ao rolo da massa, agravou tudo», refere o empreendedor. 

O empresário sentiu-se «derrotado, por estar a deixar morrer o negócio de família», assume. Mas, ainda assim, acreditou que as tábuas de cozinha e os rolos da massa não eram espécies em extinção e criou outra empresa do ramo, com dois antigos funcionários e pouco clientes. Pernes, no distrito de Santarém, outrora conhecida pelas unidades fabris de trabalhos em madeira, foi caindo perante a concorrência que chegou com a globalização. «Dos 600 postos de trabalho que havia, há cerca de 15 anos, hoje há cerca de 20 e metade são da Gradirripas», conta.

Do dia para a noite, criou mais sete postos de trabalho e comprou mais equipamento, para dar resposta a uma encomenda do famoso chef Jamie Oliver. A estrela de televisão não conhece pessoalmente Raúl Violante, mas o seu importador inglês contactou o empresário quando procurava tábuas de cozinha, a pedido do chef. «Tivemos sorte, porque é preciso sorte para nos acontecer uma coisa destas», acredita. Ele soube estar à altura do pedido.

«Fui buscar gente da terra, com 40, 50 anos, desempregados, mas experientes nesta indústria e eles vestiram a camisola», recorda Raúl Violante. A sua receita é simples. O preço competitivo, a qualidade e o cumprimento de prazos, «tantas vezes descurado», critica. Como sempre acontece nestas situações, assim que correu a notícia de que as tábuas que o apresentador usa são da Gradirripas, o negócio disparou e Raúl Violante, não se tornando uma figura pública, devolveu Pernes ao mapa e pôs meio mundo a falar dos seus utensílios de cozinha.

Os produtos portugueses que Jamie Oliver vende em Itália

Na empresa criaram-se novos modelos, a par dos oito feitos em exclusivo para os restaurantes de Jamie Oliver e para a loja online do seu site em Itália (Shop.jamiesitalian.com). São entre 50.000 a 60.000 unidades por ano que o chef vende entre 7,95 e 45 libras (cerca de 10 e 55 €). As suas tábuas viraram moda. «O ar rústico da madeira de pinheiro bravo (comprada a fornecedores registados que asseguram a reflorestação), tratada com óleos vegetais, sem quaisquer produtos químicos, tornou-se uma tendência», reconhece.

«Voltámos às nossas raízes que agora vão à mesa do hotel Ritz, do restaurante do Chapitô, da Bica do Sapato e do Mercado de Campo de Ourique, em Lisboa», diz o empresário. Também são da Gradirripas as tábuas e acessórios do programa de televisão «MasterChef Portugal», transmitido pela TVI, bem como o grande logótipo de madeira da imagem de exterior do programa televisivo. A pequena empresa de Raúl Violante tornou-se um caso de sucesso e já exporta para os EUA e para a Holanda.

E todos os dias surgem clientes. «Só é pena ter de vir de fora a valorização do que fazemos para que a qualidade seja reconhecida», assinala. Aos 64 anos, sente-se rejuvenescido, não só ele, mas o negócio do trisavô, que ganhou nova vida, assim como a equipa com quem trabalha, a quem deu a oportunidade de voltar ao ativo. Está cansado, ao final de mais um dia de trabalho, mas sente-se realizado. «Ainda hoje contratei mais um funcionário e já fui à procura de mais equipamento», regozija-se.

Texto: Sandra Nobre